A publicação circula nas redes sociais de utilizadores comuns — mas não só — e dá conta de “milhares de inscritos na JMJ desaparecidos. ‘Imigração ilegal'”, diz especialista. A imagem com a informação parece ser de uma notícia e alguns elementos gráficos remetem para o site da rádio Renascença onde tal informação nunca foi publicada, nem noutro site.
No caso da publicação em análise, a imagem é aproveitada para afirmar existirem “mais uns milhares em Portugal, graças à lei aprovada pela coligação geringonça PS+PCP+BE”. Esta mesma partilha já tinha sido feita pelo líder do Chega, André Ventura (ver abaixo), que reclamava “ter avisado” para a entrada de imigrantes ilegais no país à boleia da Jornada Mundial da Juventude que se realizou em Lisboa, culpando o Governo de não ter feito “absolutamente nada”. Na entrada da suposta notícia consta que “milhares de pessoas de África e Médio Oriente utilizaram a JMJ para imigrar para Portugal e outros países da Europa”.
A imagem da suposta notícia era a mesma nas duas publicações e trata-se de uma manipulação. Uma pesquisa simples no Google por este mesmo título não devolve resultados, o que mostra que este texto noticioso não existe. Nem nunca existiu. O layout assemelha-se ao do site da Renascença e o Observador contactou o diretor-geral da rádio que o confirma: esse conteúdo “nunca existiu” nem foi, por isso, publicado no site da rádio. “O layout tem semelhanças, mas o tipo de letra não é o nosso, apesar de muito parecido. E o conteúdo também não é nosso.”
Pedro Leal diz ainda que esta publicação já está a ser tratada pelos serviços jurídicos da Renascença e a rádio também está a tratar editorialmente o assunto. “A Renascença repudia todas as notícias falsas”, diz o diretor da rádio, que vê nesta publicação “uma imputação indireta à Renascença” que, reforça, “repudia qualquer situação em que sejam usados os seus elementos gráficos numa mentira”. Os tons e a letra são semelhantes aos da Renascença, existindo diferenças de pormenor na assinatura e também na catalogação da notícia.
Na base desta publicação divulgada nas redes sociais estará o caso noticiado durante a Jornada Mundial da Juventude do não comparecimento de um grupo de peregrinos na zona de “check-in” (o momento do levantamento da acreditação para participarem nos eventos da JMJ) na diocese de Leiria Fátima. Tratava-se de 106 peregrinos (mais tarde o SEF indicou serem 195) originários de Angola e Cabo Verde que a diocese não conseguiu localizar, reportando a situação às autoridades. Entretanto, o Governo veio garantir que não se tratava de entradas ilegais no país, e que os peregrinos podiam circular livremente e um dos diáconos que acompanhava o grupo negou o desaparecimento.
“É fake news. Ninguém está desaparecido e nenhum peregrino é obrigado a participar em atividades das dioceses”, indicou o diácono José Manuel Vaz na altura, citado pela Lusa. “Alguns peregrinos que chegaram a Lisboa optaram por ficar na cidade, onde arranjaram alojamento junto de familiares e amigos, em vez de ir a Leiria para participar nas atividades. Ninguém informou que as atividades eram obrigatórias.” O diácono lembrou também que os peregrinos têm um visto de 18 dias, após os quais não podem permanecer em Portugal, ressalvando: “Ninguém garante que, após esse período, alguns peregrinos não fiquem em Portugal, mas isso é um problema que não tem nada a ver com a participação na Jornada”.
O aproveitamento da JMJ para a entrada de imigrantes ilegais no país foi uma preocupação manifestada pelo líder do Chega ainda antes de o evento ter começado, tendo chegado a apresentar as suas “inquietações” aos responsáveis pelo Sistema de Segurança Interna que, nessa altura, garantiram ao Chega não ter sido “detetada qualquer situação de risco específico de terrorismo, auxílio à imigração ilegal ou criminalidade organizada Internacional em torno da Jornada Mundial da Juventude”, segundo Ventura.
Conclusão
A publicação em análise é falsa, tratando-se de uma manipulação feita a partir de um site de um órgão de comunicação social, a rádio Renascença. O diretor geral da rádio diz que esta notícia nunca foi publicada pela Renascença e o Observador confirmou que não existem registos de ter sido publicada noutro órgão de comunicação. Durante as Jornada Mundial da Juventude foi reportado um caso de 195 peregrinos vindos de África que não tinham dado entrada na diocese onde eram esperados mas ainda está a ser analisado pelas autoridades, já que o visto que lhe foi concedido para a estadia no país tem duração de 18 dias.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.