Depois de o mais conhecido opositor de Vladimir Putin, Alexei Navalny, ter morrido numa prisão da Sibéria, começaram a circular nas redes sociais supostas explicações para a sua morte, cujos contornos continuam a ser questionados. Uma delas culpa a vacina da Covid-19 pela morte de Navalny.

Neste caso, o rumor é publicado por uma conta chamada Bruin Republicans at UCLA, que se define como a principal “organização de direita” da Universidade da Califórnia, “dedicada a promover o tradicionalismo e conservadorismo no campus”. Nesta publicação, os autores da conta garantem que ninguém quer “admitir” a verdadeira razão da morte do opositor russo, que seria consequência da toma da vacina contra a Covid-19. E vão mais longe: “Porque é que hão de culpar Putin por algo que Navalny fez a si próprio, ao tomar uma vacina experimental MRNA?”

Numa publicação posterior, em que utilizadores da rede social X (antigo Twitter) acrescentaram contexto à publicação original, lembrando que estas vacinas não foram aprovadas na Rússia — onde Navalny estava preso desde 2021 — a mesma conta diz que “eles não podem ter a certeza de que Navalny não morreu por causa da vacina”, acusando a “esquerda radical” de tentar “esconder a verdade”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A morte de Navalny foi imediatamente objeto de muitas dúvidas e perguntas, uma vez que se trata do mais conhecido opositor do regime russo, e que em 2020 já tinha adoecido num avião quando voava para Moscovo, tendo o Governo alemão e a Organização para a Proibição de Armas Químicas, assim como uma investigação do Bellingcat, declarado que foi envenenado com o agente neurotóxico Novichok. Esta última investigação, que contou com a colaboração do próprio Navalny, apontou para um ataque preparado por agentes russos, tendo Putin negado o envenenamento desta forma: “Se o quiséssemos fazer, tê-lo-íamos feito até ao fim.”

Navalny seria então preso em 2021, assim que recuperou e voltou à Rússia. Desde então estava numa prisão siberiana, a cumprir uma pena de 19 anos de prisão. E foi a 16 de fevereiro que acabou mesmo por morrer, aos 47 anos. Nesse dia, o serviço prisional federal russo, citado pela agência russa TASS, dizia que Navalny se tinha “sentido mal depois de uma caminhada”. Já esta segunda-feira, um grupo de ativistas próximo de Navalny avançou a informação de que a sua libertação estaria por dias, no âmbito de um acordo de troca de prisioneiros de elevado interesse para Moscovo, intermediado pelo empresário Roman Abramovich.

Pouco depois de ser conhecida a notícia da sua morte, os serviços hospitalares partilharam mais informações sobre o contexto em que Navalny morreu. “Os médicos que chegaram ao local continuaram as operações de reanimação já efetuadas pelos médicos da prisão. As operações continuaram durante mais de 30 minutos. No entanto, o paciente morreu”, disse um hospital público na cidade de Labytnangui, perto da prisão onde o ativista estava há três anos, como citava então a Euronews.

A equipa do ativista começou imediatamente a queixar-se de não estar a receber uma confirmação credível ou explicações concretas sobre a morte de Navalny. Na semana seguinte, a assistente do ativista, Kira Yarmysh, adiantou que da certidão de óbito, que entretanto foi mostrado à mãe de Navalny, consta que o ativista morreu de “causas naturais”.

Entretanto, esta quarta-feira, e após várias tentativas, a mãe de Navalny viu mesmo o corpo do filho, numa morgue de Salekhard. E veio garantir que foi ameaçada: “Dizem-me que, se eu não aceitar um funeral privado, fazem alguma coisa com o corpo”, afirmou Lyudmila Navalnaya. “De acordo com a lei, deviam ter-me dado o corpo do Alexey imediatamente, mas ainda não o fizeram. (…) Chantagearam-me, e impuseram condições sobre quando, onde e como o Alexei deve ser enterrado. Isso é ilegal.”

Mãe de Navalny acusa Rússia de querer enterrar o filho de forma secreta. Certidão de óbito fala em morte por “causas naturais”

Um investigador terá mesmo dito a Lyudmila Navalnaya: “O tempo está contra si. O cadáver está a decompor-se.” No dia 4 de março, haverá uma audiência em tribunal para ouvir Nalanaya, que pede que o corpo do filho lhe seja entregue e interpôs uma ação nesse sentido.

Já a mulher de Navalny, Yulia Navalnaya, acusa as autoridades russas de esconderem o corpo para que não sejam encontrados vestígios de mais veneno. “Sabemos exatamente porque é que Putin matou Alexei. Vamos dizer-vos em breve. Vamos descobrir quem cometeu este crime e exatamente como o fez. Vamos dizer nomes e mostrar rostos”, disse, citada pela Reuters.

A Rússia veio garantir que irá fazer uma “perícia química” ao corpo do ativista durante “pelo menos 14 dias”.

A União Europeia já exigiu ao país que permita uma investigação internacional independente às circunstâncias da “morte súbita” de Navalny. “A Rússia deve permitir uma investigação internacional independente e transparente sobre as circunstâncias desta morte súbita. A UE, em estreita coordenação com os parceiros, não poupará esforços para responsabilizar a liderança política e as autoridades russas, e para impor consequências pelos seus atos, nomeadamente através de sanções”, disse o alto representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, citado em comunicado pela Lusa.

Conclusão

Não há qualquer indicação de que a vacina contra a Covid-19 tenha causado a morte de Alexei Navalny, nem informação sobre se chegou a tomá-la. Até este momento, sabe-se, segundo a equipa do ativista, que a certidão de óbito indica “causas naturais” e que a família suspeita que Navalny tenha sido alvo de mais um envenenamento. Ainda assim, a Rússia diz que vai fazer uma perícia química e a UE exige uma investigação independente, prometendo “responsabilizar a liderança política e as autoridades russas”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge