Nesta fotografia, na verdade, é quase impossível distinguir quem é o homem que aponta uma arma a duas mulheres indefesas. No entanto, a imagem a preto e branco, e de baixa definição, vem acompanhada de uma legenda que é, na verdade, uma acusação: “ESTA é a imagem de Che Guevara que devia ser vista em t-shirts.”

O guerrilheiro nascido na Argentina (obteve, depois, a nacionalidade cubana), que defendia ideias marxistas e anti-capitalistas, é o principal ícone da revolução cubana de Fidel Castro em 1959. Por isso, assim como pelas participações noutras guerrilhas e tentativas de golpe na América do Sul e Central, é considerado por uns um herói revolucionário e por outros um guerrilheiro violento, responsável por algumas execuções e abusos após a revolução cubana.

Uma coisa é certa: é uma figura histórica cuja imagem se tornou literalmente um póster da revolução, impressa em quadros, telas, t-shirts. E é nessas t-shirts — onde na imagem mais repetida surge de boina, como o homem da fotografia — que este utilizador do Facebook sugere ironicamente que se coloque a suposta imagem de Ernesto “Che” Guevara aparentemente pronto para executar duas mulheres desarmadas. O problema é que a fotografia não é de Che — nem sequer de uma cena real.

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O mistério desfaz-se rapidamente. Por um lado, não se encontra, numa pesquisa revertida em várias ferramentas online para encontrar a origem da imagem, qualquer artigo ou texto histórico que comprove a veracidade dessa identificação — aliás, a maior parte das referências à fotografia são de textos a desmentir que se trate do guerrilheiro de Cuba.

Na verdade, o único site em que a imagem aparece sem estar associada a este boato é o site do Comité de solidariedade com o Povo de El Salvador, em que a legenda esclarece as condições em que a fotografia foi tirada: trata-se de um “teatro” feito na Emory College, uma universidade localizada em Atlanta, Estados Unidos, e focada sobretudo nas Artes.

Para mais, a fotografia, segundo a mesma legenda, foi captada em março de 1989, por um “fotógrafo desconhecido”. Significa isto que foi tirada mais de 20 anos após a morte do guerrilheiro, que morreu a 8 de outubro de 1967 na Bolívia, onde comandava a Guerrilha de Ñancahuazú e acabou por ser capturado e executado pelo exército boliviano.

Ao site Check Your Fact, o arquivista da Universidade de Emory, John Bence, explicou por e-mail mais alguns detalhes sobre o contexto em que a cena aconteceu. “Era uma representação teatral que aconteceu no campus de Emory para chamar a atenção para as crises humanitárias criadas pela guerra em El Salvador e Guatemala e o envolvimento do exército norte-americano nessa guerra”, explicou, fornecendo ao mesmo site um recorte do jornal da universidade desse ano.

No texto fica claro que a “Guerrilla Theatre”, como chamaram à cena, se tratou de uma recriação de uma cena de guerra e envolveu mesmo atores.

Conclusão

O homem que está de costas na fotografia não é Ernesto “Che” Guevara. Na verdade, a fotografia foi tirada numa representação feita numa universidade norte-americana sobre os efeitos dos conflitos na América Central e do Sul, mais de vinte anos depois da morte do guerrilheiro.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

 NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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