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Westway Lab. Entre o palco e a tasca, este festival faz de Guimarães uma montra de música

O Westway Lab é um festival “showcase”, centrado na indústria musical, mas quer falar cada vez mais para o grande público. O Observador conta-lhe o que aconteceu há dias, na sexta edição.

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Tem 27 anos e cabelo louro pelas costas. Anda atrás de um sonho. É Terry O’Brien, guitarrista e vocalista da banda canadiana Tribe Royal, de visita a Portugal para tocar no festival Westway Lab, em Guimarães. Fomos encontrá-lo no bar Tribuna, no espaço do histórico Cinema São Mamede. Estava na companhia de três amigos de Otawa, mais ou menos da mesma idade, que também integram a banda. Conheceram-se em miúdos, frequentaram as mesmas escolas, viveram no mesmo bairro e tocaram por muitos anos em garagens, até que em 2014 deram início ao projeto atual. “O nosso som é indie rock, mas com influências vintage, gostamos muito do estilo dos anos 60 e 70, das harmonias vocais, do rock’n’roll e do folk rock”, descreveu o músico, acrescentando cinco bandas de referência: Beatles, Simon & Garfunkel, Crosby, Stills & Nash, Nirvana, Red Hot Chili Peppers.

Além da música, que já começa a ser profissão a tempo inteiro, Terry ganha a vida como jardineiro. Ou, melhor, faz design paisagista, a meias com Chris Kerwin, segundo vocalista e guitarrista do grupo. “Adoramos jardins e estudámos nesta área”, contou-nos. “Temos clientes particulares, normalmente pessoas mais velhas com jardins em casa, pequenos ou grandes. Vamos lá, percebemos onde nasce o sol, que tipo de utilização vão dar ao jardim, se os netos vão andar por lá, se querem construir uma piscina, se procuram apenas plantas tropicais, por aí fora.” Recorrem a alguns princípios de feng shui, mas não se consideram especialistas. “O paisagismo é também uma atividade criativa e por enquanto é assim que pago as contas.”

Tímido na conversa e enérgico como músico, tinha atuado na noite de sexta-feira, num mini-concerto com banda e público em cima do palco do Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, e disse-nos na tarde sábado, último e concorrido dia do Westway Lab, que a presença no festival foi “sem dúvida muito positiva”. De resto, o Canadá era país-convidado do festival, com a embaixadora Lisa Rice Madan a marcar presença numa receção oficial realizada no Paço dos Duques de Bragança, junto ao castelo de Guimarães. Além de Tribe Royal, vieram também Sarah MacDougall, Megan Nash, The East Pointers e Les Deuxluxes. Terão sido estes últimos, mais a cantautora italiana Violetta Zironi, a guitarrista de fado Marta Pereira da Costa e o minimalista japonês Tashi Wada a marcarem o festival, ora pela estranheza que provocaram (este último), ora pelo virtuosismo que exibiram (as duas primeiras).

A guitarrista Marta Pereira da Costa (Foto: Os Fredericos)

Acontece que os espetáculos – não apenas de música independente e não só eletrónica, ao contrário do que a imagem gráfica do evento pode sugerir –, não representam o que de mais importante aqui se passa. São apenas uma das componentes, porque este não é um festival convencional. Em sexta edição este ano, de 10 a 13 de abril, quarta a sábado, o Westway Lab é acima de tudo para profissionais da música, ponto de encontro entre quem escreve e toca e aqueles que agenciam, editam, distribuem ou programam. É um festival showcase, há cerca de 60 na Europa, este foi o primeiro em Portugal, com início em 2014, por iniciativa de Nuno Saraiva e Rui Torrinha (desde 2017 com a concorrência do Lisbon International Music Network — MIL). O figurino é idêntico ao dos muito conhecidos Eurosonic, na Holanda, a partir do qual se projetaram The Gift e Buraka Som Sistema, e Waves Vienna, na Áustria, que no passado teve Portugal como país convidado e exibiu Rodrigo Leão, Noiserv, Surma e muitos outros.

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Apresenta-se como festival de ideias, de conceitos, de debates, para estreitar relações entre criadores e indústria, tradicionalmente com interesses antagónicos, ou assim parece ser. A exportação da música portuguesa é o objetivo final: concertos lá fora, audiência nas plataformas de streaming e de vídeos, agenciamento, contratos. “Estamos a contribuir para a capacitação do talento e da indústria em Portugal, no sentido de os preparar para a internacionalização”, resumiu-nos Rui Torrinha, diretor artístico do Westway Lab. “Quem trabalha com as majors [editoras e distribuidoras multinacionais] tem outros recursos e outro suporte. Não excluímos esses criadores, mas apostamos mais naqueles que hoje têm poucos recursos.”

“Sei que não há receitas”

À dimensão “pro” o Westway Lab acrescenta a criação artística propriamente dita, com residências no Centro de Criação do Candoso, arredores Guimarães, as quais decorrem na semana anterior ao início do evento e cujo resultado é aqui apresentado ao vivo. Os Tribe Royal, por exemplo, estiveram em residência com Yosune, artista de world music. De resto, todos os que o Westway Lab leva ao Candoso devem formar duplas improváveis, que não se conheçam entre si.

“Há muitos caminhos possíveis para a internacionalização. Podemos ter a sorte de fazer um vídeo que se torna viral, podemos apostar no Spotify, mas também é absolutamente fundamental vir a estes eventos, para estarmos cara a cara com profissionais da indústria", diz Terry O'Brien, dos Tribe Royal.

Encontraríamos Yosune à porta do Tio Júlio, uma tasquinha vimaranense cuja decoração indica estarmos entre adeptos de futebol, do Vitória, claro. A cantautora, de 32 anos, disse-nos que nasceu na Venezuela, viveu em Espanha, França e no Brasil, está no Porto há dois anos e até há pouco tempo apresentou-se ao mundo sob outro nome, Yoyo Borobia, o que à partida já será história. Compõe letras e músicas sobre “como ultrapassar barreiras para alcançarmos o que desejamos” e descreveu-nos a colaboração com os Tribe Royal como “muito fluida”. “Cada dupla organizou-se da maneira que entendeu no Candoso. No nosso caso, tivemos sessões intensivas de trabalho nos primeiros dias. Estávamos o dia inteiro a compor, até tomávamos o pequeno-almoço juntos. E se a meio do dia estávamos cansados, ou se precisávamos de estar mais isolados, fazíamos uma pausa. Organizámo-nos sobre la marcha, como se diz em espanhol”, relatou a artista, muito comunicativa, a expressar-se em português.

Mas voltemos por instantes à conversa de sábado à tarde com Terry O’Brien. Perguntámos-lhe o que ganha a banda com a presença no Westway Lab. “Estamos a começar a frequentar este tipo de festivais, ainda é tudo muito novo, mas sabemos que queremos exposição internacional”, começou por responder. “Há muitos caminhos possíveis para a internacionalização. Podemos ter a sorte de fazer um vídeo que se torna viral, podemos apostar no Spotify, mas também é absolutamente fundamental vir a estes eventos, para estarmos cara a cara com profissionais da indústria. Já falámos com representantes de editoras, donos de estúdios, programadores, tem corrido muito bem. É preciso sair e fazer concertos na Europa, na América do Sul e na Ásia, só depois é que somos reconhecidos dentro de portas e deixamos de ser olhados apenas como banda de garagem.”

Opinião idêntica foi partilhada por Mister Roland, projeto em inglês do cantautor vimaranense Rolando Ferreira, mistura de folk e rockabily, com um EP editado em 2017 e um álbum de oito canções, “Trembling Giant”, acabado de sair. Atuou na noite de sábado num palco ao ar livre junto ao Centro Cultural Vila Flor, epicentro do festival, e deu uma cor americana ao serão, inquieto e melancólico, artista de guitarra numa estrada de pó a cantar alegrias e tristezas. Já tinha estado na residência artística do festival, em 2018, o que considera ter-lhe aberto a porta para se mostrar nesse mesmo ano no festival showcase Live At Heart, em Örebo, na Suécia.

Mickey no bar Oub'lá (Foto: Os Fredericos)

“Não diria que a minha cena musical se alterou por causa do Westway. A forma como encaro o mercado e a minha estratégia de comunicação, isso é que se alterou, ganhei uma visão mais profissional”, esclareceu Mister Roland, cujo percurso teve início em 2012. “Mas sei que não há receitas. Começo a perceber que um artista faz de uma maneira, outro faz de outra. Depende do tipo de público que se procura ou da mensagem que se quer transmitir. Por exemplo, ainda estou à procura de agenciamento, por agora sou eu que trato de tudo. Vai ser necessário dar esse salto, já tenho contactos. Penso que é preferível perder mais tempo a procurar a pessoa certa para me representar do que tentar uma qualquer que depois até pode não saber proteger o meu trabalho da maneira que espero.”

“Temos o momento e o espaço, nos próximos anos haverá abertura”

As possibilidades espreitam, o ânimo dos participantes existe. Ainda assim, o Observador acompanhou em permanência três dos quatro dias do 6º Westway Lab e encontrou um festival ainda à procura de identidade, o que, em certa medida, foi reconhecido por Rui Torrinha, numa conversa que tivemos no Bar da Ramada, junto à antiga Fábrica de Curtumes da Ramada, atual Instituto de Design de Guimarães.

“O Westway estará sempre em permanente construção, é pensado por módulos, uns que entram num ano, outros que entram no outro, e evidentemente não estamos aqui para contratar bandas de um lado e vender bilhetes do outro, não é esse o nosso objetivo”, analisou o diretor artístico. “Isto é uma maratona, não é um sprint. Para já, estamos a tentar falar para um núcleo de pessoas que entenda o que estamos a fazer e num segundo momento o festival tende a evoluir para uma abertura e para uma simplificação, para que mais pessoas entendam o que estamos a debater aqui a cada ano. Já temos o momento e o espaço, já estamos a criar diálogo muito específico entre pessoas da indústria, nos próximos anos haverá essa abertura.”

Provavelmente, ela abertura já começou. Se houve debate animado, com tema e intervenções que interessam aos de fora da indústria, foi certamente o de sábado ao fim da manhã, numa sala do Centro Cultural Vila Flor. Discutiu-se o “estado da arte” da música portuguesa e da sua internacionalização, com uma pergunta filosófica a dar o mote: “Onde estamos e para onde vamos?”.

"A questão não é o formato, mas ter sido alterada a forma como as pessoas passaram a ouvir música: deixaram de ouvir álbuns e passaram a ouvir faixas: 'tracks', canções isoladas, e 'feutures', temas com a participação de outros artistas”, começou por contextualizar Afonso Rodrigues, A&R da Sony Music Portugal. “Estamos todos a acentuar esta forma de editar a música e talvez não estejamos a trabalhar para mudar essa direção”, reconheceu.

António Cunha, da empresa de produção e agenciamento Uguru, vestiu o papel de moderador, mas não deixou de participar ativamente na discussão. Lançou várias perguntas: será que serviços de streaming como o Spotify, o iTunes ou o Deezer, mais as plataformas de vídeo, como o YouTube, ameaçam a diversidade de estilos musicais? Se sim, passaremos a ter apenas disponíveis nesses canais os artistas que alcançam audiências de milhões? A “ditadura tecnológica em que vivemos paira sobre a criação e condiciona-a, condiciona fortemente o espectador, a rádio, a gravação e os concertos”, defendeu.

Marcaram presença Afonso Rodrigues, responsável por artistas e reportório (A&R) da Sony Music Portugal, e os dois mentores do Westway Lab, Rui Torrinha e Nuno Saraiva. Estando em causa a relação dos criadores com a indústria da música, coube ao representante da Sony apresentar a sua versão e fê-lo com argumentos que terão agradado ao outro lado. “A grande questão já não é o desaparecimento do disco físico, porque já no passado tivemos o vinil depois o CD, depois o minidisc. As vendas de discos físicos têm caído de forma radical e aparentemente isso não tem reverso possível. A questão não é o formato, mas ter sido alterada a forma como as pessoas passaram a ouvir música: deixaram de ouvir álbuns e passaram a ouvir faixas: ‘tracks’, canções isoladas, e ‘feutures’, temas com a participação de outros artistas”, começou por contextualizar. “Estamos todos a acentuar esta forma de editar a música e talvez não estejamos a trabalhar para mudar essa direção”, reconheceu.

O público na sala, mais de duas dezenas de pessoas, parecia concordar. Para o A&R da Sony, “temos agora muito mais variáveis do que antigamente e já não basta ao artista ter uma boa canção e chegar à rádio para depois vender muitos discos e concertos”. Adivinhou um caminho possível: “Em Portugal, há artistas que só existem no YouTube ou só nos tops de streaming ou só no mundo físico [venda de CDs]. São mundos paralelos, mas separados. É raríssimo termos artistas com êxito no físico e no digital ao mesmo tempo. Por isso, sobretudo para os artistas mais independentes, o que poderá acontecer é a transformação do CD num produto de merchandising, tal como hoje se vende uma t-shirt.”

Os Tribe Royal

António Cunha, inconformado, insistiu: “Mesmo que o artista tenha qualidade, se a companhia achar que não é um artista de YouTube, será posto de lado?” Afonso Rodrigues respondeu que “não necessariamente”. A linha de A&R da Sony “é de continuidade”, afirmou. “Temos de apostar em artistas que funcionem bem no mercado digital, porque são os que têm impacto imediato, mas temos também de ajudar artistas ainda sem pegada digital, que não têm um milhão no YouTube, além de apostarmos noutros que, independentemente dos resultados, têm uma obra com importância histórica”.

O debate durou mais de uma hora, sempre em tom amigável. Tratou-se de perceber o que é que a tecnologia está a fazer aos hábitos culturais e se, com a ajuda dos principais agentes da indústria musical, ela irá moldar a criação a ponto de a distorcer. Tema, aliás, muito presente noutros momentos do festival, até nas conversas informais, com o certame a servir para aliviar a permanente tensão entre criadores de música com receio de descaracterizarem a sua arte e representantes de grandes marcas ou multinacionais à procura de talentos mas também de negócio.

“Há certos tipos de música que são recusados pelas rádios, porque não se apresentam em formato canção, que é o que as rádios hoje querem”, insistiu António Cunha, que os outros membros do painel tratavam por Tó. Disse mais: “Na música ao vivo, a tecnologia também está a mudar as coisas. Há espetáculos que utilizam muitas pistas pré-gravadas de instrumentos. Já não se chama ‘playback’, são ‘live tracks’. O artista tocas umas coisas ao vivo e as outras são disparadas por máquinas, o que está a descaracterizar os espetáculos”, porque as bandas fazem em palco o que está no registo de estúdio.

Nas próximas semanas, quando o dinheiro de Bruxelas começar a chegar, o projeto “Europe in Synch” vai percorrer vários países, incluindo Dinamarca, Luxemburgo, Eslovénia e Alemanha, e iniciar uma aproximação entre músicos e indústria audiovisual, prometeu o agente alemão.

Do público, um músico pediu a palavra e disse que é muito mais viável, porque mais barato, fazer uma digressão europeia com duas pessoas e um computador cheio de ‘live tracks’ do que com uma banda de seis elementos. “Temo que a tecnologia possa normalizar um espectáculo e torná-lo previsível”, contrastou Rui Torrinha. “Estamos a falar como se fôssemos forçados a estar com a tecnologia”, replicou Afonso Rodrigues. “A maioria das pessoas que hoje faz música acha que aquilo é a norma, os miúdos compram software e hardware para compor, não compram guitarras elétricas, essa é a linguagem natural para eles, é assim que se expressam.”

Direitos humanos em festivais de música

Além das ideias, também as soluções práticas estiveram sob o foco. Na manhã de quinta-feira, falou-se de “Contabilidade e Direitos Digitais” com Chris Chambers, um veterano de meia-idade com sotaque de Londres e currículo como “especialista em contabilidade de direitos de autor em grandes editoras de música”. Veio apresentar o software Backbeat, criado há sete anos para ajudar editoras, publishers e produtores a organizarem a gestão de cobranças: quanto recebem, de quais plataformas, como distribuir direitos. O Backbeat funciona com base em nuvens de dados e custa no mínimo 1400 euros por ano.

A ouvir a apresentação estavam Tiago Araújo e António Loureiro, da Red Mojo, uma empresa portuguesa de produção e edição por onde já passaram, por exemplo, Virgul, Blaya, Blasted Mechanism, April Ivy e Fernando Daniel. Disseram-nos que querem “estudar a coisa”. “Fazemos muitas vendas digitais, recebemos um valor do Spotify, outro do iTunes, outro do Deezer, e tudo isso tem de ser distribuído pelos artistas, mediante os contratos, por isso, acho que este software tem a vantagem de unificar o processo e centralizar tudo”, resumiu Tiago Araújo.

Outra solução prática: “Europe in Synch”, que na sexta-feira à tarde conheceu a primeira apresentação pública. Trata-se de um projeto de larga escala, com financiamento da Comissão Europeia e envolvimento de três estruturas: Thag’s Agent (empresa alemã de sincronização, isto é, de venda de música para cinema, TV e anúncios), Why Portugal (associação portuguesa para exportação de música) e Copenhagen Film Music (empresa dinamarquesa de sincronização). “Não basta termos uma bela canção que encaixa perfeitamente numa determinada série ou num filme publicitário, temos de conhecer o outro lado, entender o processo, e por estranho que possa parecer isso ainda não é muito comum”, explicou Markus Linde, da Thag’s Agent. “Todo o sucesso que hoje existe é fruto de esforços individuais, de sorte, de improviso, não há um sistema estruturado em torno da sincronização.” Nas próximas semanas, quando o dinheiro de Bruxelas começar a chegar, o “Europe in Synch” vai percorrer vários países, incluindo Dinamarca, Luxemburgo, Eslovénia e Alemanha, e iniciar uma aproximação entre músicos e indústria audiovisual, prometeu o agente alemão.

Conversas informais na Tasca Tio Júlio

Também de escala europeia, e também com participação alemã, deu-se a conhecer o movimento “Take a Stand”, de Fruzsina Szép, diretora do festival alemão Lollapalooza e uma das responsáveis da associação de festivais Yourope. Ela pretende espalhar mensagens relativas à defesa dos direitos humanos, sem atender a declarações ou tratados políticos sobre a matéria, apenas com a ética pessoal por base. “Pode parecer chato falar de direitos humanos num festival de música convencional, onde as pessoas estão para se divertirem”, reconheceu, “mas seja através de conferências nos próprios festivais ou através do envolvimento das bandas, queremos falar dos valores europeus em que acreditamos”.

Várias perguntas vieram de pessoas na assistência, com genuíno interesse no tema. E a conversa chegou ao tema dos patrocinadores que porventura não têm valores humanistas. Devem os festivais recusá-los; sem sim, como? Fruzsina Szép revelou que há não muito tempo ela própria conseguiu boicotar no Lollapalooza um cantor que tinha aparecido em público como apoiante do presidente americano Donald Trump, ao que o Observador lhe perguntou se não seria antidemocrática tal posição. A responsável pelo “Take a Stand” respondeu que não e comentou ainda que esta iniciativa não pretende dar uma face humana aos festivais, para que estes criem uma imagem simpática e assim atraiam mais pessoas. “Não. Acreditamos genuinamente nos valores humanistas”, rematou.

Êxito não se mede por audiência

O Westway Lab surgiu em 2014 por iniciativa da AMAEI e da Oficina. A AMEI é a Associação Profissional de Músicos Artistas e Editoras Independentes, ou seja, uma associação de músicos e editoras independentes, alternativa à Associação Fonográfica Portuguesa, esta ligada a grandes editoras. A Oficina é uma cooperativa sem fins lucrativos que desde 2004 tem um contrato-programa com a Câmara de Guimarães para gerir espaços e eventos culturais da cidade (incluindo o Centro Cultural Vila Flor e o Centro Internacional de Artes José de Guimarães, além do festival de dança contemporânea GUIdance e do Guimarães Jazz, entre outros). Isto numa cidade que foi Capital Europeia da Cultura 2012 e onde a Câmara Municipal aposta há décadas nas artes contemporâneas. Será a única autarquia do país que atribui à cultura 10% do orçamento municipal anual, o equivalente a 10 milhões de euros. Uma fatia importante vai para as atividades da Oficina, que por sua vez também angaria fundos europeus e financiamento privado. No Westway Lab deste ano foram despendidos entre 80 e 90 mil euros, informou Rui Torrinha.

“Todos os anos, os profissionais regressam e trazem mais pessoas, porque conseguem ter aqui um tempo de qualidade e fazer pontes de colaboração”, sustentou o diretor.

Do Westway, na cidade, dizem os organizadores, fica dinheiro que os visitantes deixam, ficam as colaborações artísticas que podem conduzir a outros voos e fica um farol de internacionalização e criação. Da edição 2019 ficam também na memória mini-concertos pela cidade, na tarde de sábado, que passaram pelo hotel Santa Luzia e pelos bares Convívio, Oub’lá, Ramada e Tribuna. Uma paleta de géneros para que o público experimente de perto as propostas dos programadores e circule pela cidade ao sabor dos seus gostos.

Dado o modelo de funcionamento do Westway, o êxito do festival não pode ser medido pela afluência de pessoas, disse-nos Rui Torrinha, mas por conquistas subtis, umas simbólicas e outras concretas. “Todos os anos, os profissionais regressam e trazem mais pessoas, porque conseguem ter aqui um tempo de qualidade e fazer pontes de colaboração”, sustentou o diretor. Por isso, “mais do que a obsessão pela escala e pelos números, apostamos na qualidade com que acolhemos os participantes e nas condições que damos às bandas”, completou. Com um sublinhado: “Somos dos poucos festivais showcase que pagam às bandas que aqui atuam.”

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