Balthazar Martinot é o nome do relojoeiro mais famoso do seu tempo — serviu Luís XIV, rei de França. Mas não é por causa das suas ligações à monarquia, nem dos seus famosos relógios, que o nome de Martinot, nascido em 1636, tem aparecido nas notícias.

O motivo é uma das suas criações: um relógio original do século XVII, oferecido a D. João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (entre 1816 a 1822, ano da independência do Brasil). Esse relógio, de “valor inestimável”, foi destruído durante o ataque aos Três Poderes, em Brasília. Agora, surgem imagens nas redes sociais que sugerem que o relógio destruído é a prova de que os atos de vandalismo nos edifícios dos poderes legislativo, executivo e judicial do Brasil foram encenados.

Manifestantes arrancaram ponteiros a relógio “raro” levado para o Brasil por D. João VI e oferecido por Luís XIV

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“É muito cara de pau, acharam mesmo que ninguém iria olhar para a hora?” A pergunta é acompanhada de uma imagem do relógio de pêndulo desenhado por André-Charles Boulle e fabricado por Martinot. “O relógio usado para gerar comoção é o mesmo que mostra que algo não está certo. Os manifestantes chegaram aos prédios por volta das 15 horas e o relógio marcava 13h30 quando foi quebrado.”

A imagem do relógio que tem corrido as redes sociais

Parece, de facto, que algo não bate certo. Como se explica então que o relógio tenha horas diferentes? Sobre a sua destruição há provas: um vídeo onde se vê o homem que destruiu a peça de antiguidade nos ataques de Brasília de 8 de janeiro. Antônio Cláudio Alves Ferreira foi preso a 23 de janeiro, e está a ser investigado por vários crimes durante o ataque ao Três Poderes.

À data do ataque, o relógio de pêndulo estava no Palácio do Planalto, no terceiro andar, muito próximo do gabinete do recém-eleito Presidente brasileiro, Lula da Silva.

Quando as imagens do relógio destruído, marcando 13h30, começaram a surgir foram vários os jornais brasileiros que procuraram clarificar o sucedido. A resposta veio sempre da secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom): o relógio não funciona há pelo menos 10 anos.

“Por essa razão, não há como levar em consideração o horário marcado por ele nas imagens internas do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro”, explicou a fonte oficial à Globo. A Secom esclareceu ainda que “no segundo mandato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi realizada a tentativa de manutenção do relógio, sem sucesso, por se tratar de um objeto histórico e de difícil reparação.”

Conclusão:

Falso. Fonte oficial garante que há pelo menos dez anos que o relógio está parado nas 13h30 e, como tal, não prova que os atos de vandalismo — que aconteceram entre as 15h26 e às 17h14, segundo câmaras de vigilância — foram encenados. A secretaria de Comunicação da Presidência da República acrescenta que no segundo mandato de Lula da Silva havia vontade de restaurar o relógio, mas isso acabou por se tornar inviável “por se tratar de um objeto histórico e de difícil reparação.”

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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