O uso das máscaras como método de prevenção contra o novo coronavírus continua a ser contestado um pouco por todo o  mundo. Nesse sentido, surgiu uma publicação  no passado dia 12 de novembro, com uma suposta notícia vinda de Áustria: “Um médico confirma que já existem dez crianças no hospital de Viena com uma infeção fúngica no pulmão por usar a máscara!” Atingiu as 216 partilhas. É, no entanto, uma publicação falsa.

Publicação viral alega que existem crianças hospitalizadas em Viena por causa do uso de máscara.

A publicação como foi publicada

“Parece-me inventado. Não conheço nenhum caso de infeção pulmonar fúngica causada pelo uso de máscara, nem complicações respiratórias em crianças ou adultos causadas pela máscara. Isso nem em Portugal nem em outros países”. É assim que Tiago Alfaro, professor auxiliar convidado de Pneumologia da Faculdade de Medicina de Coimbra e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, olha para a publicação original. O pneumologista explicou também que em relação a infeções pulmonares fúngicas, a mais frequente é a causada pelo Aspergillus, mas que “só ocorre normalmente em pessoas com défices graves de imunidade”. “O fungo aspergillus liberta esporos muito pequenos (2 a 3 micrómetros) que tendem a estar sempre presentes no ar à nossa volta. Não é possível evitar totalmente a exposição ao aspergillus, mas nas pessoas saudáveis essa inalação não traz doença”, afirma.

O mais importante é que, no caso de doentes imunodeprimidos, o risco de infeção com este fungo existe, sendo que o uso de máscara (neste caso P2) é recomendado “por precaução, quando não é possível evitar zonas com muito pó”, explica, citando as recomendações do Centro de Controlo de Prevenção e Doenças, instituição norte-americana. O que contraria completamente as informações que estão visíveis na publicação. Nesta situação a máscara evita males maiores, não é a causa para deixar crianças internadas em hospitais.

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Tiago Alfaro reforça ainda o seguinte: “A Direção Geral da Saúde (DGS) fez recomendações sobre como usar a máscara, incluindo não tocar na face externa após o uso e lavar ou desinfetar sempre as mãos antes da colocação e antes e após as remoção, mas essas recomendações dirigem-se ao coronavírus e não a fungos”. Mesmo no caso da recomendação para descartar máscaras húmidas, a informação não diz respeito a fungos, mas sim “à perda de eficácia na filtração da máscara quando fica húmida”, termina. Todas estas informações podem ser consultadas no site oficial da DGS.

Por outro lado, o autor da publicação não refere o nome do médico de que está a falar, nem explica em que hospital de Viena é que se encontram as 10 crianças referidas. Também não apresenta fontes ou artigos de notícias em que seja possível confirmar aquilo que está a dizer. Já a fotografia, após a utilização da ferramenta de identificação de imagens, Google Images, também não retrata nenhuma criança com infeção fúngica no pulmão. É uma imagem de stock já usada anteriormente, quer para ilustrar artigos sobre morte súbita nos mais novos ou outro tipo de doenças, como a leucemia.

A Agência France Press (AFP)  também verificou esta publicação, considerando-a como falsa, por não existirem evidências suficientes que confirmassem estes casos. Em Viena existem oito hospitais com capacidade para hospitalizar crianças, segundo os sites do Seguro de Saúde Austríaco e da Associação Médica de Viena. Como explica a agência, sete desses hospitais são administrados pela Associação de Saúde de Viena  sendo que, segundo a sua porta voz, Marion Wallner, não existe nenhum caso de uma criança com infeção nos pulmões. nesses estabelecimentos. Já quanto ao único hospital que não é gerido por aquela associação, o St. Anna Kinderspital, também confirmou que não existia nenhum caso associado.

Conclusão

Não é verdade que existam crianças hospitalizadas com infeção pulmonar fúngica em Viena. AFP verificou a informação da publicação viral e desmentiu, depois de ter contactado vários hospitais da cidade. O pneumologista Tiago Alfaro confirma que “não conhece nenhum caso de infeção pulmonar fúngica causada pelo uso de máscara, nem complicações respiratórias em crianças ou adultos causadas pela máscara”. O caso mais frequente de infeção pulmonar fúngica é provocado pelo Aspergillus, onde existe a recomedação do uso de máscara para doentes imunodeprimidos, o que contraria  o que é dito no post original.

Para terminar, convém referir que não é a primeira vez que publicações destas se tornam virais, com o objetivo de denegrir o uso de máscara. A 6 de outubro, a agência Reuters desmentiu que três crianças tivessem morrido por usarem aquele material de proteção na Alemanha.

Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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