Dezenas de caixões brancos a ser transportados por homens calçados com galochas e com fatos de proteção descartáveis, com os rostos cobertos com máscaras respiratórias, as mesmas que nos habituámos a ver durante a pandemia de Covid-19. As imagens podem ser encontradas num vídeo do TikTok com milhares de partilhas e quase 100 mil gostos.

A legenda que acompanha a imagem é rápida a tirar conclusões: “Este vídeo mostra vítimas de Mpox em África”, referem os autores das publicações, que acusam as autoridades de saúde de “fomentar o medo, tal como fizeram durante a Covid”.

Com recurso ao mecanismo de pesquisa de imagens TinEye, é possível detetar a origem do vídeo que está a ser associado ao funeral de “vítimas de Mpox em África”. A pesquisa remete para um artigo da Reuters, de dia dois de setembro, sobre uma cerimónia fúnebre realizada no Congo, para as vítimas do conflito entre o exército e as milícias rebeldes do país. Sem nenhuma menção a mortes por Mpox, mas sim a “vítimas diretas ou indiretas dos combates”, de civis a membros do exército.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além da Reuters, a Brave TV, um meio de comunicação local da República Democrática do Congo, partilha um vídeo no Youtube, em que mostra imagens idênticas às que estão a ser partilhadas nas redes sociais, mas novamente sem nenhuma menção ao vírus da Mpox.

As imagens que mostram dezenas de caixões brancos e homens calçados com galochas e com fatos de proteção descartáveis, com os rostos cobertos com máscaras respiratórias, foram gravadas no dia dois de setembro, na cidade de Goma, no “Stade de l’Unité”.

A Organização Mundial de Saúde decretou, no final de agosto, a Mpox como uma emergência de saúde pública global, depois de declarar uma emergência de saúde pública em África, devido a uma nova estirpe do vírus. Na altura, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus alertou para “o potencial para uma disseminação além África“.

Menos de 24 horas depois, foi confirmado o primeiro caso fora de África, identificado no dia 15 de agosto na Suécia, na região de Estocolmo. As comparações com a pandemia de Covid-19 foram imediatas e obrigaram às autoridades de saúde, como o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças a vir garantir que os dois vírus “espalham-se de maneiras diferentes, têm riscos completamente diferentes e também há uma vacina eficaz” para o Mpox. Ou seja, que o Mpox “não é a próxima Covid-19“.

Esta não é a primeira vez que são partilhadas informações falsas sobre a Mpox. O Observador já escreveu um Fact Check a desmentir as supostas ordens da Organização Mundial de Saúde aos governos de diferentes países para prepararem novos confinamentos.

Fact Check. OMS ordena que governos se preparem para novos confinamentos por causa da Mpox?

Conclusão

Não é verdade que as imagens que estão a ser partilhadas por várias publicações de Facebook mostrem caixões de vítimas da “Mpox em África”. Uma pesquisa invertida pela imagem, com a ajuda da ferramenta Tineye, remete-nos para as cerimónias fúnebres de vítimas da guerra civil no Congo, em nada relacionadas com o vírus da Mpox.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge