As redes sociais são palco para a propagação de teorias relacionadas com doenças. Frequentemente encontramos publicações a dar conta de tratamentos para certos problemas de saúde que, na verdade, não passam de informações falsas. Um utilizador do Facebook partilhou um texto onde dá conta de um tratamento inovador para o cancro, feito à base de casca de limão congelado.

Nesta publicação pode ler-se que a alegação de que o limão tem uma “capacidade milagrosa de matar células cancerígenas” e que é “10.000 vezes mais eficaz do que a quimioterapia”. O texto apresenta algumas falhas que tornam claro que se trata de uma informação falsa.

Ao longo de toda a publicação não é mencionado qualquer estudo científico, artigo, análise feita por organizações conceituadas na área da investigação oncológica, algo que seria expectável quando falamos da suposta descoberta de uma cura para o cancro. Outro dos problemas está na fonte citada. Trata-se, alegadamente, de ”um dos maiores fabricantes de medicamentos do mundo”. Mas em momento algum da publicação esse fabricante é identificado, pelo que o leitor fica sem perceber de facto a origem da informação.

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Ao Observador, Inês Onofre Domingues, nutricionista na área da oncologia da equipa AIM Cancer Center, esclarece que, “embora a casca do limão e o próprio limão tenham um importante valor nutritivo, seria necessário um longo e rigoroso processo de ensaios clínicos e estudos científicos para considerar esta informação fidedigna”.

A especialista acrescenta que “não existem estudos de base científica suficientes para comprovar a veracidade” das alegações feitas pelo autor da publicação. “Apesar de existirem alguns dados de literatura acerca do potencial efeito benéfico das frutas cítricas, como o limão, nas células do tecido neoplásico, comummente usadas na medicina tradicional na China e em outros países, estes dados advêm de estudos de ensaios laboratoriais realizados com ratos”, razão pela qual “não é possível tirar conclusões destes ensaios para esclarecer como ocorrem esses processos no organismo humano e quais os mecanismos moleculares envolvidos”.

Sobre a comparação que é feita na publicação entre a utilização de cascas de limão e a quimioterapia, Inês Onofre Domingues é perentória em afirmar que ela “não é viável nem criteriosa“, acrescentando que “esta recomendação não é indicada em nenhum contexto de tratamento oncológico e a sua disseminação é preocupante”.

Ainda assim, através de uma pesquisa, é possível encontrar várias referências à importância de uma boa alimentação para a prevenção do cancro, e não só. A Liga Portuguesa Contra o Cancro recomenda que os próprios doentes procurem seguir uma alimentação saudável. A nutricionista em oncologia Inês Onofre Domingues sublinha também que “é do conhecimento clínico e científico, para a prevenção de doenças oncológicas, a adoção de hábitos alimentares inerentes aos princípios de uma dieta mediterrânica, assim como, a redução do consumo de alimentos ultraprocessados e açúcares refinados”.

Conclusão

Não há qualquer base científica que comprove que o limão tem capacidades “milagrosas” para curar o cancro. A comparação com a quimioterapia “não é viável nem criteriosa”. Trata-se apenas de uma teoria da conspiração partilhada nas redes sociais sem qualquer fundamentação. Ainda assim, os especialistas alertam que uma alimentação saudável é um elemento muito importante na prevenção e no combate ao cancro.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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