No Facebook circulam duas imagens de notícias publicadas no Jornal de Notícias e no Público, com dois anos e oito meses de distância, com declarações de Carlos Moedas sobre a solução para o aeroporto de Lisboa. Os utilizadores que as partilham sugerem a incoerência do agora presidente da Câmara de Lisboa, já que, alegam, em 2021 Moedas excluía a hipótese de um “aeroporto único” e agora diz que Alcochete foi a solução que “sempre” defendeu.

A publicação coloca as duas notícias lado a lado, com os títulos que se destacam: no do Jornal de Notícias, publicado a 2 de setembro de 2021, decorria a campanha autárquica, lê-se “Medina admite aeroporto único em Alcochete, Moedas exclui essa hipótese”; no Público, a 15 de maio de 2024, consta “Moedas sobre o aeroporto: ‘Foi a solução que sempre defendi”.

As declarações carecem de enquadramento. No primeiro momento, em setembro de 2021, Carlos Moedas participava num debate para as autárquicas desse ano (que haveria de ganhar) em que os candidatos falavam do que defendiam para a localização do novo aeroporto de Lisboa.

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O presidente da Câmara de Lisboa na altura era Fernando Medina e mostrou-se contra a hipótese de fazer um aeroporto secundário no Montijo, mantendo o atual (Portela) como principal. Medina defendia que Alcochete ou Montijo eram ambas localizações possíveis para o novo aeroporto, mas dizia que o que “não podia acontecer” era “a expansão do atual aeroporto” de Lisboa ou manter “Portela como aeroporto principal”. Ao mesmo tempo que dizia que “qualquer solução de futuro tem de diminuir o impacto do aeroporto de Lisboa”, já que a cidade enfrentaria a breve prazo um problema quanto à sua capacidade aeroportuária, que não conseguiria receber “30 milhões de movimentos”.

Já Carlos Moedas, no mesmo debate televisivo com todos os candidatos à Câmara de Lisboa mantinha a defesa da solução Portela + 1, sendo mais recuado quanto ao rápido desmantelamento da Portela. Sobre o novo aeroporto, entre Montijo e Alcochete, o então candidato manifestava preferência por Alcochete já que o “Montijo tem problemas ambientais” e uma capacidade limitada. Alcochete, argumentava por outro lado, tinha “capacidades mais ilimitadas” para os movimentos aeroportuários que se projetavam para a cidade.

Sobre o aeroporto da Portela, defendia que se mantivesse em funcionamento como “aeroporto de cidade”. E, quando confrontado com a questão do ruído, Moedas admitia que Alcochete se transformasse no “aeroporto principal”, mas alertando para o tempo que demoraria — “10 a 15 anos” — a estar construído.

Entretanto, Moedas foi eleito presidente e a escolha da localização do aeroporto de Lisboa ficou fechada: Alcochete em dez anos e, até lá, reforço da Portela e desmantelamento um ano após terminada a construção do novo aeroporto. Quando a decisão foi tomada, em maio deste ano, o autarca veio falar de Alcochete: “Foi a solução que sempre defendi, quer como engenheiro, quer como cidadão.”

A afirmação em nada contraria a anterior, já que em 2021 Moedas também considerava que “Alcochete seria uma melhor solução” para o novo aeroporto de Lisboa. E até defendia um modelo muito parecido com o que foi agora apresentado pelo Governo.

Conclusão

O atual presidente da Câmara de Lisboa não rejeitou o aeroporto em Alcochete e até considerou esta solução como a sua preferida. Enquanto candidato à autarquia, Carlos Moedas defendia a manutenção da Portela como aeroporto principal até a infraestrutura em Alcochete estar pronta e que, nessa altura, o novo aeroporto passaria a ser o principal. As notícias são verdadeiras, mas não estão enquadradas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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