Circula uma publicação nas redes sociais que garante que os carros elétricos são 1.850 vezes mais poluentes do que os habituais carros a combustível. O texto partilhado sugere um estudo que indica que os travões e os pneus das viaturas elétricas têm um consumo superior e libertam partículas que são mais danosas para o ambiente.

O estudo terá sido publicado pela Emission Analytics, uma empresa privada britânica que fornece dados sobre testes realizados a vários produtos vendidos em múltiplos setores dos mercados europeu e norte-americano. Só que no documento não são comparadas as emissões dos pneus de carros a combustível e a poluição resultante dos carros elétricos (porque os pneus são iguais, embora os veículos elétricos sejam mais pesados). Faz, sim, a comparação entre as emissões de pneus e as emissões dos tubos de escape. Acrescenta ainda o estudo que a libertação de partículas dos escapes “é muito mais baixa nos carros novos. Já as emissões de desgaste dos pneus “aumentam com a massa do veículo e a agressividade do estilo de condução”.

O estudo mencionado conclui ainda que as baterias dos elétricos, devido ao seu peso, pode resultar em “emissões de pneus quase 400 vezes maiores do que as emissões de um escape”. No entanto, acrescenta o documento que “é importante dizer que um condutor suave” de um elétrico, beneficiando da “travagem regenerativa, pode anular as emissões de desgaste dos pneus decorrentes do peso adicional do veículo”, obtendo um desgaste menor dos pneus do que um veículo a combustível.

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Na plataforma da empresa, podemos encontrar ainda outro artigo que realça precisamente o oposto do que é indicado nesta publicação. No documento pode ler-se que “veículos totalmente elétricos, veículos elétricos híbridos plug-in e veículos elétricos híbridos normalmente produzem emissões de escape mais baixas do que os veículos convencionais e zero emissões de escape quando funcionam apenas com eletricidade”.

No que diz respeito às partículas emitidas pelos travões, o Observador falou com Tiago Farias, professor na área de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, que explica que “os veículos elétricos têm um sistema de travagem muito diferente dos carros convencionais”, uma vez que, “a menos que seja uma travagem brusca”, os travões nem sequer chegam a ser acionados. O carro recorre a um sistema próprio em que é o motor que ativa a redução de velocidade, não necessitando, por isso, da utilização ou desgaste dos travões. São os chamados “travões regenerativos”.

Ainda de acordo com o químico de baterias Euan McTurk, em entrevista ao The Guardian, os travões dos carros elétricos “desgastam-se muito mais lentamente”. Quanto aos pneus, o material de fabrico relativamente a um carro elétrico é o mesmo, não havendo diferença no que diz respeito a emissões de partículas em comparação com um carro convencional.

No entanto, a Emission Analytics tem outro estudo publicado, em que fala sobre as emissões de dióxido de carbono a partir dos pneus, sejam eles de carros convencionais ou elétricos. No artigo pode ler-se que “os pneus produzem mais partículas do que os escapes dos automóveis”. À medida que o peso dos carros aumenta “as partículas tóxicas provenientes do desgaste dos pneus são quase 2 mil vezes piores do que as dos escapes”.

Quanto aos perigos para a saúde, os testes revelam que “os pneus produzem mais de 1 trilião de partículas ultra finas por cada quilómetro percorrido, ou seja, partículas mais pequenas do que 23 nanómetros”. Significa isto que estas partículas “são de especial preocupação para a saúde, pois o seu tamanho significa que podem entrar nos órgãos através da corrente sanguínea”. No entanto, o estudo fala na generalidade dos pneus, e não de pneus de carros a combustível vs pneus de carros elétricos.

Conclusão

De acordo com o estudo publicado pela Emission Analytics e também com as várias fontes consultadas pelo Observador, os carros elétricos não são 1.850 mais poluentes do que os carros convencionais. Em primeiro lugar porque os pneus são feitos da mesma matéria e, em segundo, porque os veículos elétricos têm um sistema de travagem regenerativo que permite que os travões sejam acionados menos vezes do que num carro a combustível. Ainda assim, há fatores variáveis no que diz respeito à sustentabilidade dos elétricos, relacionados com o ciclo de vida dos materiais que compõem cada veículo e da forma como são reaproveitados, seja para o fabrico ou para descarte, como é o caso das baterias.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

ENGANADOR: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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