Poucos dias antes da tomada de posse de Lula da Silva, que aconteceu a 1 de janeiro, começou a circular nas redes sociais uma tabela onde surgem os números de alegados crimes em que ministros e altos cargos escolhidos pelo novo Presidente do Brasil estarão envolvidos. Em 20 linhas e três colunas veem-se os nomes, os cargos dos novos responsáveis e centenas de “crimes”.

“Para os petistas [apoiantes do PT] ou outros que votaram no amor”, pode ler-se numa das publicações, numa referência ao apoio que surgiu no país para derrotar o Presidente que estava em funções, Jair Bolsonaro. “Lista de ministros criminosos do governo criminoso, mas Bolsonaro era questionado por colocar militares sem nem um processo contra eles! Vejam o quão ridículo é o posicionamento de quem vota do PT! O silêncio deles me envergonha!”, escreve outro utilizador do Facebook.

O governante que surge na tabela acusado de estar envolvido em mais processos é Sílvio Almeida, a escolha de Lula para o Ministério dos Direitos Humanos, com 542. Segue-se Flávio Dino, a opção para o Ministério da Justiça, que aparece na tabela com 277 processos, Camilo Santana, com a pasta da Educação, com 261 processos e Luís Marinho, escolhido para o Ministério do Trabalho, que estará envolvido em 230 crimes.

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São centenas de alegados crimes entre os nomes escolhidos pelo chefe de Estado brasileiro e, segundo a mesma tabela, só dois nomes estão limpos de qualquer crime — Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres, e Esther Dweck, com a pasta da Gestão e Inovação.

Uma pesquisa no site Jusbrasil, a que é possível aceder para confirmar a consulta de processos, bem como pesquisas de jurisprudência e até petições, é possível confirmar que a informação em causa não é verdadeira.

No caso de Sílvio Almeida, por exemplo, surge o nome associado a 548 processos — e não 542 como se lê na tabela. Na informação é possível perceber que a maioria dos casos é do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Porém, Sílvio Almeida é advogado e todos os processos em que o seu nome aparece estão espelhados naquela lista, não sendo isto qualquer prova de que é arguido ou até acusado nestes processos.

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O mesmo acontece com outros processos, com nomes de governantes a aparecerem naquela lista devido a representações eleitorais, ou até processos dos quais os novos nomes do governo são seus promotores e em que não estão acusados de crimes.

Flávio Dino, por exemplo, fez uma queixa-crime contra o senador Roberto Rocha, e esse é um dos processos que, segundo o site brasileiro Aos Fatos, é tido em conta no levantamento da tabela difundida nas redes sociais.

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Conclusão

Não há qualquer prova de que os governantes presentes na lista que está a circular nas redes estão acusados do número de crimes que lhes é atribuído. Pela proximidade entre o número de processos colocados na tabela e o site Jusbrasil é possível perceber que foi essa a fonte da informação, porém não é possível confirmá-la como factual, já que o número de processos não indica que as pessoas sejam acusadas ou sequer arguidas.

Neste caso, grande parte dos governantes são da área da justiça e surgem nos processos como advogados, por exemplo, mas há também casos de representações eleitorais que também surgem na mesma lista. É possível concluir que a informação divulgada está deturpada e foi retirada do contexto.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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