Em meados de março, saíram notícias que garantiam que o governo liderado por Volodymyr Zelensky teria banido 11 partidos da Ucrânia, em plena guerra contra a Rússia de Vladimir Putin. Correu muita tinta, quer em órgãos de comunicação social quer, também, nas redes sociais. Várias semanas depois, surgiu uma publicação de Facebook, do passado dia 12 de maio, que garantia que, por causa desta decisão — de “banir 11 partidos” —, “44% do eleitorado” já não está representado no Parlamento daquele país. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.
Primeiro, é preciso referir que, sim: de facto, Zelensky decidiu suspender a atividade de 11 partidos políticos, tal como divulgou num dos seus inúmeros vídeos. No entanto, para que toda a informação esteja corretamente identificada, é importante identificar de que partidos estamos a falar: são eles a Plataforma de Oposição — Pela Vida, o Partido de Sariy, Nashi, Estado, Bloco Volodymyr Saldo, Oposição de Esquerda, União de Forças de Esquerda, Partido Socialista Progressivo da Ucrânia, Partido Socialista da Ucrânia, Partido dos Socialistas e Bloco de Oposição.
Segundo a informação disponível e já partilhada por outros jornais nacionais e internacionais, o maior desses partidos, o Plataforma de Oposição Pela Vida, garantiu 43 dos 450 lugares do parlamento ucraniano nas últimas eleições. Quanto aos outros, pouca ou nenhuma representação teriam, sendo alguns, de facto, muito pequenos na expressão eleitoral a nível nacional. A justificação do lado de Zelensky foi a seguinte: as ligações entre estes partidos e a Rússia não permitia, sob a lei marcial, que continuassem a sua atividade em solo ucraniano. A confirmação dessa decisão foi aprovada pelo Parlamento ucraniano, por 330 votos a favor, no passado dia 3 de maio, tal como confirmado pelo Kyiv Post.
Ora, sendo certo que a alegação do afastamento destes partidos é verdadeira, não se pode dizer o mesmo relativamente aos supostos 44% de eleitores que deixaram de estar representados na Ucrânia por terem visto os deputados que ajudaram eleger afastados do palco parlamentar.
Apenas três dos 11 partidos banidos concorreram às últimas legislativas, que decorreram em 2019 — poucos meses depois de Volodymyr Zelensky ter conquistado a presidência da Ucrânia. Foram eles o Partido de Oposição, já anteriormente referido (a chegar aos 13% dos votos), o Bloco de Oposição, que conseguiu 3% dos votos — não conseguindo eleger ninguém a nível nacional mas sim a nível regional — e, por fim, o Partido de Shariy, que não conseguiu mesmo eleger ninguém. Em vários sites que seguiram estas eleições, alguns destes números acabam por nunca ser referidos, precisamente porque os partidos em questão não conseguiram eleger.
Contas feitas, a soma da presença parlamentar destes partidos não chega aos 44% alegados na publicação original. São 49 deputados para 450 lugares, o que perfazes cerca de 10% da representação parlamentar e, por isso, da representação eleitoral mais recente na Ucrânia.
Conclusão
É verdade que, por decisão do Presidente Volodymyr Zelenksy — e, depois, por ratificação do parlamento ucraniano —, foi aprovada este ano a suspensão da atividade de 11 partidos políticos na Ucrânia. Ainda assim, olhando para a publicação original, não é verdade que esses partidos representassem 44% do eleitorado ucraniano. Isto porque apenas três tinham assento parlamentar desde as últimas eleições legislativas, que ocorreram em 2019 — e porque essa representação não ia além dos 10%.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.