O antigo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe morreu no início de julho, vítima de um atentado durante um comício em Nara. As teorias conspirativas sobre a causa da sua morte já correm nas redes sociais, como esta em que o seu assassinato é relacionado com as opções políticas que tomou em relação à vacinação contra a Covid-19.

“Ex-primeiro-ministro assassinado não seguiu ordens do FEM [Fórum Económico Mundial]. Não tornou as vacinas obrigatórias, mandou para trás 1,6 milhões de doses e deu Ivermectina aos cidadãos. Faz sentido agora?”, questiona uma publicação que circula no Facebook relacionando os dois acontecimentos.

Abe renunciou, por razões de saúde, ao seu quarto mandato como primeiro-ministro em setembro de 2020, não era já o líder do Executivo japonês quando o país avançou com a campanha de vacinação, o que aconteceu em fevereiro de 2021. Logo em dezembro de 2020, o Japão já tinha encomendado vacinas para 60 milhões de pessoas da empresa farmacêutica Pfizer, 25 milhões da empresa de biotecnologia Moderna e 120 milhões de doses da vacina AstraZeneca. E nesse mês foi também aprovado no Parlamento um projeto lei que estabelecia a distribuição gratuita de vacina para 126 milhões de habitantes, numa altura em que começava a aumentar o número de casos no país. Neste momento, mais de 80% da população japonesa está totalmente vacinada contra o vírus que fez a Organização Mundial de saúde declarar a pandemia em 2020.

Mas a posição japonesa no combate à Covid-19 já vinha de trás, precisamente do mandato de Shinzo Abe, que assinou uma posição conjunta com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, em maio de 2020, onde reafirmou o compromisso “com a colaboração global e o financiamento sustentado para desenvolver e implantar medicamentos antivirais, diagnósticos, tratamentos e vacinas eficazes, a fim de torná-los disponíveis a todos a um preço acessível”.

O texto diz mesmo que os líderes lutariam para que uma “futura vacina COVID-19 se tornasse um bem comum global”, tendo-se comprometido a “acelerar a cooperação em investigação na área da saúde, saudando a assinatura da Carta de Intenções sobre o fortalecimento da cooperação em ciência, tecnologia e inovação”. O país está, neste momento, a administrar a terceira dose da vacina contra a Covid-19, num plano que decorre até ao final do mês de setembro.

Além disso, não existiu qualquer decisão do Governo japonês no sentido de medicar os infetados com o SARS-CoV-2 com ivermectina (um medicamento antiparasitário  que alguns médicos defenderam como eficaz no combate à Covid-19). Na lista de medicamentos aprovados no Japão no combate à doença não consta a ivermectina, como se pode constatar no site da agência do medicamento do país.

Quanto à morte do antigo primeiro-ministro do Japão, as causas do assassinato ainda estão sob investigação judicial. Até ao momento o que se sabe é que quem está a ser interrogado como autor do disparo é Tetsuya Yamagami, de 41 anos, que foi imediatamente detido depois do tiroteio. Fontes ligadas à investigação do homicídio, citadas pela Reuters, revelaram que o suspeito confessou ter matado Shinzo Abe pelos rumores que existiam sobre a sua eventual ligação a uma organização religiosa que, por sua vez, culpava pela falência da sua mãe.

Conclusão

As razões do atentado que provocou a morte do antigo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, ainda estão a ser investigadas. Abe foi defensor das vacinas contra a Covid-19, aliás, assinou mesmo uma posição conjunto com os líderes europeus, logo em maio de 2020, a comprometer-se com a investigação científica nessa área. Saiu de funções em setembro desse ano e o seu sucessor implementou uma campanha de vacinação que fez com que o Japão já tenha, nesta altura, mais de 80% da sua população totalmente vacinada. Além disso, a autoridade do medicamento do país não contempla o uso da ivermectina como um dos medicamentos usados para tratar a Covid-19. As alegações feitas nesta publicação no Facebook são, por tudo isto, falsas.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge