A teoria circula pela internet há meses e é usada para corroborar ideias negacionistas: supostamente, o próprio CEO da Pfizer, Albert Bourla, não teria tomado a vacina da sua empresa, o que para estes utilizadores comprovaria os perigos de ser vacinado. “Óbvio que não, o CEO do McDonald’s também não come hambúrgueres”, comenta, no caso do post selecionado pelo Observador, este utilizador do Facebook.

O comentário acompanha o print screen de uma notícia publicada a 8 de julho titulada “Presidente da Pfizer não tomou a própria vacina; ‘tenho boa saúde’, alegou”. A aparência de notícia até poderia emprestar alguma credibilidade à história, mas a peça foi publicada no site “Brasil sem medo”, que se apresenta como “o maior jornal conservador do Brasil” mas é referido por vários jornais brasileiros como um canal de propaganda pró-Bolsonaro. O texto já não está, aliás, disponível no site.

Então o que disse, afinal, Albert Bourla? O rumor começou a circular apenas três dias depois de a vacina da Pfizer/Biotech ter sido aprovada pelas autoridades de saúde norte-americanas, a 14 de dezembro. Tudo porque, nessa altura, Bourla deu uma entrevista à estação norte-americana CNBC em que, questionado sobre se já tinha sido vacinado, admitia que não. Mas explicava porquê:

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Assim que puder, serei vacinado. A única sensibilidade aqui é que não quero furar a fila. Tenho 59 anos e boa saúde, não sou um trabalhador da linha da frente. Por isso, não é recomendado que tome a vacina agora. Isso é uma questão. Por outro lado, a nossa empresa fez muitos estudos para saber o que levaria as pessoas a acreditar na vacina. E um dos motivos mais fortes — ainda mais do que se Joe Biden for vacinado, mais do que se outros presidentes forem vacinados, é se o CEO da empresa for. Portanto, com isso em mente, estou a tentar arranjar forma de ser vacinado apesar de não ser a minha fase, só para provar a confiança da empresa (na vacina). Mas decidimos que se tivermos de fazer isso, não será com os nossos executivos. Eles tomarão quando for o tempo deles, de acordo com a idade e o tipo de ocupação.”

Já noutra entrevista, desta vez à CNN, o CEO da Pfizer explicava que a discussão estava a acontecer no comité de ética da empresa e que estava a ser tida em conta a recomendação do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos de que as primeiras doses deveriam ir para profissionais de saúde e residentes em lares: “Existem regras muito rígidas”, dizia então.

Certo é que, entretanto, Bourla até já foi vacinado e já tem as duas doses, ou seja, cumpriu o esquema vacinal completo. Não só a assessoria da Pfizer confirmou isso mesmo à Associated Press, por e-mail, como o próprio Bourla publicou uma fotografia no Twitter, no dia 10 de março, em que se mostrava a receber a segunda dose da vacina.

“Entusiasmado por receber a minha segunda dose da vacina Pfizer/BioNTech contra a Covid-19. Não há nada que queira mais do que [garantir que] os meus entes queridos e pessoas por todo o mundo tenham a mesma oportunidade”, refere o tweet.

Já depois de receber a vacina, sem “furar filas”, como tinha prometido, Bourla disse ao site Axios que se sentia “liberto” e aconselhava até a que as pessoas tomassem qualquer vacina, mesmo que não fosse a da Pfizer.

“Isto é uma pandemia. As vacinas que são aprovadas pelas autoridades de saúde são todas vacinas que cumprem o standard”, reforçou. “Se fosse esse o caso — poder ter uma vacina agora, qualquer vacina, ou uma vacina que preferisse daqui a dois meses —, eu escolheria a primeira opção”.

Conclusão

A publicação que alega que o CEO da Pfizer, Albert Bourla, não tomou a vacina produzida pela sua própria empresa é falsa. Não só foi criada a partir de uma afirmação descontextualizada — Bourla não tinha, naquela altura, sido vacinado, mas apenas porque não queria “furar filas” — como, entretanto, o CEO já foi vacinado com as duas doses e até recomenda que toda a gente seja vacinada, mesmo que não seja com a fórmula da Pfizer.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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