Poderá a vacina da Pfizer-BioNTech — que está a ser usada em vários países para travar a pandemia, Portugal incluído — causar danos à fertilidade das mulheres? E foi o chefe de pesquisa da farmacêutica norte-americana quem lançou o alerta? Uma publicação do Facebook alega isso mesmo: a vacina contra a Covid-19 é um caminho para a esterilização do sexo feminino e o aviso chega do interior da própria empresa.
No referido post — acompanhado pelo comentário “Combate-se um vírus com 0,01% de mortalidade com uma vacina que pode terminar com a humanidade…” — partilha-se a imagem de um artigo onde se explica por que motivo o medicamento pode levar à infertilidade. O título? “Chefe de pesquisa da Pfizer: vacina contra a Covid é esterilização feminina.”
O problema começa logo aí: não há qualquer ligação para o artigo original, não está assinado, nem sequer é atribuído a nenhuma publicação científica ou órgão de comunicação social. A única referência, sem nome, é ao chefe de pesquisa da Pfizer. Atualmente, é Mikael Dolsten quem ocupa o cargo de diretor científico e chefe de pesquisa na Pfizer Inc.
No Facebook, outras publicações semelhantes, e que partilham um texto mais longo, atribuem a autoria do artigo a Michael Yeadon, antigo investigador da Pfizer. Para além de já não trabalhar na farmacêutica e de não ser, portanto, chefe de pesquisa da Pfizer, o médico britânico é conhecido por fazer várias afirmações falsas sobre a pandemia. Além disso, é um dos colaboradores do blog “Lockdown Skeptics” (“Cépticos do Confinamento”), tendo recentemente afirmado, por exemplo, que a pandemia “acabou” no Reino Unido.
Voltando aos motivos para falar em infertilidade, no artigo partilhado no Facebook lê-se que a vacina “contém uma proteína chamada sincitina-1, vital para a formação de placenta humana em mulheres”. Além disso, argumenta-se que “a vacina leva a uma resposta imunológica contra a referida proteína, treinando o corpo feminino para atacar a sincitina-1, o que pode levar à infertilidade em mulheres por um período não especificado”.
Em várias partilhas do referido artigo, consta também uma petição apresentada por Michael Yeadon e Wolfgang Wodarg, um médico alemão, à Agência Europeia do Medicamento a exigir a interrupção dos testes clínicos da vacina da Pfizer na União Europeia até que mais dados sobre a segurança e eficácia da vacina possam ser fornecidos. Wodarg também é conhecido por desvalorizar a importância da pandemia e chegou a afirmar que o novo coronavírus não é mais prejudicial do que o vírus da gripe, tendo sido amplamente contestado por colegas seus alemães.
Os especialistas dizem, no entanto, que não existem quaisquer provas de que a vacina da Pfizer possa resultar na infertilidade ou ter um efeito de esterilização nas mulheres. Segundo a agência Associated Press, que cita Rebecca Dutch, chefe do departamento de bioquímica molecular e celular da Universidade de Kentucky, embora a sincitina-1 e a proteína spike do novo coronavírus partilhem algumas características, estas são bastante diferentes quanto aos detalhes que os anticorpos reconhecem.
Apesar de a proteína spike da Covid-19 e a sincitina-1 serem proteínas de fusão viral, não estão relacionadas de forma alguma, diz ainda Dutch à AP. Além disso, as vacinas desenvolvidas quer pela Pfizer/BioNTech quer pela Moderna dependem do RNA mensageiro (mRNA), que diz ao corpo como fabricar a proteína spike ao mesmo tempo que treina o sistema imunológico para identificar o vírus real, não contendo sincitina-1.
A AP cita também Jacob Yount, professor associado do departamento de infeção microbiana e de imunidade da escola de medicina da Ohio State University, que estudou as proteínas sincitina e também o vírus SARS-CoV-2. O investigador afirma que as vacinas contra a Covid-19 não contêm a proteína sincitina-1 ou o mRNA que codifica a sincitina-1 e, logo, não há qualquer razão para pensar que possa desenvolver-se uma resposta imune contra a sincitina-1 . “Não vemos infertilidade com a vacina da gripe, que também tem como alvo uma proteína de fusão viral de uma forma semelhante à proteína spike de fusão viral do coronavírus”, defendeu Yount à AP.
Atualmente, as mulheres grávidas não são aconselhadas a ser vacinadas contra a Covid-19, uma vez que ainda não há estudos suficientes que garantam a segurança do fármaco nesta situação.
Conclusão:
Falso. O atual chefe de pesquisa da Pfizer não disse que a vacina é esterilização feminina. Por outro lado, o medicamento da farmacêutica norte-americana não contêm a proteína sincitina-1 ou o mRNA que a codifica e, portanto, não há qualquer razão para pensar que possa desenvolver-se uma resposta imune contra a sincitina-1 que leva à infertilidade ou à esterilização das mulheres.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.