Muitas vezes as redes sociais são o espaço predileto para que surjam citações, poemas ou textos atribuídos a determinados autores. Alguns provocam desinformação e dúvida nos utilizadores, outros, apesar da sua intenção positiva, acabam também por difundir informações pouco rigorosas. Foi o caso de um poema que começou a ser partilhado em novembro, alegadamente escrito por António Lobo Antunes. No entanto, tal como o Observador verificou, tal não se confirma. Trata-se, por isso, de uma publicação falsa.
“Esse texto não é do António. Nem parece nem é”. A resposta não podia ser mais taxativa e vem da mulher do escritor, Cristina Lobo Antunes, ao Observador. Ou seja, apesar de vários utilizadores a atribuírem ao autor de “A Última Porta Antes da Noite” ou “Os Cus de Judas”, sem referirem, no entanto, a data e a que obra pertence, tal não se verifica.
Numa dessas publicações, uma utilizadora afirma que o poema pertence, na verdade, a Mário Quintana, poeta e jornalista brasileiro. Ao fazer uma busca para verificar esta afirmação, encontramos um suposto poema onde a tal ideia de fugacidade do tempo está presente. Mas ainda que seja atribuído ao autor do Brasil, não é possível confirmar, com certeza absoluta, que lhe pertence.
A verdade é que, introduzindo o poema noutros motores de busca, como a barra de pesquisa do Facebook, encontramos pessoas a declamá-lo em brasileiro, quer em vídeo, quer em texto. Em nenhum momento é referido que a autoria é de António Lobo Antunes.
Em fact-checks anteriores, o Observador também verificou citações erradamente atribuídas a diferentes autores. Por exemplo, a frase “os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente pela mesma razão” foi atribuída a Eça de Queiroz, o que não é verdade. Noutro caso, novamente relacionado com um poema, surgiram na internet alguns versos sobre a solidão supostamente escritos pelo músico brasileiro Chico Buarque. A editora do autor brasileiro desmentiu ao Observador ter escrito aquelas palavras.
Esta prática de atribuição errada de citações, textos ou poemas não é exclusiva de Portugal. De George Orwell a Albert Einstein, são vários os exemplos que resultam, muitas vezes, em publicações falsas.
Conclusão
Não é verdade que o escritor português António Lobo Antunes tenha escrito um poema sobre a fugacidade do tempo. O desmentido veio da mulher do autor de “Os Cus de Judas”, Cristina Lobo Antunes, ao Observador. As palavras em questão já foram atribuídas a outros autores, como o poeta e jornalista Mário Quintana, mas os versos não são exatamente os mesmos. Fazendo uma busca pelo poema, quer no Google ou no Facebook, é possível encontrar resultados onde utilizadores brasileiros declamam os versos descritos na publicação original. Em nenhum momento é atribuído a António Lobo Antunes.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.