Nem os incêndios terminaram em Espanha nem a venda de terras queimadas por incêndios foi proibida durante 50 anos. A informação foi difundida também em Espanha e já foi desmentida inclusivamente pela agência de notícias AFP, mas não foi suficiente para impedir que chegasse às redes sociais de língua portuguesa.

Publicação no Facebook sobre proibição de venda de terra ardida durante 50 anos em Espanha.

Vamos a factos. Em 2015, entrou em vigor a “Lei de Montes”, que gerou alguma polémica uma vez que abre a possibilidade às regiões autónomas de, considerando “razões imperiosas de interesse público”, autorizar a construção em áreas ardidas sem respeitar 30 anos de intervalo. Ao contrário dos 50 anos que a publicação aponta, o período é de 30 anos e foi definido em 2006. Entre esse ano e o de 2015, foi interdita totalmente a construção ou a requalificação das áreas florestais ardidas para impedir, precisamente, que pudessem surgir imóveis onde anteriormente existiam áreas verdes.

Mas, entre 2006 e 2015, não houve incêndios em Espanha, como dá a entender a publicação? Não. Espanha é, aliás, um dos países da União Europeia mais afetados pelos incêndios, segundo a Greenpeace, com o ano de 2015 a ser especialmente devastador. De acordo com o relatório de incêndios da União Europeia do ano de 2018, entre os países do sul da Europa, Portugal liderava com 46% do total de incêndios (num grupo que reúne Portugal, Espanha, Grécia, Itália e França) e, logo de seguida, estava Espanha, com 27% do total.

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Já no ano passado, segundo o relatório da União Europeia, Espanha registou 424 incêndios (considerando os que queimaram, no mínimo, 30 hectares), com um total de área ardida de  66.405,55 hectares. Uma área que quase duplica a ardida em Portugal no mesmo período (34.661,4 hectares queimados nos 222 incêndios contabilizados).

De acordo com um relatório do governo Espanhol, que analisa o decénio de 2006 a 2015, destacam-se os anos de 2006, 2012 e 2015 como tendo sido especialmente difíceis, uma vez que a parte continental do país, em particular, atravessou “períodos de seca prolongados”. Entre 2006 e 2015, segundo os dados disponíveis, arderam mais de um milhão de hectares de área (arborizada ou não) em Espanha. Sendo que, entre 2006 e 2015, o pior ano foi o de 2012, com mais de 218 mil hectares de área ardida, seguido de 2006 (155 mil hectares) e 2009 (120 mil hectares).

Quadro do relatório do decénio 2006-2015 do governo espanhol ‘Los Incendios Forestales en España’

Conclusão:

Não houve nenhuma “arte da magia” que tivesse resolvido o problema dos incêndios em Espanha. É verdade que, durante vários anos, foi proibida a venda de área ardida ou a requalificação do terreno (de forma a impedir a construção), mas isso não diminuiu a zero a quantidade de incêndios. Entre 2006 e 2015, ardeu mais de um milhão de hectares de área florestal em Espanha, enquanto vigorou a proibição total de venda ou requalificação de terrenos queimados.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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