No início de abril começou a circular no Facebook uma mensagem que sugeria que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha usado meios do Estado para ir buscar os seus netos à China, no início do surto pandémico do novo coronavírus. Uma dessas publicações chegou a ser alvo de um fact check do Polígrafo mas a mesma mensagem continuou a ser reproduzida noutras publicações, chegando aos milhares de visualizações. O Observador contactou fonte oficial da Presidência da República e concluiu que é falso: Marcelo Rebelo de Sousa não foi à China buscar os netos, que de facto vivem lá, nem tão pouco usou o Falcon para isso.
As publicações têm todas o mesmo texto: “Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República de Portugal, confessou hoje que os seus netos estavam na China quando o vírus tomou a população daquele país. “Apenas sei do que se passou na China, pelo que os meus netos me contaram”. Nunca referiu que em Janeiro de 2020 o falcon da Força Aérea portuguesa foi resgatar os seus netinhos à China”.
Contactada pelo Observador, fonte oficial da Presidência da República rejeita totalmente a ideia, por vários motivos. Primeiro, as deslocações de Falcon são acompanhadas de perto pelo Ministério da Defesa e pela Força Aérea, não podendo ser feitas pela mera vontade do Presidente da República. Além disso, o Falcon não tem capacidade no depósito de combustível para viajar de Lisboa até à China sem parar “várias vezes” pelo caminho. “Deixaria um rasto enorme”, diz a mesma fonte.
Além disto, não é sequer verdade que Marcelo Rebelo de Sousa tenha ido à China buscar os netos. Nem sequer em voo comercial. A única verdade é que, de facto, Marcelo Rebelo de Sousa tem três netas a viver em Shenzhen, na China, e um neto que também vivia lá, mas que entretanto se mudou para a casa dos avós maternos, em Lisboa. Essas netas, contudo, tinham viajado para Lisboa no final de janeiro, durante as férias escolares motivadas pela celebração do ano novo chinês (que este ano calhou a 25 de janeiro). Como o surto epidémico já tinha surgido em força na China e as escolas tinham parado atividade, as netas do Presidente da República acabaram por não regressar a casa, ficando em Portugal.
“Vieram cá nas férias e depois, quando seria para voltar, não voltaram”, diz a mesma fonte.
Foi isso que Marcelo Rebelo de Sousa disse aos jornalistas na declaração a que a publicação de Facebook se refere. Como se pode ver neste excerto, em vídeo, dessas declarações do dia 30 de janeiro, o que o Presidente da República diz é apenas que os netos o informaram do ponto da situação na China e das medidas que por lá tinham sido tomadas para combater o surto.
“O governo acompanhou desde o início a situação dos portugueses na República Popular da China, e devo dizer que eu até sou testemunha disso porque tenho netos que vivem na China e que chegaram nestas férias de início de ano chinês, porque tiveram paragem de aulas, e que me contaram sobre a situação vivida e as medidas tomadas lá”, diz o Presidente da República aos jornalistas no dia 30 de janeiro. Em nenhum momento Marcelo diz que foi buscar os netos à China, ou que mandou meios do Estado fazê-lo.
Conclusão
É falso que Marcelo Rebelo de Sousa tenha usado meios do Estado para ir buscar os netos à China. Os netos, que vivem na China, vieram a Portugal no final de janeiro devido à paragem letiva, que coincidiu com as férias escolares devido ao novo ano chinês, e acabaram por não voltar à China enquanto o surto pandémico não estiver controlado. Uma vez que tinham estado lá durante parte do mês de janeiro, contaram em primeira mão ao Presidente como se vivia nessa altura o surto naquele país, que foi o epicentro do contágio. Não é verdade que Marcelo tenha ido à China buscá-los, nem que tenha mandado meios do Estado, como o Falcon, para o fazer.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:
De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.