Uma publicação partilhada nas redes sociais sugere que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, tem apelado à vacinação contra a Covid-19 devido ao facto de a “sua fundação” ser acionista numa empresa que fabrica para a Pfizer tecnologia baseada em componentes essenciais da vacina.

Na captura de imagem de um tweet, que está a ser difundida, pode ler-se: “A Pfizer-BioNTech utiliza tecnologia de nanopartículas lipídicas da Acuitas Therapeutics baseada em BC. A Fundação Trudeau detém uma participação de 40% na Acuitas, tanto através de propriedade direta de ações como indireta, através de empresas fictícias”.

Associado à imagem partilhada, o utilizador de Facebook alega que Justin Trudeau teria assim um interesse comercial por detrás da campanha de vacinação no país. “A razão pela qual Trudeau quer forçar a vacinação tem a ver com o facto de a sua fundação ser acionista da empresa Acuitas, que por sua vez fornece tecnologia baseada em nanopartículas à Pfizer”.

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Contudo, não há evidências de que a fundação descrita na publicação seja de alguma forma proprietária da Acuitas Therapeutics — uma empresa privada de biotecnologia, com sede em Vancouver, que trabalha com várias farmacêuticas, empresas e institutos académicos, pode ler-se no site oficial.

Em causa está também a Fundação Pierre Elliott Trudeau, pai do atual primeiro-ministro canadiano. De acordo com a informação disponível no site oficial, trata-se de uma instituição de caridade independente e apartidária, fundada em 2001, e que apoia investigadores através de bolsas de estudo e mentoria.

Instituições sem ligação entre si na internet e gabinete do primeiro-ministro desmente alegações

As publicações nas redes sociais alegam que a Acuitas Therapeutics — que, entre outros produtos, fabrica nanopartículas lipídicas para vacinas de mRNA — é também propriedade da fundação do pai de Justin Trudeau. No entanto, na internet, nem a fundação nem a própria empresa de biotecnologia fazem qualquer referência a uma eventual parceria ou ligação entre os dois.

Através de uma pesquisa nos motores de busca, com os nomes da fundação e da empresa como palavras-chave, pode também concluir-se que não existe essa suposta ligação nem que a Fundação Pierre Elliott Trudeau detém algum tipo de ações na instituição.

Também o gabinete do primeiro-ministro do Canadá confirmou à agência de notícias Reuters que as alegações difundidas nas redes sociais “não são precisas”. A mesma fonte indica ainda que os titulares de cargos públicos são obrigados a divulgar informações sobre declarações de interesses, numa lista do Comissariado de Conflito de Interesses e Ética do Canadá, que é pública e está disponível online — e cujo perfil de Justin Trudeau pode ser consultado aqui.

Do lado da Acuitas Therapeutics, o co-fundador, também citado pela Reuters, refere por e-mail que “nem o primeiro-ministro, Justin Trudeau, nem a Fundação Trudeau têm ações ou ligações” à empresa de biotecnologia. Aliás, a agência de notícias diz ter tido acesso à lista de acionistas da Acuitas Therapeutics, da qual não fará parte nem a fundação nem o líder canadiano.

Além disso, em 2016, o primeiro-ministro do Canadá dava conta de que não tem qualquer vínculo à fundação que foi criada em nome do seu pai e antigo primeiro-ministro canadiano, noticiava então a estação CBC.

Conclusão

É falso que o primeiro-ministro do Canadá esteja ligado, através da Fundação Pierre Elliott Trudeau, à Acuitas Therapeutics, por meio de participações ou ações. Publicações nas redes sociais sugerem esse conflito de interesses, mas não é verdade que exista esse vínculo ou que Justin Trudeau tenha uma participação de 40% na empresa de biotecnologia.

O gabinete de Justin Trudeau desmentiu tais alegações, bem como a própria empresa.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO 

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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