O texto que se tornou viral no Facebook é demasiado grande para destacar apenas uma frase mas, resumidamente, diz que Pequim e Xangai não tiveram casos do novo coronavírus, que não houve isolamento em nenhuma das duas cidades, que as localidades ficam relativamente perto de Wuhan, que o mercado financeiro chinês não foi afetado pela pandemia e que este vírus é uma “arma bioquímica da China” para destruir o resto do mundo. Nenhuma destas informações é credível e são tantas que têm de ser desmontadas uma a uma.
Começando pelas distâncias, elas pretendem demonstrar que as localidades próximas do epicentro, Wuhan, não foram afetadas, enquanto cidades muito distantes, como Nova Iorque ou Londres, registam milhares de casos. Não é verdade que Xangai fique a 629 quilómetros de Wuhan — há 838,7 quilómetros entre os dois pontos. Já Pequim e Wuhan estão separadas por 1152 quilómetros e não 1052, como indica a publicação.
Também é falso que as cidades chinesas mencionadas não tenham tido pacientes infetados com o novo coronavírus. Na sua mais recente atualização, de 11 de maio, a plataforma de dados da Universidade Johns Hopkins (nos EUA) indica que Pequim conta com 593 casos (entre eles nove mortes) desde o início da pandemia e Xangai totaliza 659 (sete mortes). É verdade que os números são baixos , quando comparados às 68,134 mil pessoas afetadas em Hubei, província onde se encontra Wuhan, onde tudo começou, mas continuam a ser centenas.
“Não há bloqueio em Pequim! Está aberto! Corona não tem efeito aqui, porquê…? Xangai é a cidade que dirige a economia da China, é a capital econômica da China, aqui todos os ricos da China vivem! Quem mantém a indústria a funcionar, não tem bloqueio aqui”, afirma a publicação. Isto está igualmente incorreto.
No início de fevereiro, em Pequim, já as lojas, parques, teatros, cabeleireiros, templos, museus, bares e cinemas estavam fechados. Xangai adotou medidas semelhantes e encerrou escolas, ordenou o uso de máscaras em público e determinou que os restaurantes só podiam funcionar com a opção de take-away. Desde 26 de março, quem chega à cidade é obrigado a cumprir 14 dias de isolamento — isto para diminuir o número de casos importados que se tinham verificado até aí.
Dizer que não houve “efeito deste vírus no mercado chinês” é outra ideia errada que o texto pretende incutir nas pessoas. De acordo com a plataforma “Aos Fatos”, que verificou esta informação, na China, a bolsa de valores teve perdas significativas. Um dos índices mais importantes, o CSI 300, que junta as maiores empresas de Xangai e Shenzhen, caiu 8% na sequência da pandemia. Além disso, nos dois primeiros meses de 2020, a produção industrial e as vendas de retalho diminuíram drasticamente.
A acusação de que o novo coronavírus é uma “arma bioquímica” criada na China não é nova. No entanto, esta teoria já foi refutada diversas vezes por inúmeros especialistas e explicada em artigos da BBC , da revista New Scientist ou do Los Angeles Times. Todos eles demonstram que não há provas que indiquem que o vírus tenha sido criado em laboratório.
A partilha que circula no Facebook diz que “a nossa economia está a chegar a um parado, mas todas as grandes cidades da China estão abertas”. Logo no final de março, quando a China tentava reabrir alguns estabelecimentos, o governo recuou nas medidas, como relatou o jornal The Guardian. Os cinemas mal estiveram em funcionamento, tendo de encerrar novamente. Em Xangai, aconteceu o mesmo às atrações turísticas em espaços fechados.
Nas últimas duas semanas, as preocupações têm aumentado. As autoridades registaram novos casos em Wuhan — cujo desconfinamento tinha começado a 8 de abril, um dos poucos dados corretos no post viral — e no país teme-se uma segunda vaga devido a um surto numa cidade perto da fronteira com a Rússia ().
Focos da Covid-19 um pouco por todo o lado podem ser “o novo normal”, explicou Xi Chen, especialista em saúde pública da Universidade de Yale, ao Financial Times. Em Wuhan há esta segunda-feira, 11 de maio, cinco novos casos confirmados, todos assintomáticos até aqui. Este aumento faz subir as transmissões locais para dez, o maior número diário registado na China desde o início de março.
Conclusão
Não é verdade que Xangai e Pequim não tenham registado casos de Covid-19. Foram muito menos do que em Wuhan, onde tudo começou, porque foram implementadas medidas de confinamento muito cedo — o que significa que também é mentira que as cidades tenham continuado abertas, como sugere a publicação. Os dados sobre as distâncias entre as localidades estão errados, assim como a afirmação de que a bolsa de valores não sofreu danos. A teoria que garante que o novo coronavírus foi criado num laboratório chinês também já foi desmentida em várias ocasiões.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: Este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.