A notícia apareceu publicada no site Direita Política a 1o julho do ano passado e procura justificar porque é que os restos mortais de Mário Soares não merecem um lugar no Panteão Nacional. Segundo os autores, isso deve-se ao facto de as honras de Panteão servirem para “homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade” — e, no seu entender, Mário Soares não merece tamanha distinção.

Apesar de o título da notícia, que já teve mais de 5 mil partilhas (1,4 mil só nos últimos dias), dizer respeito à questão do Panteão, a imagem que acompanha o artigo é uma montagem com a fotografia do ex-Presidente da República acompanhada da frase “Mário Soares será sempre o maior corrupto de Portugal”. Quando o conteúdo é partilhado no Facebook, é essa acusação que se destaca nessas publicações de partilha. Contudo em nenhum momento do texto, ou do vídeo que acompanha o texto, essa acusação é fundamentada, o que leva a crer que, pelo menos, há uma manipulação dos autores para juntar narrativas que não estão objetivamente ligadas.

A única altura em que os autores do artigo procuram justificar que não veem “qualquer finalidade em transladar o corpo de Mário Soares para o Panteão Nacional” é através de um vídeo das imagens de Mário Soares a visitar o ex-primeiro-ministro José Sócrates à prisão, quando foi detido inicialmente, mostrando-se agressivo com os jornalistas e falando num tom que é descrito como “ameaçador”. “Mário Soares diz que Sócrates está inocente! Mesmo sem conhecer as provas? Diz que foi maltratado com tropelias, mas quando perguntam quais foram os maus tratos, diz que foi levado pela polícia. Isso é um mau trato?”, lê-se no texto que acompanha o vídeo.

Sem factos, dados ou fundamento, a informação que é dada como certa na imagem (de que Mário Soares foi “o maior corrupto de Portugal”) não aparece explicada em nenhum momento do artigo. A verdade é que Mário Soares, que foi primeiro-ministro de Portugal entre 1976 e 1978, e entre 1983 e 1985, e Presidente da República entre 1986 e 1996, nunca foi acusado de nenhum crime relacionado com corrupção. Como todos os políticos, o fundador do PS foi sempre alvo de todo o tipo de acusações ao longo da sua carreira, mas não se conhece nenhum processo judicial em que tenha estado envolvido, nem sequer qualquer pedido de levantamento de imunidade quando a ela tinha direito pelas funções que exercia.

Conclusão

O título da notícia diz apenas que se trata de uma petição para evitar a transladação de Mário Soares para o Panteão, mas a fotografia que acompanha a peça (que tem mais destaque na partilha do Facebook) diz que “Mário Soares será sempre o maior corrupto de Portugal”.

É falso e gratuito dizer que Mário Soares foi um dos maiores corruptos de Portugal, na medida em que em nenhum momento se fundamenta com quaisquer dados ou palavras a afirmação entretanto partilhada por milhares de leitores.

No sistema de classificação do Observador este conteúdo é:

Errado:

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associados de reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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