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O que é a solidão?

A solidão é um sentimento provocado pela falta de contacto com outras pessoas — ou com as pessoas com quem gostaríamos de estar mais frequentemente. É também uma sensação que pode estar relacionada com a ideia de se estar isolado e pode interferir com a nossa qualidade de vida.

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Há vários tipos de solidão?

Sim. Os especialistas referem geralmente dois tipos de solidão: uma solidão social, caracterizada por menos relações com família, amigos e colegas do que aquelas que gostaríamos de ter, e uma solidão emocional, quando não temos relacionamentos de intimidade que permitam partilhas intensas.

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Sentir solidão é diferente de estar sozinho?

Sim. “Estar sozinho apenas nos indica que não está mais ninguém fisicamente presente”, diz a psicóloga clínica Luísa Ribeiro, professora auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa, onde é também investigadora no Centro de Investigação em Psicologia. “Nada nos diz sobre como a pessoa vive essa experiência. No fundo, podemos estar sozinhos e apreciar esse tempo.”

Por outro lado, sentirmo-nos sós — ou seja, sentir solidão —  pode acontecer quando estamos sozinhos mas também quando estamos rodeados de pessoas. “Podemos sentir solidão mesmo com um grande grupo de amigos ou familiares, quando não existe uma sintonia entre o que queremos e precisamos dessas relações e o que elas nos podem dar.” Por exemplo, quando, apesar de termos muita gente à nossa volta, “sentimos falta de quem nos ouça, compreenda e aceite como somos ou quando sentimos falta de nos podemos dar a conhecer, profunda e intimamente”, explica a psicóloga e investigadora.

 

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E o que é o isolamento social?

O isolamento social é o nome dado à “falta de contacto efetivo e persistente” com outras pessoas que acontece, geralmente, por razões involuntárias. Foi o que vivemos, por exemplo, durante a pandemia de COVID-19. E é o que acontece, frequentemente, a quem vive sozinho em sítios muito remotos ou pouco acessíveis. As pessoas em isolamento social têm mais probabilidade de sentir solidão.

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Como é que a solidão afeta a saúde mental?

A solidão prolongada tem um impacto muito significativo na saúde e pode ser um fator de risco para desenvolver uma doença mental. Um relatório publicado em 2023 pelo cirurgião-geral dos EUA [a autoridade máxima operacional de saúde pública do país, equivalente à Direção-Geral de Saúde em Portugal], refere que probabilidade de desenvolver depressão é mais do dobro entre pessoas que relatam sentir-se sozinhas com frequência, em comparação com aquelas que raramente ou nunca se sentem sós.

“Em termos psicológicos, a solidão aparece associada a stress, hostilidade, baixa autoestima, baixas capacidades comunicativas e sociais, depressão, ansiedade, comportamentos delinquentes, abuso de substâncias, demência, suicídio e ideação suicida”, diz Luísa Ribeiro.

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E o contrário? A doença mental também pode levar à solidão?

Sim. Muitas doenças mentais fazem com que os doentes se afastem dos outros. “Quando temos vergonha de partilhar o nosso sofrimento — ou quando o partilhamos e este é desvalorizado … isso aumenta o sentimento de solidão, o sentir que não podemos partilhar algo importante para nós, e que não somos aceites nem compreendidos.”

Isto leva a um círculo vicioso: a sensação de solidão pode levar à depresão e esta faz-nos afastar das pessoas que nos rodeiam. “Somos uma espécie altamente relacional, precisamos de relações emocionais satisfatórias para estarmos saudáveis.”

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A solidão também tem impacto na saúde física?

Quase toda a gente tem, por vezes, um sentimento de solidão. No entanto, quando ele é persistente e prolongado no tempo, é uma ameaça à saúde.

Por exemplo, estima-se que a solidão diminua a esperança média de vida de forma equivalente a fumar 15 cigarros por dia; está associada a doenças cardiovasculares, dor crónica, hipertensão e colesterol e é um fator de risco para a demência.

 

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Como se combate a solidão?

Retomar contactos com amigos e familiares, frequentar atividades de grupo, ir a sítios públicos, fazer voluntariado ou adotar um animal de estimação são conselhos gerais. Mas não servem a toda a gente, seja por limitações físicas, económicas ou psicológicas.

Quem se sente só com frequência, não está a conseguir mudar a sua situação e sente um impacto negativo no bem-estar e saúde deve procurar ajudar profissional — seja através de apoio psicológico, seja através de uma consulta com o médico de família, que poderá encaminhar para outras respostas sociais.

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Quantas pessoas são afetadas pela solidão? Há dados?

De acordo com um estudo recente da Comissão Europeia, 13% das pessoas na Europa sentem-se sós.

“Tradicionalmente associa-se a solidão aos idosos, pelas várias alterações que sofrem: saída do mercado de trabalho, perdas de familiares e amigos, perda de mobilidade, e todas as alterações físicas típicas do envelhecimento”, diz Luísa Ribeiro.

No entanto, a psicóloga esclarece que a investigação mais recente — incluindo a sua — aponta para o facto de também os adultos jovens sofrerem bastante com a solidão, nomeadamente em fases de transição, como o início da vida independente dos pais, a entrada no ensino superior ou no mercado de trabalho.

“Na realidade, todas as grandes alterações na vida dos adultos podem gerar solidão: divórcios, mudança de habitação ou trabalho, emigração ou saída dos filhos de casa.”