Com as atenções centradas em Chernobyl, este sábado o governo ucraniano anunciou que as forças russas se estava a aproximar da central nuclear de Zaporizhzhia junto ao rio Dniepre. Para muitos totalmente desconhecida até hoje, a verdade é que Zaporizhzhia é uma das quatro centrais nucleares ucranianas ativas. Rivne, Khmelnytsky e South-Ukraine são as restantes três e já há reatores nucleares desativados em todas elas.
No total, as quatro centrais nucleares têm 15 reatores, mas nem todos estão atualmente a operar. Até ao momento os relatórios feitos à Agência Internacional de Energia Atómica confirmam que a produção nuclear da Ucrânia se mantém “estável e em operação normal”, isto já depois de na sexta-feira ter sido confirmado que Chernobyl estava nas mãos das “forças armadas não identificadas”.
Chernobyl nas mãos da Rússia. O que acontecia se o material radioativo fosse libertado?
Este sábado os ucranianos soaram o alarme quando confirmaram a proximidade dos russos às instalações da maior central nuclear da Europa — e uma das maiores do mundo. Dizem os ucranianos que os russos “têm mísseis apontados às instalações”.
Dos 15 reatores nucleares há 10 “unidades de produção de eletricidade” estão a funcionar de forma “estável”. Segundo um comunicado da Energoatom — a Empresa Nacional de Geração de Energia Nuclear da Ucrânia –, em relação aos 15 reatores existentes o número 1 de Rivne e o número 2 de Khmelnytsky estão em “manutenção programada”, os números 5 e 6 de Zaporizhzhia foram “colocadas de reserva” para “garantir os limites da segurança operacional” e a número 3 da South-Ukraine foi desligada à 01:10 deste sábado.
No comunicado a empresa assegurava que “todas as centrais nucleares estão a operar normalmente e que a produção de eletricidade está estável, de acordo com o cronograma aprovado”. “As condições de radiação, incêndio e ambientais nas centrais nucleares e territórios adjacentes não mudaram e estão dentro das normas vigentes”, lia-se no comunicado de sexta-feira.
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Mariano Grossi diz que “a segurança das instalações e materiais nucleares na Ucrânia não deve, sob nenhuma circunstância, ser ameaçada“.
“Por enquanto, as centrais nucleares estão a operar normalmente e o material nuclear permanece sob controlo. É de extrema importância que continue a ser esse o caso e que os funcionários continuem aptos a realizar o trabalho vital sem qualquer pressão ou stress indevidos”, escreve o diretor-geral Grossi na atualização deste sábado.
Os alertas vêm depois. Um deles sobre Chernobyl: os trabalhadores que estavam de serviço no dia 24, quando os russos tomaram a central nuclear, ainda lá se mantêm e isso pode comprometer o normal funcionamento das instalações dado o acumular do cansaço.
Especialistas internacionais lembram que as centrais nucleares ucranianas têm um funcionamento semelhante ao das russas e que a estratégia de Putin podia passar por levar para a Ucrânia funcionários habilitados para assegurar o funcionamento das centrais nucleares, mas o facto de os russos terem mantido como reféns os trabalhadores de Chernobyl contraria essa opção estratégica.
Outro dos alertas fica para um dano já reportado pelos ucranianos à Agência Internacional, que aconteceu perto da cidade de Kharkiv, uma das que tem sido mais combativa e resistente à ocupação russa. Um “transformador elétrico num local de despejo de resíduos radioativos de baixo nível foi danificado” e o diretor-geral frisou que esse acontecimento — que não terá gerado a libertação de material radioativo– deve servir de alerta.
“Deve ser uma indicação clara e cautelosa da necessidade imperiosa de evitar pôr em perigo a segurança de qualquer instalação nuclear”, afirma Rafael Rossi no comunicado garantindo que a AIEA “continua a acompanhar de perto dos desenvolvimentos na Ucrânia com foco especial na segurança e proteção dos reatores nucleares”.
Os 15 reatores nucleares na Ucrânia produzem metade da energia que o país produz. Além da preocupação com os danos que as centrais nucleares podem sofrer nos confrontos, os especialistas comentam ainda a dificuldade de operação nas centrais, com os funcionários a optar por não ir trabalhar com medo de serem atingidos nas deslocações ou feitos reféns. Do outro lado, os bombeiros ou forças de intervenção que são ativadas sempre que algum incidente acontecem também podem não estar de prontidão uma vez que todos os civis foram chamados a combater os avanços russos.
Outro dos fatores que entra para a equação, de acordo com Edwin Lyman da ONG Union of Concerned Scientists, citado pela NBC, é a utilização da energia elétrica para arrefecer os reatores nucleares. Um hipotético corte do fornecimento de energia elétrica na Ucrânia podem comprometer o arrefecimento dos reatores, que ficariam dependentes de geradores a diesel para esse processo.
Caso o arrefecimento dos reatores seja comprometido há possibilidade de colapso ou incêndio. “O objetivo é manter o fornecimento de eletridicidade e permitir que os sistemas de arrefecimento funcionem”, afirmou Lyman.