Uma publicação no Facebook mostra a foto de uma mulher e acrescenta, na legenda, a informação de que se trata da “ministra da Saúde do Japão”, cuja imagem teria sido “modificada por IA [Inteligência Artificial]” — uma referência às características fisionómicas da suposta ministra. Noutros casos, essa referência à IA não é, simplesmente, feita e os autores dos posts limitam-se a acrescentar comentários sobre a aparência da ministra, como se de facto as imagens mostrassem a governante nipónica.
Se, no primeiro caso, a formulação pode ser enganadora (e há vários comentários que indicam que a informação foi apreendida como sendo verídica), nos restantes casos está em causa uma mensagem com conteúdo integralmente falso e que acaba por ter o mesmo resultado: induzir em erro os utilizadores daquela rede social.
Na verdade, a verificação da veracidade deste conteúdo é bastante simples de fazer: uma busca pelas palavras-chave “health” (saúde), “minister” (ministro) e “Japan” (Japão) num motor de busca devolve respostas que imediatamente deitam por terra a informação difundida nos posts já referidos.
O responsável do governo japonês pela área da Saúde (e também do Trabalho e Bem-Estar) chama-se Katsunobu Katō, é um homem, tem 67 anos e, na atual legislatura, assumiu funções em agosto de 2022. Antes, já tinha estado no cargo entre setembro de 2019 e setembro de 2020 e, ainda, entre agosto de 2017 e outubro de 2018. É também essa a informação que consta no site oficial do governo japonês liderado por Fumio Kishida e que tomou posse em outubro de 2021.
Quanto à imagem da mulher nas publicações analisadas, e que é apresentada como ministra do Japão, foi gerada com recurso a Inteligência Artificial — ao mesmo tempo, uma pesquisa pela origem da imagem remete para uma série de sites com conteúdos para adultos, nalguns casos acompanhada da indicação (também ela falsa) de que se trataria de uma “política sul-coreana demasiado sexy”.
Numa primeira busca pela origem da imagem, obtêm-se resultados de conteúdos publicados em maio de 2023 no site de língua russa Pikabu. De acordo com um artigo do Meduza, um meio de comunicação independente também em língua russa (e com sede na Letónia), o Pikabu tem sede em Moscovo e é, atualmente, uma importante fonte de acesso a informação (não verificada) por parte das gerações mais novas na Rússia. De publicação livre, o site hierarquiza os conteúdos ali publicados através de um sistema de votação dos próprios utilizadores.
Mas uma pesquisa mais apurada permite chegar à verdadeira origem da imagem: uma conta no Twitter do utilizador @AIkawa_AIko_jp2, que se apresenta como autor de imagem criadas com recurso a Inteligência Artifical e que pede aos seus seguidores que sugiram novos conteúdos para serem gerados.
A 26 de abril deste ano, este utilizador publicou uma das imagens que estão a ser difundidas como retratando a ministra da Saúde do Japão (a própria imagem da conta no Twitter corresponde ao conteúdo verificado neste artigo). Na legenda dessa imagem, o autor refere que o tweet em que a mesma foi publicada foi “bem recebido” e explica tratar-se de “a imagem de uma bela mulher IA que se assemelha a uma política (tamanho do peito é irrelevante)”. Também se lê uma ressalva de que o autor não pretende “diminuir ou ridicularizar políticos reais ou organizações políticas”.
A conta apresenta dezenas de imagens de mulheres de fisionomia asiática que, na sua esmagadora maioria, revelam um óbvio teor sexual.
Conclusão
É falso que a imagem difundida em dezenas de posts no Facebook mostre a ministra da Saúde do Japão. O responsável por essa pasta é um homem de 67 anos, que assume pela terceira vez essas funções num governo nipónico. A imagem verificada corresponde a um conteúdo gerado com recurso a Inteligência Artificial, como o próprio autor revela na sua conta Twitter.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.