Uma publicação de Facebook, de dia 1 de fevereiro, partilhou uma imagem de uma alegada temperatura recorde da Gronelândia. “Recorde de temperatura de -62,4ºC.  Se fosse num deserto americano com um valor de 50ºC, teria sido difundido em toda a comunicação social”, refere o autor. Essa temperatura terá sido, aparentemente, registada no passado dia 31 de janeiro deste ano. Trata-se, no entanto, de uma publicação enganadora.

Publicação viral alega que foram registadas temperaturas inéditas na Gronelândia.

O Observador consultou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para perceber se estes dados estão corretos. Sendo uma questão difícil de avaliar, até porque seria necessário consultar os dados recolhidos nas estruturas de medição térmica instaladas na própria Gronelândia, o IPMA aponta noutra direção: “Segundo dados da Organização Metereológica Mundial [que podem ser consultados na página oficial], já foi registado o recorde de -69,6º C no dia 22 de dezembro de 1991, temperatura bem mais baixa do que a temperatura reportada”. Ou seja, aquilo que é alegado na publicação está, à partida, errado.

Quanto à temperatura na Gronelândia, o IPMA garante que, “se se registou naquele dia em particular, seria necessário uma análise mais cuidada e aceder aos dados da estação da Gronelândia, o que não é fácil”. Aquele instituto avança assim a hipótese de aquelas temperaturas terem sido registadas naquele dia, mas sem certezas. “É bem possível, mas o que a publicação refere é o output de modelo númerico de previsão do tempo que, como sabemos, tem erros, em particular na previsão de valores tão extremos”, refere.

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O IPMA recomenda ainda a consulta das imagens da Modis de Land Surface Temperature (sensor a bordo do satélite de órbita polar da Terra da Nasa) que mede as temperaturas por satélite, ou seja, a partir do chão e não do ar. “De facto, a zona a lilás indica temperaturas muito baixas de cerca de ~203 K (-70ºC)”, finaliza.

Mas a publicação não se limita a referir que determinada temperatura, vários graus abaixo de zero, foi registada na Gronelândia. O autor do post faz essa afirmação para contestar a ideia de que o planeta possa estar registar um aquecimento global como consequência das alterações climáticas. É isso que significa a segunda frase da publicação, quando se sugere que, “se fosse num deserto americano com um valor de 50ºC, teria sido difundido em toda a comunicação social”.

Fact Check. Vaga de frio no Texas mostra que aquecimento global não existe?

Ora, como já explicou o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável ao Observador, a propósito de um fact check anterior sobre este mesmo tema, um fenómeno de temperaturas particularmente baixas não serve para desmontar a tese científica por detrás do aquecimento global no planeta. Filipe Duarte Santos explicava, então, que com a maior absorção de energia solar no Ártico, provocada pelas alterações climáticas, a temperatura daquela região aumenta. E acrescentava que, apesar da subida da temperatura média da Terra, as alterações climáticas não são apenas caracterizadas por eventos de extremo calor (nem por períodos de calor mais prolongados ou ‘fora de época’). O cientista sublinha que o aquecimento global também traz consigo eventos de frio extremo, como foi o caso do Texas.

Conclusão

Não é certo dizer que a Gronelândia tenha registado recentemente temperaturas recorde a rondar os 60ºC negativos. Esse recorde foi alcançado, no mesmo país, nos anos 90, como confirmado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Ainda assim, o mesmo instituto, refere ao Observador que existe a possibilidade dos valores divulgados pela publicação terem sido alcançados, ainda que necessitem de uma análise mais aprofundada e técnica.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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