Uma publicação no Facebook descreve como a gripe espanhola surgiu depois de uma vacinação em massa em Fort Riley, no Kansas, Estados Unidos. De acordo com este post, tratou-se de uma experiência militar que constituiu uma “oportunidade única” para a indústria farmacêutica, patrocinada pelo Rockefeller Institute for Medical Research: “Um grande suprimento de cobaias humanas fornecidas pelo primeiro recrutamento militar dos EUA.”

Ainda de acordo com este utilizador de Facebook, “tempos depois, as autópsias após a guerra provaram que a gripe de 1918 NÃO era uma ‘GRIPE’”. Segundo o autor do post, aqueles casos de gripe teriam sido causados “por dosagens aleatórias de uma ‘vacina contra a meningite bacteriana’ experimental, que até hoje simula sintomas semelhantes aos da gripe. Aqueles que não foram vacinados não foram afetados.”

A publicação termina com uma pergunta retórica, numa alusão à atual campanha de vacinação contra a Covid-19: “Percebe como a história sempre se repete? O que muda é apenas a geração!”

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A chamada “Gripe Espanhola” foi a mais severa pandemia da história recente e, ao contrário do que indica a publicação, foi causada por um vírus H1N1, de origem aviária — tal como comprova a Organização Mundial de Saúde. Estima-se que tenha causado a morte de 20 a 50 milhões de pessoas entre 1918 e 1919.

Também o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos dedica uma secção do seu portal a esta doença. Aqui também é indicado o H1N1 como o causador da pandemia, sendo explicado, no entanto, que não existe “um consenso universal” sobre a origem do vírus, que se espalhou por todo o mundo e terá infetado um terço da população mundial.

É verdade que foram feitos testes à vacina contra a meningite em Fort Riley — administrada a 3.700 voluntários— e que foi aqui que se registaram os primeiros casos de gripe espanhola, mas o consenso científico é que esta vacina não pode ter causado uma pandemia de gripe.

O vírus H1N1, que originou a gripe espanhola, foi identificado e replicado por cientistas. Esta conclusão é fruto de estudos e provas recolhidas ao longo de décadas, cuja história está contada em detalhe no portal do CDC.

A vacina da meningite foi desenhada para atacar uma bactéria específica (meningococcus) e uma doença completamente diferente.

Não há qualquer forma de a vacina da meningite ter contribuído para começar uma epidemia de gripe. A meningite é uma doença diferente, causada por um tipo de bactéria. Não é geneticamente semelhante à gripe. A gripe é um vírus, um micróbio muito mais pequeno que a bactéria. São tipos de microrganismos totalmente diferentes, que causam tipos totalmente diferentes de doenças”, disse à Reuters Donald Burke, epidemiologista e antigo reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh.

A agência de notícias canadiana também se debruçou sobre esta questão e consultou diversos especialistas e documentação, já que a publicação de Facebook que aqui colocamos em português é semelhante a outras que têm circulado, noutras línguas, nas redes sociais.

Também o exército norte-americano reconhece que os milhares de soldados que morreram em Fort Riley em 1918 foram vítimas de um surto de gripe.

Conclusão

A publicação é falsa. Apesar de terem sido feitos testes à vacina da meningite em Fort Riley, no Kansas, onde os primeiros casos de gripe espanhola foram identificados, é consensual entre a comunidade científica que não há qualquer relação entre as duas coisas. Trabalho científico de décadas comprovou que a chamada gripe espanhola foi causada pelo vírus H1N1.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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