A informação foi inicialmente avançada pela própria Diocese Leiria-Fátima. Num comunicado oficial, divulgado na página da Diocese, o Comité Organizador Diocesano descrevia a ausência de 106 peregrinos de nacionalidade angolana e cabo-verdiana, que estavam inscritos nos eventos da pré-Jornada Mundial da Juventude (JMJ), como uma “situação anormal” que mereceu “atenção especial”. A Diocese anunciava ainda que reportou a situação às autoridades de segurança.

Rapidamente se espalhou a notícia de que 106 peregrinos destes dois países africanos estariam “desaparecidos”. Mas a informação foi desmentida por duas das paróquias envolvidas, Porto de Mós e Leiria, cujos responsáveis garantiram ao jornal Público não haver qualquer “desaparecimento” a reportar e que pelo menos 24 cabo-verdianos teriam estado na paróquia de Porto de Mós a participar nas atividades.

Segundo o Observador apurou junto de fonte da Diocese, 106 dos cidadãos do contingente de Angola e Cabo Verde (que é composto por mais participantes) não realizaram o chamado check-in — momento em que poderiam levantar uma acreditação — nas atividades que se realizaram nos dias que antecederam a JMJ, em Leiria-Fátima, e para a qual se tinham inscrito.

As informações que temos é que deram entrada no país, têm visto turístico para participar nas Jornadas, mas não vieram às atividades em que se inscreveram na pré-Jornada, em Leiria”, explicou a mesma fonte.

Perante esta situação, a Diocese decidiu informar a PSP e a GNR de que estes 106 estrangeiros não compareceram ao evento “Dias nas Dioceses”. Mas não para reportar qualquer desaparecimento, já que, como explicou ao Observador fonte ligada à investigação criminal, não há indícios de qualquer crime. Com um visto turístico de um a três meses, os 106 africanos têm autorização legal para circular dentro do espaço Schengen durante este período, não estando por isso a cometer qualquer irregularidade.

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Fonte da Diocese de Leiria-Fátima confirma que o Comité Organizador está a par dessa situação e que a não-comparência do grupo foi reportada às autoridades apenas para cumprir o que já tinha sido previamente protocolado pela organização por uma questão de “prevenção”.

É um procedimento normal que achámos por bem fazer, mas nem precisávamos de o ter feito. Eles estão no país com toda a documentação exigível e cumprindo todos os reconhecimentos legais”, reconhece.

“Mas, para nos salvaguardarmos e nos precavermos e às autoridades de qualquer situação anómala, achámos por bem avisar”, resume a mesma fonte.

A não comparência destes 106 peregrinos nos eventos da pré-Jornada deu mais nas vistas porque, na semana passada, a coordenação angolana da JMJ reconheceu que “a possibilidade de fuga” de alguns peregrinos de Angola era real, tendo pedido “boa fé” aos jovens que vão participar no evento em Portugal.

JMJ. Igreja Católica angolana pede “boa-fé” e exorta jovens a “evitarem fuga”

Contudo, com entrada regular no país e documentação em dia, os 106 peregrinos não podem ser classificados como “desaparecidos”. Podem, inclusivamente, vir ainda a participar nas atividades da JMJ em Lisboa, que têm início esta terça-feira, dia 1 de agosto.

Apesar disso, o Sistema de Segurança Interna (SSI) confirmou ao final da noite de segunda-feira que o grupo vai ser alvo de “monitorização”, muito embora esteja no país em situação legal.

Bispo de Cabinda diz que pelo menos cinco angolanos desaparecidos não querem regressar a Luanda

Pelo menos cinco peregrinos angolanos que viajaram até Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude abandonaram a delegação e não tencionam regressar a Luanda, revelou esta terça-feira o bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti, à TSF. O chefe da delegação angolana na JMJ disse à rádio que os casos foram reportados às autoridades competentes, para que “ajudem ao necessário seguimento”.

Belmiro Chissengueti admitiu a possibilidade de o número de peregrinos desaparecidos vir a aumentar até ao fim da JMJ e criticou as autoridades portuguesas por não especificarem a nacionalidade dos que abandonaram as suas comitivas.

“A notícia dos 106 angolanos e cabo-verdianos que fugiram peca pelo facto de não ser específica”, declarou o bispo de Cabinda. “Pode ser que tenham fugido 106 angolanos e cabo-verdianos ou 105 angolanos e um cabo-verdiano. São 106 na mesma, mas é preciso especificar quantos cabo-verdianos são efetivamente, quais e quem são e quantos angolanos. Seria bom haver um certo cuidado na informação.”