Por vezes, ao olharmos para cima, é normal vermos um rasto branco deixado pelos aviões que passam no céu. Esse efeito transformou-se, desde há muitos anos, numa das mais rebuscadas teorias da conspiração de que há memória — os chamados “chemtrails” são, alegadamente, agentes químicos ou biológicos largados por diversas aeronaves para envenenar os seres humanos. Ora, uma publicação de Facebook do passado dia 21 de maio alega isso mesmo. “Há mais de 30 anos que andamos a ser envenenados e ninguém quer reconhecer este facto.” Além de apresentarem este argumento, referem ainda que a responsabilidade desta descarga química é do filantropo e multimilionário Bill Gates — sem apresentarem qualquer prova para essa acusação. Trata-se, no entanto, de uma publicação já largamente desmentida e, por isso, falsa.
Nem mesmo junto dos especialistas esta teoria colhe aceitação. “A teoria de conspiração dos ‘chemtrails’ é apenas isso: uma teoria de conspiração, sem uma única prova científica que a sustente.” Quem defende esta tese é o professor de aeroespacial, Fernando Lau, do Instituto Superior Técnico de Lisboa ao Observador.
Mas se aquilo que é defendido não é verdadeiro, é necessário entender, então, o que são aquelas nuvens de fumo. A “esteira formada” resulta da condensação dos gases a altas temperaturas que saem dos motores dos aviões. “Estes gases em contacto com a atmosfera condensam formando as nuvens tão características que todos podemos observar ao longo da trajetória da aeronave. São formadas maioritariamente por cristais de gelo mas podem conter gases provenientes da combustão”, referiu Fernando Lau.
A verdade é que estas emissões que resultam da combustão do combustível podem ser encontradas noutros veículos: rodoviários, ferroviários ou até marítimos. E, segundo Fernado Lau, esses mesmos gases são monotorizados. “A preocupação em minizar é constante e crescente, procurando desta forma melhorar a qualidade de vida das sociedades modernas”, acrescentou. O professor do IST referiu ainda que uma das metas da União Europeia é chegar à neutralidade das emissões em 2050.
Ainda que muitas das publicações disponíveis na internet sobre os “chemtrails” possam parecer sustentadas, esta não é. Não há nenhuma referência a estudos científicos concretos por parte do autor nem outro dado que sustente aquilo que é alegado. Depois, tal como dito anteriormente, esta não é a primeira vez que esta teoria da conspiração surge nas redes sociais. Tanto a Reuters, bem como a Globo (que considerou uma publicação semelhante como falsa) ou o The Guardian — bem como outros órgãos de comunicação social — já se debruçaram sobre este assunto ao ponto de, por exemplo, o jornal inglês ter passado algum tempo com os conspiracionistas dos “chemtrails”. Em Portugal, o assunto já chegou mesmo a ser debatido no parlamento durante seis minutos, depois de uma petição sobre “rastos dos aviões” ter recolhido assinaturas suficientes para poder ser debatida pelos deputados.
E apesar desta teoria já vir desde a década de 1990 e de ter levado diversas instituições, como a Agência da Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos da América, a desmentir e verificar as informações divulgadas, a comprovação científica desta teoria continua a não existir. Mas há também universidades que já vieram esclarecer a falta de evidência científica relativa aos “chemtrails”.
A Universidade de Harvard, por exemplo, publicou um artigo onde refere isso mesmo: “A afirmação de que existe um programa secreto de larga escala que quer lançar gases para a atmosfera é extraordinária, no entanto, a evidência até à data tem sido muito fraca”, refere o artigo. No mesmo sentido, noutro artigo desta vez publicado pela revista Smithsonian em 2016,é referido uma conclusão de um estudo por parte de 77 cientistas ligados à área da atmosfera, onde se percebe que apenas um deles acredita que os “chemtrails” são reais. Esse estudo pode ser consultado e foi originalmente publicado na Environmental Research Letters.
Finalmente, é importante dizer que, embora a teoria da conspiração não se comprove, os gases libertados podem ser prejudiciais à atmosfera, tal como relembrado pela associação Quercus, num artigo publicado pelo jornal i em 2017. Ou seja, os gases podem mesmo ser poluentes e contribuir para o efeito estufa.
Conclusão
Não é verdade, nem nunca foi, que os “chemtrails” — termo utilizado por uma das mais antigas teorias da conspiração — são a prova de que os aviões libertam veneno à sua passagem com o objetivo de intoxicar os seres humanos. Não há, até ao momento, estudos e provas científicas que comprovem essa teoria. Vários órgãos de comunicação social já desmentiram esta tese espalhada um pouco por toda a parte desde a década de 1990.
Fernando Lau, da área de Aeroespacial do Instituto Superior Técnico, além de corroborar que não existe evidência científica para esta teoria esclareceu ao Observador que o efeito que se vê no céu resulta da “condensação de gases a altas temperaturas que, em contacto com a atmosfera, condensam, formando nuvens”.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook