Tal como outros países, Portugal começou o ano de 2022 num período de seca que afetou vários setores da sociedade. Uma publicação de Facebook do dia 20 de fevereiro garante agora que em Sintra houve desperdício de água potável por causa do esvaziamento de reservatórios para limpeza.

Autor alega que SMAS de Sintra desperdiçou água potável.

A publicação veio acompanhada de várias fotografias que demonstram algumas ruas visivelmente cheias de água. O autor culpa os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Sintra (SMAS) pelo sucedido, questionando também o local para onde a água terá ido. “Encaminhada para onde? Destino incerto, vai para a sarjeta”. Ora, a primeira dúvida que se coloca nesta situação é se as fotografias são verdadeiras. E a resposta é: sim.

Essa confirmação veio do SMAS de Sintra ao Observador, onde se garante que “a situação reportada resulta de trabalhos de higienização e desinfeção de um dos 53 reservatórios de água do concelho de Sintra”. História diferente, refutada pelo SMAS de Sintra, é a do “desperdício de água”. Isto porque a libertação de água acumulada no sistema de distribuição do concelho “é necessária para possibilitar a entrada da equipa de higienização e desinfeção e a execução dos trabalhos”, sendo que o seu abastecimento, nos dias e horas anteriores, “é suspenso”. O reservatório em causa foi assim alvo de uma intervenção e, por via do consumo de água por parte da população, “o volume e o nível de água armazenado acaba por diminuir e ser muito reduzido”.

Quanto à água que se vê nas imagens, ela foi libertada para o coletor pluvial. Mas esse processo tem uma explicação. “A água remanescente é, assim, libertada para a rede de drenagem pluvial por não poder ser consumida, uma vez que pode apresentar alterações dos parâmetros de qualidade, como o sabor e a turvação”, explica o SMAS. Portanto, não existe desperdício de água potável porque a água não é própria para consumo, segundo o SMAS de Sintra. E mesmo em períodos de seca, segundo aquele instituto, estas intervenções “são essenciais para garantir a qualidade da água distribuída ao consumidor final”.

Estas justificações estão em linha com uma recomendação de 2018 por parte da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos quanto à inspeção, limpeza e higienização de reservatórios destinados ao armazenamento de água para consumo humano. Na página quatro do documento consultado pelo Observador, por exemplo, lê-se que “os reservatórios devem ser sujeitos a ações regulares de higienização com uma periodicidade adequada às caraterísticas do sistema de abastecimento da água, seja público ou predial”.

Contudo, e apesar de todos os argumentos do autor terem sido contrariados pelo SMAS, é necessário esclarecer outro ponto. A água não pode, de maneira alguma, ser encaminhada para saneamento porque isso é proibido por lei. O SMAS de Sintra garante ao Observador que a água foi para as pluviais, mas não efetuou nenhum registo documental. Também é importante referir que a quantidade de água captada nas imagens partilhadas é reduzida.

Conclusão

O autor de uma publicação de Facebook alega que houve desperdício de água potável numa higienização do SMAS de Sintra. O organismo contraria esta versão, alegando que, apesar de as imagens serem verdadeiras, mais não foi do que um processo habitual, que teve também de suspender, por momentos, o abastecimento de água para consumo. Essa água visível nas imagens não era própria para consumo e seria em quantidades muito reduzidas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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