Ainda a sessão solene do 25 de Abril decorria na Assembleia da República já estava a ser publicada no Facebook uma publicação que afirmava que o “objetivo do governo é censurar a voz do povo”. Junto à afirmação aparecia uma imagem de Eduardo Ferro Rodrigues com um balão de fala que induz que o presidente da Assembleia da República afirmou durante o discurso no hemiciclo que era necessário “controlar a voz do povo nas redes sociais”. Ferro Rodrigues falou nas redes sociais no discurso, mas foi isso que disse?

Não. No discurso, o Presidente da Assembleia da República (aqui na íntegra) fala apenas uma vez em “redes sociais”. Depois de afirmar que “uma das grandes virtudes da Democracia e da Liberdade é a de permitir a convivência entre todos os credos políticos, incluindo os antidemocratas”. Logo depois, Ferro Rodrigues afirmou que se “contam por muitas centenas e atingem milhões de alvos” os “promotores de falsas notícias, de ódio, de desinformação, de calúnias e mentiras”.

“Uma das grandes virtudes da Democracia e da Liberdade é a de permitir a convivência entre todos os credos políticos, incluindo os antidemocratas. Nas redes sociais, os promotores de falsas notícias, de ódio, de desinformação, de calúnias, de mentiras, contam-se por muitas centenas, e atingem milhões de alvos. As caixas de comentários de alguns órgãos, ditos de comunicação social, são um esgoto a céu aberto. Esta não é uma realidade apenas nacional. Muito pelo contrário.”

A publicação que atribui a Ferro Rodrigues algo que não disse na sessão comemorativa do 25 de Abril

Depois de falar nas redes sociais, Ferro Rodrigues classificou ainda como “esgoto a céu aberto” as caixas de comentário de alguns órgãos de comunicação social. Mas está longe de considerar que se trata de um epifenómeno apenas português. “Esta não é uma realidade apenas nacional. Muito pelo contrário”, disse Ferro Rodrigues enunciando Espanha, França ou Itália como exemplos de países onde “aos poucos se vai enfraquecendo a Democracia, o Estado de Direito e a convicção por valores fundamentais”. Logo de seguida Ferro Rodrigues recordou ainda o que aconteceu em janeiro nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio.

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Diz Ferro Rodrigues que “não é fácil combater o discurso simplista dos antidemocratas; não é fácil combater a desinformação, a mentira, o medo”, mas acrescenta “que a Democracia de Abril é suficientemente resiliente para resistir a esta investida, e robusta o suficiente para a combater”.

Basta rever o discurso do Presidente da Assembleia da República para ficar claro que em momento algum Ferro Rodrigues disse que era necessário “controlar a voz do povo nas redes sociais”. O que fez foi alertar para os promotores de desinformação que proliferam nas redes sociais e para o perigo que isso representa para a democracia. Depreender daí que o Governo quer censurar o povo é ainda mais abusivo.

Conclusão

Não é verdade que Ferro Rodrigues, no discurso da sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República, tenha afirmado que é necessário “controlar a voz do povo nas redes sociais”, como se de censura se tratasse como a publicação no Facebook afirma. Ferro Rodrigues falou apenas por uma vez em “redes sociais” ao longo do tempo que discursou para alertar para a desinformação que é difundida através das redes sociais.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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