Filho de pai sindicalista e tendo crescido entre emigrantes portugueses e italianos, Jean-Claude Juncker diz que desde cedo se deparou com os problemas do mundo laboral e que daí vem a sua afinidade com os países do Sul. Integrou o Partido Popular Social Cristão em 1974 e ocupou vários cargos governativos. Foi ministro das Finanças e presidente do Ecofin em 1991, liderando na altura as negociações do Tratado de Maastricht, até ser eleito primeiro-ministro do Luxemburgo em 1995, cargo que exerceu durante 18 anos. Juncker é o líder político europeu democraticamente eleito que mais tempo esteve à frente de um governo. Saiu em 2013 devido a um escândalo sobre os sistemas de informação. Foi ainda durante oito anos presidente do Eurogrupo, órgão que junta todos os ministros das Finanças da zona euro.
Durante a campanha das europeias, o maior apoio à sua candidatura veio de Angela Merkel. A chanceler alemã foi decisiva para determinar a eleição do ex-presidente do Eurogrupo dizendo, mesmo, que “não era segredo” a simpatia que tem por Juncker. Agora, no processo de decisão no Conselho, também foi Merkel quem se bateu contra o seu maior adversário, o inglês David Cameron. Mas nesta fase teve já o apoio formal dos socialistas europeus, que respeitaram o compromisso eleitoral de fazer eleger o candidato do partido europeu mais votado a 25 de maio.
Foi escolhido no congresso do Partido Popular Europeu (PPE), em Dublin, a 7 de Março deste ano. Tinha como maior oponente o francês Michel Barnier, atual comissário europeu do mercado interno. Juncker ganhou com 382 votos, contra os 245 favoráveis a Barnier. Agora, na decisão do Conselho, teve apoio quase unânime dos chefes de governo dos 28 – excepção feita a Cameron e ao primeiro-ministro da Hungria.
Para ser eleito em termos formais, Juncker precisa ainda dos votos maioritários do Parlamento Europeu. Com o apoio do PSE, isso não deve ser difícil. Mas o luxemburguês tem algumas qualidades que podem ajudar no ‘dia D’, desde logo a sua experiência. Para além dos cargos executivos no Luxemburgo e nas instituições europeias, foi também governador do Banco Mundial e do FMI. À frente do Eurogrupo, mostrou posições mais flexíveis do que a Alemanha face aos países em dificuldades financeiras. É um mediador, por excelência.
Tem uma posição demasiado informal e é dado a algumas gafes. Em 2011, admitiu que já tinha mentido para não alimentar a especulação dos mercados.
Tem 59 anos e nasceu em Redange-sur-Attert, no Luxemburgo.
Licenciado em Direito pela Universidade de Estrasburgo.
Casado com Christiane Frising desde 1979, sem filhos.
Católico.
Adora ler, fumar e beber cognac. Esteve em coma durante duas semanas, após um acidente de viação em 1989. Tem um cão chamado Plato (Platão, em português). Sobre o cão, Juncker diz que “faz muitas coisas, mas nem sempre da maneira correta”. “Um verdadeiro grego”, conclui o ex-primeiro-ministro. No verão passado, não teve medo das possíveis represálias devido à crise, e fez férias na ilha de Ítaca, na Grécia – tal como Hollande, que também escolheu esta ilha como destino de férias. Juncker teve direito a tratamento preferencial na cidade de Vathy e fez-se acompanhar por guarda-costas.
“Tão sociais como os socialistas” parece ser o lema de Juncker para o centro-direita europeu. O ex-primeiro-ministro luxemburguês não quer que seja o PPE a carregar todas as culpas da austeridade, enquanto os socialistas têm o “monopólio do coração dos europeus”. Assim, crescimento e emprego também estão no seu programa, mas dependem de reformas profundas nos setores da saúde, sistema de pensões, mercado de trabalho e sistemas fiscais. Com isto, quer estimular a produção industrial, o empreendedorismo e a inovação. A aposta é ajudar os privados, especialmente as pequenas e médias empresas.
Para Juncker, não há “pausas” na disciplina orçamental. Ela veio para ficar. Especialmente quando países como França estão em perigo de ultrapassar novamente o limite de défice de 3% com que se comprometeram. Despesa pública não equivale a mais desenvolvimento para o ex-governante que, no seu programa, avisa que rejeita gastos “imprudentes” do dinheiro dos contribuintes.
A dívida é para ser paga, mas há lugar para solidariedade europeia se for necessário. Para Juncker, acumular mais dívida é antisocial e antidemocrático.
Sim, é um federalista assumido.