Um avião ucraniano caiu perto da capital do Irão, a 8 de janeiro, causando a morte de todos os 170 passageiros e tripulantes a bordo — 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, dez suecos, quatro afegãos, três britânicos e três alemães. A queda ocorreu pouco depois de o avião descolar do Aeroporto Internacional de Teerão e dias após os EUA anunciarem que tinham assassinado o general Qasem Soleimani, o chefe da força de elite Al-Quds da Guarda Revolucionária do Irão.

Qasem Soleimani foi morto quando a sua comitiva deixava o aeroporto de Bagdad, num bombardeamento ordenado pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, como o próprio assumiu.

Horas antes da queda do Boeing 737 da Ukraine International Airlines, foram lançados 22 mísseis iranianos contra duas bases da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, em AinAssad e Erbil, no Iraque, numa operação de retaliação à morte do general iraniano.

No dia em que o avião caiu, as autoridades ucranianas chegaram a avançar que a queda se devia a uma falha no motor. Mas os Estados Unidos e o Canadá, baseados em informações dos seus serviços de segurança, disseram, no entanto, que o avião  tinha sido abatido por um míssil, afirmação que o Irão negou de imediato. “É uma grande mentira”, afirmaram as autoridades iranianas.

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A 11 de janeiro, no entanto, as forças armadas iranianas acabaram por assumir publicamente que tinham cometido um erro e que tinham abatido o avião ucraniano por engano. “A República Islâmica do irão lamenta profundamente este erro desastroso”, afirmou o Presidente Hassan Rouhani na rede social Twitter. “Um erro humano numa altura de crise causado pelo aventureirismo dos EUA levou ao desastre. O nosso profundo lamento, um pedido desculpas e condolências às famílias de todas as vítimas e às nações afetadas”, lê-se numa outra mensagem de Twitter, desta vez do ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão.

A 17 de janeiro, o ministro interino das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, dizia à imprensa ter informações de que o Irão estava à espera de um ataque dos EUA, no momento da queda do avião. “No ar havia pelo menos seis caças [americanos] F-35, no espaço aéreo junto à fronteira do lado do Irão. Esta é uma informação que ainda tem de ser verificada. Mas quero apenas sublinhar o nervosismo que pode estar presente em tais situações”, justificou.

Uma investigação preliminar ao acidente da Organização de Aviação Civil Iraniana (CAO), publicada a 21 de janeiro, concluía que o Boeing tinha sido atingido por dois mísseis. Soube-se também que havia registos audio dos controladores de tráfego aéreo iranianos em que se percebia que o piloto do avião de controlo dizia parecer ter sido lançado um míssil.

Perante esta informação, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy declarou que o Irão tinha conhecimento dos factos “desde o momento que o avião havia sido abatido” por mísseis. As autoridades iranianas reagiram às declarações de Zelenskiy apontando que o ficheiro de áudio “estava entre os materiais entregues aos especialistas que investigaram o acidente” e que a divulgação da gravação é uma violação que encerra a cooperação entre Teerão e Kiev”. A partir daqui, e um mês e meio após a queda do avião, as autoridades continuavam à espera que o Irão entregasse as caixas negras do avião. E que compensasse as famílias pela morte dos seus familiares.

Investigação conclui que avião ucraniano foi abatido por dois mísseis

Em entrevista ao Observador, o embaixador do Irão em Lisboa, Morteza Damanpak Jami, quando confrontado sobre uma possível sabotagem informática, rejeitou seguir essa tese. Quando questionado sobre esse possibilidade, colocou o ónus da informação na imprensa russa: “Há alguma discussão sobre isso. Até na comunicação social ocidental, há dias, vimos uma informação do ministro russo dos Negócio Estrangeiros, o sr. Lavrov, que disse que no momento em que o incidente aconteceu, naquela noite, havia seis F36 norte-americanos a voar à volta do Irão”. Ainda assim, não se quis comprometer, mais do que dizer que há “alguma discussão sobre isso”.

Quando os jornalistas do Observador insistiram e questionaram o embaixador sobre o porquê do Irão pedir desculpa se havia uma “possibilidade real de sabotagem” em aberto, o embaixador ainda recuou mais:

Eu não tenho essa informação. Eu só digo que há notícias contraditórias sobre todos os aspetos à volta do que aconteceu. Podendo ter havido alguma sabotagem eletrónica, aquele incidente aconteceu. E, talvez, aquele tenha sido o último elo na corrente de questões que acabaram por levar ao disparo daqueles dois mísseis. Pode ter havido alguns passos que levaram a este acontecimento infeliz e essa foi a fase final de todo o processo”.

O diplomata lembrou a importância de esperar pelos resultados da investigação levada a cabo por peritos internacionais da ICAO (Organização Internacional de Aviação Civil), mas ainda assim é claro: “O facto é que esse erro aconteceu. Isso não vai desaparecer. Está aqui e o Irão assumiu a responsabilidade e vai dar o seu melhor para remediar as consequências”, disse.

Assim, a frase atribuída a especialistas russos de que o “Exército dos EUA converteu o Boeing ucraniano em alvo para a defesa iraniana através de ataques cibernéticos” não está, até agora, provada, nem sequer é valorizada pelo próprio Irão. O governo iraniano enfrentou, aliás, violentos protestos por ter abatido o avião comercial

O site militar russo Avia.pro abordou a questão do acidente que envolveu o Boeing 737 ucraniano, abatido…

Posted by Queremos a RT em português on Saturday, January 11, 2020

Conclusão

O Irão admite que abateu o avião ucraniano por engano. Além disso, nenhuma entidade oficial iraniana (nem de outros países — nem mesmo a Rússia o disse diretamente) acusou o exército dos EUA de ter utilizado a sabotagem informática para abater o avião. Mesmo o embaixador iraniano, quando foi entrevistado pelo Observador, disse não ter “informação” sobre a alegada sabotagem, embora admitisse que tinha sabido de “alguma discussão sobre o assunto” na imprensa russa. Não há, até ao momento, qualquer prova de sabotagem, muito menos da origem dessa eventual sabotagem. É por isso importante conhecer os resultados da investigação que ainda não está terminada, uma vez que o Irão também ainda não cedeu as caixas negras do avião, como já foi sublinhado há dias pelas autoridades canadianas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador o conteúdo é:

ERRADO

De acordo com o sistema de classificação do Facebook o conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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