Várias publicações que circulam na rede Facebook alegam que a farmacêutica Pfizer e as autoridades de saúde esconderam um estudo realizado em crianças que tomaram a vacina contra a Covid-19 fabricado pela empresa, estudo esse que diz ter detetado casos de miopericardite apenas em crianças que receberam a vacina. “A Pfizer e os Centros de Prevenção e Controlo de Doenças esconderam um estudo realizado em 1,7 milhões de crianças e adolescentes que tomaram a vacina contra a Covid-19, após o resultado detetar miopericardite apenas nos grupos vacinados”, pode ler-se na referida publicação.

O estudo a que a publicação se refere foi publicado em maio de 2024 e tem como título “A eficiência da vacinção Covid-19 em crianças e adolescentes”. Os investigadores britânicos, autores do trabalho, analisaram os registos de saúde de 1,7 milhões de crianças e jovens (entre os 5 e os 15 anos), tendo dividido a amostra em três grupos: um primeiro grupo de crianças e jovens aos quais foi administrada uma dose da vacina desenvolvida pela BioNTech e fabricada pela Pfizer; um segundo ao qual foi administrada as duas doses da vacina; e um outro grupo de não inoculados.

O estudo observacional compara os três grupos num conjunto de parâmetros: taxa de infeção pelo vírus SARS-CoV-2, idas aos serviços de urgência, hospitalização por Covid-19 e incidência de miocardites e pericardites — inflamações do músculo cardíaco. No que diz respeito a este último indicador, a investigação concluiu que apenas foram registados casos nos grupos das crianças e adolescentes vacinados. “Foram documentadas apenas nos grupos vacinados, com taxas de 27 e 10 casos/milhão após a primeira e segunda doses, respetivamente”, escrevem os investigadores.  Os investigadores não estabelecem, no entanto, qualquer relação entre a vacina e as miopericardites.

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Além disso, o estudo em causa tem uma lacuna grave — que, aliás, não é ocultada. Logo no topo do artigo, surge a indicação de que a investigação não foi revista por pares, um procedimento fundamental para credibilizar os estudos e que impede que as conclusões sejam usadas para orientar a prática clínica e científica. Sem notabilidade e sem divulgação no meio científico, o estudo não teve eco na imprensa nem foi valorizado pela empresa cuja vacina estava a ser analisada — a Pfizer.

Aliás, esta conclusão do trabalho parece ir em sentido contrário a outros estudos publicados, e esses sim revistos por pares, que demonstraram que o risco de miocardite é significativamente maior em pessoas que não tomaram a vacina e que foram infetadas com SARS-CoV-2 do que em pessoas vacinadas. Um deles, bem mais robusto do que o estudo britânico em questão, analisou 55 milhões de pessoas. Publicado na revista Frontiers in Cardiovascular Medicine, o trabalho concluiu que o risco de desenvolver miocardite era sete vezes mais baixo em pessoas vacinadas contra a Covid-19.

Conclusão

A Pfizer e as autoridades de saúde não ‘esconderam’ um estudo que mostrou que só foram registados casos de miopericardite em crianças vacinas contra a Covid-19. A investigação em causa não foi revista por pares e, por isso, não teve eco na comunidade científica e, consequentemente, na imprensa e junto das autoridades de saúde.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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