Uma publicação viral de 19 de agosto do ano passado voltou a surgir nas redes sociais, especialmente no Facebook. Alega, através de um vídeo, que estamos perante um “mercado islâmico” de mulheres escravas. A autora alega que as mulheres são obrigadas a estar de joelhos durante horas, cobertas por uma manta à espera de que um homem as compre e as viole. “Nenhuma feminista em Espanha mostra as mamas por elas”, alega. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.

Publicação viral alega que vídeo mostra mercado islâmico de mulheres escravizadas. É falso.

De facto, no vídeo, é possível depreender que estamos perante um grupo de pessoas — não fica claro pelas imagens se se trata de mulheres, uma vez que estão totalmente cobertas por um manto branco —, todas elas ajoelhadas. No entanto, nem o autor nem o vídeo ou qualquer comentário ou fonte oficial podem confirmar que estamos realmente perante aquele cenário descrito pela publicação original.

Com um pouco mais de pesquisa, vamos ao encontro de uma notícia de setembro do ano passado, onde se nega que exista um mercado de mulheres escravas na Etiópia. Através da utilização de ferramentas de identificação de imagens como a Google Images encontramos essa mesma notícia, sendo que é o único resultado credível que pode ser utilizado para verificar esta publicação.

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A reportagem é da France24, que foi à procura da veracidade desta história. Tudo começou quando um político de extrema direita dos Países Baixos terá partilhado um vídeo semelhante ao que o Observador está a verificar. A alegação era de que, na Etiópia, existia um mercado onde mulheres muçulmanas estavam a ser escravizadas e vendidas. No entanto, a France24 chegou à conclusão de que se tratava de um “ritual de passagem que pertence ao grupo étnico Serer, do Senegal, chamado ‘Ndut’ “.

A própria imprensa africana escreveu sobre esta publicação, desmentindo as alegações que propaga. Num vídeo publicado no Youtube em janeiro do ano passado, pode ler-se no título “Ndout Serere: Djilass perpetua a tradição”. Os Serere fazem parte de uma comunidade que vive no Senegal e na Gâmbia e o ritual Ndut faz parte do início de vida adulta dos homens.

Um vídeo mais antigo, publicado também no Youtube em abril de 2017, mostra imagens em muito semelhantes às da publicação aqui em análise. E, na legenda, o vídeo refere que se trata de uma “demonstração de dança Ndut” realizada por dois habitantes locais “na praça da vila”. As imagens nada têm a ver, por isso, com um qualquer mercado islâmico de mulheres escravas.

Conclusão

Não é verdade que um vídeo publicado no Facebook no ano passado, que voltou a circular nas redes sociais, mostre um suposto mercado islâmico de mulheres escravizadas. Este vídeo mostra, sim, um ritual africano de iniciação da vida adulta de uma comunidade no Senegal. Tanto a imprensa francesa como africana já vieram desmentir as alegações deste conteúdo.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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