Com a atenção mundial presa ao conflito na Ucrânia, várias publicações que têm surgido recentemente no Facebook mergulham na história recente do país. Uma fotografia que está a ser partilhada retrata um grupo de pessoas sem roupa, com claros sinais de desnutrição — uma imagem que costuma ser associada à falta de condições humanas que se verificava nos campos de concentração.
Na legenda está escrito “não é Auschwitz… São ucranianos, sob o regime comunista, 7.000.000 de mortos. O Holodomor não é abordado nas aulas de história. Porquê?”. O rodapé acrescenta mesmo que “em apenas 1 ano (1932-1933) Stalin matou de fome sete milhões de ucranianos. Os partidos celebram a Revolução Russa, sem nenhum pudor, sem nenhum ressentimento”.
O Holodomor (palavra ucraniana que significa “morte pela fome”) refere-se à fome provocada pelas políticas conduzidas pela União Soviética e que vitimaram milhões de ucranianos (mas não só), em particular no período entre 1932 e 1933. É um tema polémico e o Consórcio de Pesquisa e Educação de Holodomor sublinha que a União Soviética sempre negou estes acontecimentos.
Relativamente à publicação em aqui análise, a ferramenta “Google Lens” permite fazer uma pesquisa com a imagem partilhada. E é através dessa pesquisa que se encontra o documentário com o título “Noite e Neblina”. E edição de 2019 do Doclisboa chega a apresentar o filme francês (com o título original Nuit et Brouillard) na secção de filmes sobre a Alemanha de Leste e a queda do Muro de Berlim.
O documentário foi realizado pelo francês Alain Resnais, em 1955, para assinalar os 10 anos da libertação dos campos de concentração do regime Nazi. A curta-metragem está até disponível no Youtube, tem a duração de 30 minutos e combina imagens de arquivo a preto e branco e imagens a cores, gravadas por Resnais em vários campos, descrevendo o seu funcionamento.
A imagem que está a ser partilhada nas publicações do Facebook pode ser encontrada aos 14 minutos e 30 segundos do documentário de Alain Resnais, que foi gravado com recurso a imagens de arquivo alusivas a campos de concentração nazi.
A pesquisa pela imagem remete também para o Arquivo Nacional Alemão, com a informação de que foi tirada no campo de concentração nazi, na Áustria, em Mauthausen, entre 1941 e 1944. É uma imagem que retrata “prisioneiros de guerra soviéticos em frente ao quartel”. Contactado pela agência de notícias France Press, o Memorial de Mauthausen garante que a fotografia em questão é “comprovadamente” deste campo de concentração e “não tem nenhuma conexão com o Holodomor”.
Mesmo o número de mortos alegado na publicação, os sete milhões, não corresponde aos dados acordados pela maioria dos historiadores. Apesar de ser impossível determinar o número de vítimas, os estudos mais detalhados estimam que o número de mortes chegue a 3,9 milhões.
Conclusão
Não há qualquer relação entre a imagem que está a ser partilhada em algumas publicações no Facebook com o Holodomor. A imagem é retirada de um documentário, “Noite e Nevoeiro”, que retrata a história dos campos de concentração na Alemanha Nazi, em específico o campo de concentração em Mauthausen.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook