Três anos depois da administração das primeiras vacinas contra a Covid-19, o tema continua a ser alvo de muita desinformação online (aqui, aqui e aqui). É o caso de uma publicação que anda a ser partilhada nas redes sociais e que alega que a Universidade de Yale, nos Estados Unidos, desenvolveu uma tecnologia que “transmite” vacinas através do ar. Não é verdade.
O post diz estar a citar um artigo publicado a 16 de agosto de 2023 na plataforma Science, a revista científica da Associação Americana para o Avanço da Ciência. Em causa está um estudo intitulado “Polymer nanoparticles deliver mRNA to the lung for mucosal vaccination” — em português, “Nanopartículas poliméricas transportam mRNA ao pulmão para a vacinação de mucosas”. No entanto, fazendo uma comparação direta entre os dois, percebemos que abordam conceitos bem diferentes.
Uma simples pesquisa online permite-nos concluir que o texto que serve de base à publicação é uma tradução de um outro artigo, em inglês, publicado no site Slay News. Nele é citado o estudo da Universidade de Yale, para referir que “cientistas estão a desenvolver tecnologia mRNA pelo ar” com o objetivo de “vacinar a população sem o seu consenso“.
O texto sublinha que, apesar de os investigadores olharem para esta invenção como “um método conveniente para vacinar grandes populações”, os críticos “levantam preocupações óbvias” sobre o potencial “uso indevido” desta tecnologia. Lê-se também que os testes em animais “abriram a porta para testes humanos num futuro próximo”. Ora, olhando para o estudo original, não encontramos qualquer referência a uma nova forma de vacina de transmissão aérea, nem sequer à possibilidade de vacinação à distância.
Contactado pelo Observador, W. Mark Saltzman, um dos autores do estudo e professor da Faculdade de Medicina de Yale, desmente esta informação. “Ao contrário do que é reportado nas redes sociais, uma técnica aerotransportada não funcionaria em seres humanos“, sublinha o investigador, “e este estudo não envolveu humanos”.
O professor de Yale esclarece que os humanos “devem receber uma dose controlada, diretamente administrada no nariz”. Explica também que o trabalho de investigação desenvolvido “mostrou que a administração de moléculas de RNA mensageiro por via intranasal nos pulmões de animais pode ser usado para vacinar de modo eficaz contra o vírus da Covid”.
Numa resposta por e-mail ao Observador, W. Mark Saltzman adianta ainda que as fontes de financiamento para esta pesquisa estão enumeradas no artigo, também publicado na plataforma PubMed. Deixa igualmente claro que, nesta investigação, não existiu qualquer investimento de Bill Gates ou da fundação gerida pelo fundador da Microsoft — nome muitas vezes associado a fakenews sobre vacinação (aqui, aqui e aqui).
Apesar de a tecnologia de RNA mensageiro ser estudada há décadas, a sua aplicação teve uma repercussão mundial nos últimos anos, nomeadamente quando foi utilizada para a produção em tempo recorde de vacinas contra a Covid-19.
Nobel da Medicina para descoberta que levou à vacina contra a Covid-19
Conclusão
Não é verdade que a Universidade de Yale tenha desenvolvido uma nova forma de imunizante que transmite vacinas “pelo ar”. Contactado pelo Observador, um dos autores do estudo desmente a publicação e esclarece que é “impossível” vacinar seres humanos através do ar.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.