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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

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Viticultoras, provadoras e um retrato do Dão. 5 mulheres nos bastidores do vinho

Da vinha à barrica e ao copo do provador. A viagem do vinho contada no feminino por mulheres que dedicaram a vida a estudar castas, a tratar da vinha e a certificar garrafas na ausência de rótulos.

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Vanda passou décadas a debruçar-se sobre as castas. Paula trabalha a vinha desde os 12 anos e Linda chegou a presidente da câmara de provadores de uma CVR. São exemplos de mulheres que cuidaram e cuidam do vinho nos bastidores, sem dar a cara — pelo menos, até agora.

A convite da produtora de vinhos Caminhos Cruzados — cuja história já aqui contámos — o Observador almoçou com mulheres que acompanharam a evolução dos vinhos no Dão. Região à parte, retratam o lado feminino num negócio que ainda se faz de homens.

Lígia cruzou-se com o vinho e mandou construir uma adega de design no Dão

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Vanda Pedroso – Investigadora

São 62 a caminho dos 63 anos. Vanda Pedroso, vestida com uma camisola escura de gola alta que engole o pescoço e de óculos encaixados no nariz, navega pelos corredores estreitos do Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas com relativa facilidade. Como se soubesse de memória os obstáculos que existem no caminho. Não precisa de olhar, não há risco de esbarrar contra o armário ou contra as prateleiras gastas. Trabalha ali há 38 anos e é uma das três funcionárias da casa. Daqui a uns meses, quando os outros dois colegas pedirem a reforma, será a única.

Nascida e criada em Lisboa, Vanda dedicou uma vida inteira ao vinho. Mais, às castas do Dão. “Daqui saiu o Encruzado”, atira ao mesmo tempo que nos mostra os laboratórios e os escritórios pejados de livros (um deles, “Portugal Vinícola”, está deitado sobre a mesa e data de 1900). O empurrão dado à casta branca — muito em voga por estes dias pela complexidade e textura que oferece aos vinhos — foi dado pelo centro que até 2007 desempenhou um importante papel ao nível da experimentação. Hoje, dita a lei, o trabalho é sobretudo informar.

Vanda Pedroso trabalha há 38 anos no Centro de Estudos Vitivinícolas de Nelas

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A história do centro — que ainda leva a alcunha “campo de aviação” porque, décadas antes, tentou-se aterrar na propriedade uma avioneta que “foi de focinho” — cruza-se intimamente com o percurso desta alfacinha de gema cujo “grande sonho” era a Arqueologia. As limitações dos tempos fizeram com que escolhesse Agronomia, curso que no terceiro ano levou-a ao encontro da viticultura e de uma paixão para a vida. “Quando fui para Agronomia disse aos meus pais que nunca ficaria na ‘horta’ da Praça do Comércio, isto é, não seria secretária. Queria trabalhar no campo, o que não era fácil, mas tive o apoio deles”, conta ao Observador.

Tanto queria o campo que, atualmente, é ela quem poda sozinha 1,7 hectares de vinha. A vinha de formação foi instalada nos terrenos em redor do centro de estudos com 91 castas diferentes que constam de uma lista publicada em 2014 (referente às uvas que correspondem às designações DOP Dão e IG Terras do Dão). O grande objetivo é conhecer o potencial delas e, como não há mais ninguém, é Vanda quem cuida das 7 mil plantas como uma mãe solteira cuida dos filhos.

No centro encontrámos um exemplar do livro "Portugal Vinícola", edição de 1900

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“Há trabalhos que não se veem”, comenta, referindo-se sobretudo à investigação que está por detrás da seleção das castas mais aptas a trabalhar. A senhora que é “anti Tinta Roriz”, como também é conhecida, explica que lhe compete responder às principais preocupações dos produtores: “O que é que posso dizer ao viticultor que quer mudar de castas? O que é que posso dizer quando me perguntam quais as uvas que devem usar? É esse trabalho de identificação do potencial das castas, quer do ponto de vista agronómico, quer do ponto de vista enológico, que temos tentado fazer ao longo dos anos”. Porque uma casta não é uma coisa uniforme, continua a explicar já a conversa chegou à adega de paredes e tetos enegrecidos pela humidade e pela falta de conservação. “Uma adega não deve ter nada disto. Mas pode ser que consiga chegar aos 75 anos daqui a dois anos”, comenta em tom de lamento.

Vanda conhece basicamente todos os produtores locais, “tirando alguns novitos que têm aparecido”, e é talvez a pessoa que melhor entende as vinhas da região. Ao fim de quase quatro décadas, perguntamos se é lisboeta ou nelense. “Eu sou uma arrivista, uma chegadiça. Era o que me chamavam ao início. Às vez digo ‘O que se seria de Nelas se não fossem os chegadiças e os arrivistas”.

Linda Sá Almeida – Provadora

“Para se provar tem de se gostar de vinho”, comenta Linda Sá Almeida enquanto nos mostra os dois ambientes onde trabalha, na CVR do Dão. O laboratório do qual é responsável, e onde faz as análises físico-químicas referentes ao vinho, e a câmara de provadores, de um branco imaculado, onde uma a duas vezes por semana se junta a um grupo de provadores para, em silêncio, avaliar os vinhos que lhes chegam às mãos — aos narizes e às bocas também.

A bata branca suja de vinho tinto é sinal de trabalho. Linda sabe disso e só a troca no momento de ser fotografada. Começou a trabalhar na CVR no início da década de 90. Primeiro no laboratório. Mais tarde tem a oportunidade de integrar em simultâneo a equipa da câmara de provadores, da qual chegou a ser presidente durante cerca de 5 anos. Até hoje não conhece outra mulher que tenha preenchido o mesmo papel nesta ou noutras regiões.

Linda foi presidente da câmara de provadores da CVR durante cinco anos. Não conhece outra mulher nesta posição

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Hoje em dia, é vice da câmara e continua a provar 24 vinhos a cada sessão — que começam sempre às 09h30 —, de maneira a determinar se estes se encontram dentro dos perfis de qualidade e se têm ou não defeitos para que possam ser certificados. Limpidez, evolução de cor, complexidade e intensidade aromáticas, equilíbrios acidez/doçura e adestringência/amargor. Tudo isso é avaliado. Poucas coisas se sabe sobre o vinho, além do ano de colheita e se é tinto ou branco, antes deste ser provado. É assim há vários anos. Linda nunca teve outra profissão que não esta — é seguro dizer que o seu palato acompanhou a evolução dos vinhos no Dão, bem como as muitas tendências de mercado. Esteve até à frente de um projeto da CVR para criar uma levedura indígena (que ajuda à vinificação) para usufruto dos produtores locais.

O gosto pela profissão fê-la querer conhecer mais sobre vinho, motivo pelo qual hoje permanece uma das cinco mulheres que integra o grupo de 20 provadores — cargo para o qual é preciso passar um ano em qualificação. Ainda assim, admite que não tem por hábito consumir vinho em casa. Mais facilmente partilha os rótulos que guarda na garrafeira com a família e com os amigos do que os abre sozinha. “O meu marido não bebe um copo de vinho sem eu cheirar primeiro”, admite. E os amigos fazem o mesmo. Não raras vezes acontece o empregado do restaurante dar o vinho a provar ao marido. Ele responde sempre: “Quem prova é ela”.

Graça Silva – Marketing

“O meu pai é beirão, a minha mãe do Algarve e eu nasci em Angola.” É assim que Graça Silva escolhe apresentar-se para espanto de todas as pessoas à mesa, já o almoço arrancou. Nem Vanda Pedroso, que a conhece há décadas, sabia dos laços familiares da “colega” que desde dezembro de 1979 trabalha na Comissão Vitivinícola Regional do Dão. Nunca ela teve outra entidade patronal. Entrou na CVR como escriturária-dactilógrafa, num tempo em que tudo era escrito à máquina. As valências foram adquiridas num curso profissional onde se aprendiam “as coisas mais básicas”, como bater à máquina e passar cheques. Aos 60 anos, diz que tudo começou com “uma brincadeira que era trabalhar”.

A brincar a brincar, Graça acompanhou a criação do departamento de marketing na CVR numa altura em que o importante era fazer e vender vinho. A ideia de comunicá-lo era uma realidade distante. “Fui começando por fazer as feiras internacionais e por apoiar alguns produtores que entretanto começaram a surgir e que não tinham muita noção do que era participar numa feira ou receber um jornalista. Hoje já é mais normal, mas na década de 90 estava tudo no seu início”, recorda. Há 30 anos eram poucos e poucas mas, garante, vestiam todos a “camisola de Portugal”.

Vanda ainda se lembra do slogan de 1993: "Novo espírito, velha região"

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Na altura, quando começou, tinha 20 e poucos anos e estava entre as “três mulheres no vinho” que existiam em termos institucionais. “Éramos três mulheres a fazer as feiras internacionais. Fazíamos a Prowein [que foi adiada na sequência do Covid-19], a Foodex [evento também ele cancelado], a London Wine Fair… Éramos nós que dávamos um bocadinho a cara numa altura em que havia muito poucas enólogas. Era realmente um mundo de homens”.

“Nós, algumas mulheres, fomos bem aceites no mundo dos vinhos sabem porquê? Porque atrás destas casas [quintas produtoras] havia sempre uma mulher e as mulheres adoravam trabalhar connosco. Elas acarinhavam-nos muito nestes meios mais machistas. Éramos sempre filhas delas”, continua.

De dentro da mala que trouxe consigo, Graça saca panfletos e brochuras de marketing de outros tempos, com estilo e linguagem mais formais. Num primeiro momento, mostra alguma relutância em mostrá-los. Afinal, são reflexos de outros tempos. Algumas das brochuras foram escritas à maquina por ela, não que precise de ler o conteúdo para se recordar. Na memória ficou-lhe ainda um slogan em particular, de 1993, “Novo espírito, velha região”.

Graça acompanhou o surgimento de produtores como a Quinta dos Roques que vai agora na sua terceira geração. Conheceu-os a todos. E conheceu também “14 ou 15 presidentes da CVR”. Eles foram e vieram. Ela ficou.

Paula Gonçalves – Viticultora

Aparentemente, se há coisa em que ninguém se entende são os viticultores em relação à poda. Paula foi lá pela experiência, sem qualquer formação, e hoje faz a coisa a olho. Mesmo que o viticultor do lado torça o nariz. Não é por mal, é mesmo assim. Mulher de Santar, a sensivelmente sete quilómetros de Nelas, desde cedo trabalhou na agricultura. Os pais viviam do campo e as posses eram poucas. Aos 12, Paula foi entregue às vinhas e durante quatro anos trabalhou de segunda a sábado. “Fazia tudo. Fazia a poda, a descava*, que agora muita gente já não faz, a levanta, as vindimas… e assim sucessivamente.” Sentada à mesa, já o almoço vai a meio, fala num discurso incisivo de um tempo em que dezenas de pessoas trabalhavam as videiras, quando ainda não havia fábricas que as levassem para trabalhos mais rotineiros. “O que é que havia?”, pergunta retoricamente. “A enxada!”

Paula é viticultora de profissão. Começou a trabalhar na vinha aos 12 anos

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De cabelo apanhado e rosto ligeiramente marcado pelo sol, a viticultura conta que o contacto com as uvas tiveram um intervalo de quase 20 anos. Apesar de nunca ter deixado de trabalhar as terras de família e de cultivar “batatas e cebolas”, houve um período em que se dedicou aos tapetes de Arraiolos e, mais tarde, ao negócio do pronto-a-vestir. De sorriso fácil, descarta-se com humildade quando alguém comenta “A Paula é muito boa em muita coisa”.

A liberdade do campo voltaria a chamar por ela e em 2013 viu-se tida e achada no meio das vinhas da produtora Caminhos Cruzados. Agora, ao invés da enxada, opta pela tesoura, a mesma que trouxe para nos mostrar e com a qual é fotografada em plena vinha. Mulher do campo, a cada disparo da lente apressa-se a tratar das videiras. Um corte ali, outro acolá. E mais um disparo.

Paula trabalha com mais seis homens na vinha, todos mais novos do que ela. É a única mulher e não se importa. “Porreiro, adoro!”, atira. “É verdade”, reforça para que não haja dúvidas. “Eu gosto de trabalhar com eles, são porreiros. Cada um diz as suas coisas e eu também, mas tudo com respeito e o dia corre bem.” Juntos trabalham 42 hectares, oito horas por dia, mesmo quando a chuva junta-se ao vento. Já se conhecem uns aos outros e “falam de tudo… e de todos”. “E se houver uma garrafinha, então ainda melhor… mas é raro!”. Já chegada “ao meio século”, e depois de anos a cuidar da matéria-prima dos outros, admite que vinho só rosé. Branco por vezes. Tinto nem por isso.

E porque é que gosta de ir para a vinha? “Prefiro ir para a vinha do que estar fechada. É diferente. As horas passam mais rápido. Um diz uma coisa, o outro vai rindo e, de repente, já é hora do almoço. Na adega, num dia de enchimento, as horas não passam, é sempre a mesma coisa.”

Carla Rodrigues – Enóloga

A Carla não lhe choca ouvir dizer que, na adega, as coisas se repetem. Metódica e organizada, a enóloga residente na Caminhos Cruzados passa grande parte do tempo na sala das barricas de rádio ligada. Na sala, no piso inferior da adega, faz frio e silêncio. A música aleatória é a companhia de eleição. Enquanto nos conta isso, é fácil de imaginar Carla a dançar descontraidamente, absorta da atenção de terceiros, de pipeta na mão a devolver ou a sugar vinho às barricas. Na verdade, o aparelho azul escuro aparenta ter sido inúmeras vezes usado — disputado também. “A sala das barricas é a minha primeira casa porque passo imenso tempo lá. Temos cerca de 180 barricas e é preciso fazer atestos todos os meses. Por vezes não temos colaboradores suficientes e ando a atestar sozinha, demoro uns três ou quatro dias. Levo o rádio aqui para baixo.” Volta e meia perguntam “Onde é que está o rádio?”. A resposta costuma ser “Está nas barricas!”.

Carla é a enóloga residente da Caminhos Cruzados desde 2014

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O vinho não foi chamamento, mas assim acaso, ainda que o nariz de Carla tenha desde logo angariado elogios. “O meu pai é caçador. Gostava muito de ir à caça e já na altura achava que eu tinha um olfato muito apurado. Ele até costumava dizer ‘Que engraçado, tu cheiras tudo. Vou levar-te para a caça, pareces um perdigueiro'”. Olfato à parte, à boca também não lhe chegaram logo grandes vinhos. Em tempos de faculdade apreciava vinho branco sem grande conhecimento de causa e não raras vezes escolhia a sangria porque “era docinha”. O palato viria a mudar com o tempo e com a experiência.

Aquela que se diz a segunda “dinossaura” da empresa, apesar dos seus 42 anos, começou por trabalhar na parte laboratorial. Após um estágio nas Caves Alianças seguiram-se 13 anos numa outra produtora bairradina, Companhia das Quintas, um período que lhe deu bagagem em três áreas distintas: laboratório, certificação de qualidade e, mais tarde, enologia. Desde 2014 que está envolvida no projeto que até conta com uma adega de design. Foi uma conversa com o também enólogo Manuel Vieira, na origem do remake da Caminhos Cruzados, que lhe abriu as portas. À empatia entre os dois somou-se a oportunidade de trabalho e a qualidade de vida: Carla deixaria, assim, de fazer 150 quilómetros todos os dias, ida e volta, entre casa e trabalho (Viseu e Anadia) para passar a fazer 46km.

Não dispensa o rádio na hora de atestar as barricas

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Ao contrário da colega Paula Gonçalves, que tem maior apreço pelo ar livre, a enóloga residente tem gosto pelos processos que constroem uma adega, desde a colheita da uva à venda do vinho em loja. “Às vezes posso ser exigente demais porque tenho de ter tudo direitinho e organizado. Dou um pezinho em todo o lado. Vou para a adega montar mangueiras, faço remontagens e colagens, recebo uvas e lavo cubas. Só me falta mesmo ir para a vinha.” Porque tudo começa na vinha.

*Segundo o IVDP, escava ou descava consiste numa “operação tradicionalmente efetuada entre outubro e dezembro que consiste em escavar à volta da planta para cortar as raízes superficiais, podando-a e preparando-a para a enxertia”.

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