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Foi um máximo histórico, mas só durou 24 horas. |
O dia 21 de julho deste ano, domingo, foi classificado como o dia mais quente alguma vez registado na história humana. Com uma temperatura média a nível global de 17,09ºC, aquele domingo superou por uma ligeira margem os máximos históricos, que tinham sido registados no início de julho de 2023. |
Um dia depois, o recorde já tinha caído. Afinal, a segunda-feira seguinte, 22 de julho, é que foi o dia mais quente alguma vez registado na história humana: a temperatura média do planeta nas 24 horas daquele dia foi de 17,15ºC. |
O mês de julho foi apenas o mais recente numa sequência ininterrupta de recordes que se arrasta há 13 meses consecutivos: desde junho de 2023 que todos os meses têm sido, sem exceção, os mais quentes alguma vez registados. |
Feitas as contas, os quatro dias mais quentes registados na história foram todos naquela quarta semana de julho — uma semana de picos de temperaturas elevadíssimas que coroou várias semanas em que a temperatura da Terra esteve sempre pelo menos 1.5ºC acima dos níveis pré-industriais. Ou seja, durante algumas semanas foi possível testemunhar aquilo que, no futuro, poderão ser as condições permanentes no planeta. Por tudo isto, 2024 está a encaminhar-se para ser o ano mais quente de que há registos. |
O impacto desta onda de calor foi visível em vários pontos do planeta, especialmente devido aos incêndios florestais. Em Portugal, vários incêndios deflagraram em diferentes locais do país nas últimas semanas — e um fogo em Alcabideche, concelho de Cascais, chegou mesmo a deixar 14 pessoas feridas. A situação mais grave nos últimos dias tem-se registado em Atenas, na Grécia, onde dois grandes incêndios já fizeram pelo menos um morto e já obrigaram à evacuação de dezenas de localidades. Na Califórnia, outro local problemático a nível mundial no que toca aos incêndios, um enorme incêndio que no início de agosto já tinha consumido mais de 160 mil hectares é já considerado o quarto maior incêndio da história do estado. |
Além dos incêndios, as temperaturas em crescendo estão a ter um impacto direto na vida humana: um estudo recente mostra que, só em 2023, mais de 47 mil pessoas morreram na Europa como consequência das altas temperaturas. Em Portugal, 1432 pessoas perderam a vida devido ao calor no ano passado. A Organização Meteorológica Mundial, por seu turno, já veio garantir que o calor extremo de julho provocou “impactos devastadores” em centenas de milhões de pessoas. |
A propósito deste estudo, a jornalista Adriana Alves foi ouvir especialistas para tentar perceber como é que as altas temperaturas impactam realmente o corpo humano, uma máquina surpreendentemente sensível ao calor, capaz de detetar pequenas variações de temperatura — e programada para regular a sua própria temperatura. Apesar disso, e apesar das medidas eficazes que têm sido adotadas nas últimos anos, a ciência deixa um aviso sério: o corpo humano tem limites e o calor impacta fortemente os sistemas cardíaco e respiratório. |
Após incêndios, terrenos ardidos continuam a emitir CO2 durante anos |
Os incêndios cada vez mais frequentes são uma das mais trágicas consequências do aumento das temperaturas do planeta — mas o impacto dos fogos florestais ultrapassa largamente o curto prazo, de acordo com um estudo recente sobre as emissões de dióxido de carbono com origem nas áreas queimadas. |
A conclusão? Depois de um incêndio, uma região queimada pode continuar a emitir dióxido de carbono para a atmosfera durante anos, largando nesse processo mais CO2 do que o emitido durante a propagação das chamas. |
As florestas são dos mais importantes reservatórios de carbono do planeta. Capazes de absorver dióxido de carbono e libertar oxigénio, as árvores desempenham um papel crucial na regulação do planeta — e as florestas, especialmente aquelas existentes nas latitudes mais elevadas, têm toneladas de CO2 armazenadas há décadas. A Taiga (ou Floresta Boreal), a grande faixa florestal subártica entre a América do Norte e a Sibéria, é uma das mais relevantes: ao longo de milhares de anos, retirou da atmosfera cerca de um bilião de toneladas de dióxido de carbono, que se encontram armazenadas nos solos e nas árvores. |
Um incêndio numa floresta tem um impacto climático evidente: a libertação do dióxido de carbono que estava armazenado nas árvores ardidas. O estudo conduzido por climatologistas da Universidade de Lund conclui, porém, que o impacto climático não ocorre apenas durante o incêndio: após a extinção das chamas, durante vários anos, os terrenos ardidos continuam a libertar dióxido de carbono para a atmosfera. |
As investigadoras olharam especialmente para regiões florestais na Suécia, onde os incêndios têm ocorrido com frequência cada vez maior nos últimos anos, e concluíram que um terreno ardido em 2018 continuou a emitir uma média de 650 gramas de dióxido de carbono para a atmosfera por cada metro quadrado, durante os primeiros quatro anos após o incêndio — mais do dobro das emissões de dióxido de carbono durante o fogo. |
Através de modelos que simulam o crescimento florestal, as investigadoras concluíram ainda que seriam precisos mais de 40 anos para que todo o dióxido de carbono emitido como consequência daquele incêndio de 2018 fosse novamente capturado por novas florestas. Por isso, recomendam ainda as autoras do estudo, qualquer cálculo do impacto ambiental e climático de um incêndio tem sempre de ter em conta as emissões de longo prazo que resultam do fogo. |