Há 50 anos, as jovens gerações passaram por fenómenos sociais, económicos e políticos depressivos, ao ponto de as Instituições lançarem objetivos de desenvolvimento sustentável para o milénio, declarando anos europeus da juventude ou organizando jornadas mundiais pelos jovens.

Já nessa altura, a data de celebração oferecia poucos festejos. Antes refletíamos nas problemáticas que os jovens enfrentavam, que cresceram a cada ano. A falta de feitos levou-nos até aqui. Hoje, já não temos quase juventude para celebrar. A efeméride de 12 de agosto já não faz parte do calendário.

As faculdades vão ficando vazias e, a pouco e pouco, são convertidas em espaços para pessoas idosas. A população diminuiu cerca de 23% e somos agora, apenas, 8 milhões, dos quais só 4 milhões têm idade para trabalhar.

Na minha juventude, os estágios não eram pagos, os salários eram baixos e os empregos precários. Atrasaram a emancipação da geração mais qualificada de sempre (é assim que o robô se refere à minha geração quando conversamos). Na época, nem se apercebiam que estavam a prejudicar a sustentabilidade da proteção social, uma vez que atrasámos as nossas contribuições.

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Trabalhamos durante mais tempo, porque a idade da reforma, claro, aumentou, e parece que continuará a subir. O valor das pensões é diminuto. Vejo manifestações como nunca pensei ver. Outrora, assisti a um cenário semelhante em França, através da televisão. A serenidade do povo português já não é o que era.

A geração Z e os millennials não tiveram uma emancipação digna e a sua velhice segue os mesmos contornos. O País não conseguiu evitar a sangria de talento, nem atrair imigrantes suficientes para renovar a economia. Tanto se falou e escreveu, mas pouco se fez. As ações não tiveram o impacto desejado. Também não estamos a tirar partido substancial da Inteligência Artificial. Não admira que o potencial de crescimento da economia portuguesa seja o mais baixo da Europa.

Quando era jovem, com a crise habitacional, não tive outra opção que não fosse partilhar casa com desconhecidos. Os meus sobrinhos dizem que estava à frente do tempo. Nos dias que correm, são muitos os que, igualmente, escolhem viver numa habitação partilhada, com zonas comuns como a cozinha, a sala de estar e a lavandaria. Sentimo-nos menos sozinhos, vivemos juntos, em comunidade, e poupamos mais, o ambiente e a Wallet.

Em 2023, o então Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, avisava que estávamos na era da ebulição global, e não mais na era do aquecimento global. Ainda assim, não deram a atenção merecida à crise climática. A escassez de água é real. Vivemos a força do Verão todos os dias e somam-se incêndios por todo o lado.

Nesse ano, a vizinha Espanha tinha proibido o trabalho ao ar livre durante o calor extremo. Hoje, os pescadores e agricultores, também o setor da construção civil, estão paralisados demasiadas vezes devido aos dias tórridos. Ainda me lembro do nosso País ser invejado pelo clima… bons velhos tempos!

Os robôs estão a evoluir e a prestar cuidados, pois não há gente que chegue para o efeito. Já fazem parte do “mobiliário” das habitações colaborativas. Temos de os partilhar, porque são caríssimos. Vivemos mais anos, mas não estamos mais saudáveis. 2070 parecia tão longínquo…!

Ao mergulhar no tempo, vislumbro um amanhã assustador. Volto ao presente, consciente de que os cenários para 2070 não são profecia.

O futuro depende do dia de hoje. Depende de nós, os jovens, da nossa capacidade crítica, de intervenção e de reivindicação. A forma como o preparamos é a chave do progresso e do respeito, para a Humidade e para o Planeta.

A nossa geração tem muito mais de protagonista do que de espectadora. Não tenhamos medo, e sejamos cultivadores do País e do Mundo em que sonhamos viver.

Longa vida à Juventude e ao dia que celebra a sua existência.