O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia da Covid-19, contando já com 57,774 mil mortes e 1,352,708 infetados. Além disso, é também um dos países onde mais se espalham informações falsas ou enganadoras. No passado fim de semana surgiu uma publicação no Facebook, com uma imagem de uma jornalista brasileira, Majú Coutinho (Maria Júlio Coutinho), e de uma jornalista portuguesa da RTP, Márcia Rodrigues, fazendo referência a uma suposta discussão entre as duas.

Segundo a publicação, a primeira terá dito o seguinte: “Enquanto o presidente do Brasil desgoverna, o presidente de Portugal dá aula de cidadania”. Já a segunda, Márcia Rodrigues terá respondido: “Agradecemos o elogio ao nosso presidente mas não é cortês comparar presidentes de países com realidades diferentes”. Esta publicação chegou às 1,4 milhões de visualizações e às 66 mil partilhas. É, no entanto, totalmente falsa.

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Comecemos pela parte mais óbvia: Márcia Rodrigues nunca comentou em qualquer plataforma, nem mesmo a nível pessoal a situação do Brasil ou a presença de Marcelo Rebelo de Sousa na Telescola, que ocorreu a 15 de junho. “Nunca comentei o Brasil, nunca falei de Bolsonaro nem nunca fiz um comentário nem post em nenhuma rede social sobre a telescola. É completamente falso”, afirmou a jornalista ao Observador. Márcia Rodrigues, que é atualmente editora da secção internacional do telejornal da estação pública, só comenta assuntos relacionados com os Estados Unidos da América e com o Médio Oriente, já que acumulou anos e anos de experiência nesses territórios, por ter sido lá correspondente.

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Olhando para as redes sociais de Márcia Rodrigues também não foi possível encontrar nenhuma referência ao que é comentado na publicação original (Twitter e Facebook). O único elemento verdadeiro é mesmo a fotografia da jornalista.

Já sobre Majú Coutinho, repórter da rede Globo, também não é verdade que a jornalista brasileira tenha afirmado que Jair Bolsonaro “está a desgovernar” o Brasil. Olhando para o vídeo publicado no Twitter, percebe-se que Majú afirmou, na verdade, o seguinte, depois de ter passado um excerto da “aula” do presidente português, no passado dia 24 de junho: “se todos os presidentes fossem assim…”.

Ou seja,  apesar de poder ser entendido como uma indireta a Bolsonaro, a afirmação que está na publicação original não é igual a que é dita pela jornalista brasileira. Mais uma vez: o único elemento verdadeiro é a fotografia da repórter. Majú já foi alvo de outras fake news, que foram inclusivamente verificadas pelo Observador.

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Conclusão

O Brasil é um dos países onde se encontra mais proliferação de fake news no mundo. Neste caso, surgiu uma publicação no passado fim de semana de um suposto bate boca entre uma jornalista brasileira, a Majú Coutinho e uma jornalista portuguesa, Márcia Rodrigues da RTP. A primeira terá deixado críticas à governação de Jair Bolsonaro, depois de ter elogiado a “aula” de Marcelo Rebelo de Sousa, que decorreu no passado dia 15 de junho. Já Márcia Rodrigues, editora de internacional da RTP, veio supostamente afirmar que “não é cortês comparar presidentes de países com realidades diferentes”.

Não é verdade que Márcia Rodrigues tenha feito tal afirmação, não tendo sequer feito qualquer comentário, quer a nível profissional quer nas suas redes sociais (Facebook e Twitter), sobre Bolsonaro ou Marcelo Rebelo de Sousa.  O desmentido veio da própria jornalista ao Observador. Já quanto à afirmação da repórter da rede Globo também é falsa: olhando para o excerto onde Majú Coutinho se dirige a Marcelo, percebe-se que, na realidade, a repórter disse: “Se todos os presidentes fossem assim”. Ainda que possa ser entendido como uma indireta ao presidente brasileiro, está muito distante de ser uma crítica à governação de Bolsonaro.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

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