Elisa Granato, cientista, foi uma das duas primeiras pessoas no Reino Unido a disponibilizar-se para testar uma vacina para a Covid-19. De acordo com o texto que está a ser partilhado no Facebook, “morreu dois dias após a vacina ser administrada, disseram as autoridades”. Esta informação é falsa. A mulher de 32 anos está viva, saudável e foi a própria que desmentiu o boato no Twitter.
A publicação que entretanto se tornou viral no Facebook diz que os “investigadores que aguardam a realização de uma autópsia acreditam que Elisa tinha uma condição de saúde subjacente que não foi divulgada às autoridades de saúde” e até tem um link para uma notícia do site “News NT”.
O artigo garante que Elisa Granato morreu e que foi iniciada uma investigação para determinar as causas. São citadas “autoridades” e “investigadores” e, embora não seja claro a que entidades se refere o texto, há informações em discurso direto. “Os quatro em estado crítico [supostamente as outras pessoas que se sujeitaram aos mesmos testes] ficarão bem e estas são reações expectáveis de vacinas e, por consequência, num ensaio clínico” é uma das citações.
A 23 de abril, no dia em que fez 32 anos, Elisa Granato foi uma das duas pessoas que integrou o primeiro grupo de voluntários de um ensaio clínico que pretende avaliar a eficácia de uma vacina contra a Covid-19 e que foi desenvolvido em Oxford. É o primeiro ensaio com humanos feito na Europa. Inicialmente, serão envolvidas 800 pessoas, mas posteriormente a ideia é chegar a cinco mil. Metade recebe uma vacina capaz de travar o novo coronavírus e a outra metade uma vacina contra a meningite, mas não contra a Covid-19. Os pacientes não sabem em que lote estão, apenas os médicos têm essa informação. Isto significa que nem sequer é certo que Granato tenha recebido a vacina que está a ser testada para combater a pandemia atual — há 50% de hipóteses de lhe ter sido injetado o placebo.
Granato é microbióloga no departamento de zoologia da Universidade de Oxford e, nesse dia, explicou à BBC porque estava a participar: “Sou cientista, por isso quis tentar apoiar o processo científico onde pudesse.”
A 26 de abril começaram a circular online notícias de que Elisa Granato teria morrido. Fergus Walsh, o repórter da BBC que a entrevistou dias antes, foi o primeiro a desmentir as informações.
“Estão a circular notícias falsas nas redes sociais que dizem que a primeira voluntária no ensaio clínico da vacina de Oxford morreu. Isto não é verdade! Passei vários minutos esta manhã a falar com a Elisa Granato via Skype. Está viva e disse-me que se sente ‘perfeitamente bem’.”, escreveu no Twitter.
Fake news has been circulating on social media that the first volunteer in the Oxford vaccine trial has died. This is not true! I spent several minutes this morning chatting with Elisa Granato via Skype. She is very much alive and told me she is feeling “absolutely fine” pic.twitter.com/iWAtYaSkRZ
— Fergus Walsh (@BBCFergusWalsh) April 26, 2020
Horas mais tarde chegou uma espécie de prova de vida, em formato de vídeo.
….and here is Dr Elisa Granato in person. Alive and well pic.twitter.com/Csw1WqmBQa
— Fergus Walsh (@BBCFergusWalsh) April 26, 2020
“Estou bem viva, obrigada. Estou a beber uma caneca de chá, é domingo, 26 de abril. Três dias depois do meu aniversário. Três dias depois de ter recebido a vacina ou o placebo, não sabemos. Estou a ter um bom domingo e espero que toda a gente no mundo também”, diz a cientista nas imagens.
No próprio perfil, que entretanto deixou de ser público, Elisa Granato deixou outra mensagem. “Nada como acordar com um artigo falso sobre a tua morte… Estou bem, pessoal. Por favor não partilhem o artigo em questão, não queremos dar-lhes atenção/ cliques”, pediu.
Também o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido garantiu que a história é “completamente falsa” e a Universidade de Oxford disponibilizou um comunicado no site dedicado ao ensaio clínico em questão.
News circulating on social media that the first volunteer in a UK #coronavirus vaccine trial has died is completely untrue.
Before sharing unsubstantiated claims online, use the SHARE checklist to help stop the spread of harmful content:
▶️ https://t.co/9rAFQES8Xm pic.twitter.com/HgG4cHnLFQ— Department of Health and Social Care (@DHSCgovuk) April 26, 2020
“Temos consciência de que tem havido e haverá rumores e informações falsas sobre o progresso do ensaio clínico. Pedimos às pessoas que não lhes atribuam qualquer credibilidade e que não os façam circular”, pode ler-se na página oficial, que afirma ainda que todas as atualizações oficiais serão ali publicadas.
Conclusão
A notícia de que morreu a primeira voluntária num ensaio clínico de uma vacina para a Covid-19 desenvolvida no Reino Unido é completamente falsa. A mulher em questão, Elisa Granato, nem sequer sabe se recebeu a vacina que está a ser testada ou um placebo (há 50% de probabilidades para cada uma das hipóteses). A própria desmentiu a história com um tweet e depois apareceu num vídeo “bem viva”, como faz questão de referir, e a beber um chá.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:
De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.