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Uma mesa de plástico desmontável, uma cadeira igualmente de plástico dobrável, um escritório montado no meio de um corredor com vista privilegiada para um dos gabinetes de sonorização da Rádio Observador. Foi neste cenário que, durante longas semanas, trabalhámos na criação dos quatro episódios de “A Corte de Luanda”. Este é o tipo de tarefa normalmente feito por duas pessoas “trancadas” numa sala, mas o SARS-Cov-2 obrigou a medidas de distanciamento. Como se resolve? Monta-se um escritório no corredor. No Observador somos muito práticos. |
Com a Beatriz Martel Gracia (e a ajuda dos sonoplastas Diogo Casinha e Bernardo Almeida), fomos construindo os episódios, som a som. A Beatriz tratava e editava os registos de áudio com a mestria de um artífice e eu (sentado no corredor) ia organizando a linha do que agora podemos ouvir. |
Pode parecer um exagero, mas discutimos muito sobre cada segundo agora disponível. “Qual a melhor forma de usarmos este som para contar esta parte da história?”, foi a pergunta que nos fizemos inúmeras vezes. E discutir é o verbo certo: eram duas pessoas com 22 anos de diferença a trabalhar juntas durante semanas a fio… mas ficou tudo bem. |
Aqui e além foi necessário corrigir alguns pontos, frases, palavras e, por isso, voltámos várias vezes ao estúdio. Com a Dulce Neto, que fez um fantástico trabalho de recolha e de pesquisa sobre José Eduardo dos Santos, regravámos algumas frases. Para isso, foi necessário reencontrar o tom entusiasmado da primeira conversa, gravada umas semanas antes — e acredite que não é fácil. |
A Dulce estará, por certo, a sorrir ao ler este texto e a recordar a forma como tentámos guiá-la: “Aqui, mais energia”, “aqui estavas com um tom mais baixo e mais lento” e “esta é uma frase de conclusão”, íamos repetindo. |
A conversa com Filipe S. Fernandes (autor do livro “Segredos e Poder do Dinheiro”) sobre Isabel dos Santos foi gravada em tempos de pré-pandemia. Sim, este trabalho arrancou há muitos meses. Nessa altura estávamos os dois num estúdio de dois metros por um e sem máscara, algo impensável por estes dias. |
E ainda mais um pormenor: o João de Almeida Dias, além de uma recolha exaustiva de material de elevada qualidade sobre os delfins Manuel Vicente e João Lourenço, trouxe kuduro. Ele sabe como conquistar as pessoas da rádio. Entre duas possibilidades kuduristas (nunca pensei escrever isto numa newsletter), optámos por esta — e esta ficou para outra oportunidade. |
E depois temos os tradicionais problemas com as máquinas. O disco rígido do meu computador ficou cheio, o desktop da sonoplastia avariou e, algumas vezes, pregou-nos sustos valentes, sempre que ficava com o ecrã escurecido e a pensar, “nem para trás nem para a frente” — mas nunca perdemos as alterações. |
Com este trabalho de investigação procurámos mostrar como os percursos de vida destas personagens se misturam com a História recente de Angola. A rede de poder económico e político de um país onde a larga maioria vive na miséria. |
Estou a escrever este texto no corredor, na tal mesa de plástico, sentado na tal cadeira desdobrável, à porta do gabinete da Beatriz Martel Garcia, que está a dar os últimos retoques nos episódios. Ao longo das últimas semanas, ouvimos repetidamente duas perguntas de quem passava: “Ainda aí? Quando é que acabam isso? Quero muito ouvir”. Esta última parte revela muito sobre o que é o Observador e as pessoas que cá trabalham: há uma genuína preocupação com tudo aquilo que publicamos e pomos no ar, todos querem participar nesse esforço e esse é um dos nossos segredos. Agora já podemos ouvir todos. |
“A Corte de Luanda” é uma série inédita do Observador em podcast, com quatro episódios: |
- O Viajante e O Chefe, ambos dedicados ao ex-Presidente de Angola;
- A Cara do Pai, que revela como Isabel dos Santos foi construindo a sua fortuna;
- e O Mimoso, que mostra como João Lourenço é um filho do sistema.
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Os podcasts foram feitos com base na investigação que deu origem a quatro trabalhos especiais em texto, fotografia e vídeo: |
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