Nas redes sociais abundam publicações que atestam que a Catedral de Notre Dame, em França, se tornou numa “casa de adoração satânica”, um “templo da maçonaria” ou mesmo “um templo anticristo”. A catedral francesa no centro de Paris reabriu no dia 7 de dezembro, cinco anos depois ter sido consumida por um incêndio.

“Transformaram a Catedral de Notre Dame, uma catedral belíssima que sobreviveu à Rebelião Protestante, à Revolução Francesa maçónica, à Segunda Guerra Mundial, numa casa de adoração satânica”, lê-se numa das publicações no Facebook, no início de dezembro, e que soma dezenas de gostos e partilhas. “Teria sido melhor se ela ardesse até ao chão”.

As teorias da conspiração em torno da catedral, a implicar que esta teria sido renovada com símbolos maçónicos ou satânicos, começaram a surgir pouco depois de terem sido divulgadas imagens da última visita de Emmanuel Macron à Notre Dame antes da reabertura, a 29 de novembro.

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Poucos dias depois, várias contas nas redes sociais, em particular no X e no Facebook, com ligações à extrema-direita ou pró-russas, publicavam alegações nesse sentido, como descreve o canal France 24, que dedicou ao tema um episódio da rubrica Truh or Fake, dedicada à verificação de notícias falsas.

As alegações que viralizaram online não têm, porém, qualquer fundamento, garante Alexandre Gady, historiador de arte e especialista em património cultural francês, em declarações ao mesmo canal de televisão. Desde logo porque os alegados símbolos satânicos e maçónicos que estes utilizadores afirmam que foram “secretamente acrescentados” à catedral durante as obras de renovação são, na verdade, todos restauros exatos dos originais.

Por exemplo, um utilizador na rede social X, que já difundiu informação falsa no passado, afirma numa publicação que o pavimento original da Notre-Dame foi substituído por um padrão axadrezado a preto e branco, o que, na sua opinião, prova o envolvimento maçónico nas renovações. De facto, muitas lojas maçónicas apresentam um pavimento de azulejos axadrezados, conhecido como “pavimento em mosaico”, já que o padrão terá um significado moral especial para a comunidade, com o preto e o branco a representarem o bem e o mal. No entanto, o chão da catedral de Notre-Dame foi simplesmente restaurado de acordo com o seu aspeto original. “O padrão [preto e branco] nos azulejos do chão é de 1769-1774, durante o reinado do Rei Luís XV”, esclarece Gady ao France 24.

Outra das histórias falsas sobre a adição de símbolos secretos à catedral que viralizou na internet tem que ver com uma pintura no topo de uma das abóbadas da Notre Dame. Dizem utilizadores online que a figura sobre o fundo azul estrelado é um símbolo maçónico. “Na realidade, a figura é Virgem Maria e o seu filho rodeados de querubins. A imagem foi pintada por volta de 1728-1729”, contesta a notícia no site do canal France 24, que publicou uma fotografia cuja data é anterior ao incêndio de 2019 e que prova que a imagem em questão já lá estava, desacreditando a tese de que tinha sido acrescentada durante as obras de renovação.

Conclusão

As alegações sobre símbolos maçónicos ou satânicos introduzidos na catedral de Notre Dame são falsas. Todos os símbolos já estavam no edifício e foram restaurados de acordo com o seu aspeto original.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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