5 de outubro de 2017. Era um dia aparentemente normal. Em família, fomos visitar o Jardim Buddha Eden, no Bombarral. De repente, senti que algo estranho estava a acontecer. Tinha um cansaço fora do normal, bastante dificuldade em andar e, se não fosse o comboio que circulava pelo parque, a visita não tinha acontecido. Recordo-me que parecia um idoso de 90 anos.

O dia continuou e à noite ainda consegui arranjar coragem para ir jantar com a família. Mas, cada garfada parecia uma batalha e o mal-estar continuava a não dar tréguas.

No dia seguinte, após uma noite pouco tranquila, lá fui trabalhar, mas com bastante sacrifício. A dificuldade em andar ia aumentando, a má disposição começou a piorar significativamente e as dores no peito começaram a surgir. Pensava eu que estava com mais uma gripe ou que o tabaco era o principal responsável pela dor no peito. Por ser fumador não seria de estranhar se me fosse diagnosticado algo ao nível pulmonar.

Ansiava por chegar a casa. E, assim que cheguei, a minha companheira – que tem o curso de primeiros socorros – percebeu que, devido aos meus sintomas, o melhor a fazer seria ligar para o 112. Foi isso que fez de imediato. Felizmente, os bombeiros chegaram rápido e acionaram o pedido de assistência médica do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

Recordo-me de sentir um aperto enorme no peito, como se tivesse vários quilos em cima. Estranhamente e, em simultâneo, uma sensação de bem-estar e sem qualquer tipo de dor e de má disposição. Rapidamente fui transportado numa cadeira de rodas e senti que o meu coração tinha parado. A última imagem que interiorizei foi o espelho do elevador à minha frente, onde eu me via, mas sem qualquer noção do que me estava a acontecer.

Decorridos alguns minutos, acordei dentro da ambulância com uma médica a falar comigo. Nesse momento senti-me como se estivesse no fundo do oceano, a nadar até ao cimo, uma espécie de afogamento iminente. Todo este episódio culminou num enfarte com paragem cardíaca. Estava a um mês de celebrar os meus 50 anos.

Tive sorte. Fui socorrido a tempo pela equipa médica do Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde fui submetido a um cateterismo [procedimento médico que permite diagnosticar e tratar doenças cardíacas, como o enfarte agudo do miocárdio]. Fiquei internado durante uma semana e contei com todo o apoio médico. Nesse período apresentaram-me um novo programa de reabilitação cardíaca que incluía consultas de várias especialidades e áreas, como o tabagismo, a nutrição, a psicologia e a cardiologia.

Estive de baixa durante 45 dias consecutivos, mas o cardiologista que me seguia aconselhou-me a voltar ao trabalho, findo este período. Assim fiz, embora com muito custo, mas hoje sei que foi a melhor opção. O regresso ajudou-me a superar mais depressa alguma ansiedade decorrente deste processo.

Durante seis meses segui o plano de exercício físico na íntegra com avaliações sistemáticas dos comportamentos físicos e alimentares conforme o que me era exigido. Contei com o total apoio da minha esposa em todo o processo de recuperação. O meu filho, à época, estudava em Espanha, através do programa Erasmus, mas falava diariamente comigo por telefone. Curiosamente, quando tive alta, o meu filho teve de vir a Portugal e conseguimos aproveitar algum tempo juntos.

Até ao dia em que tive o enfarte tinha estilos de vida que – consigo reconhecer atualmente – foram prejudiciais. Profissionalmente vivia em modo acelerado, sem regras, sem horários, com maus hábitos alimentares e muitos cigarros por dia. Desconheço qualquer antecedente familiar relacionado com o enfarte e durante todo o processo foi-me transmitido que este episódio poderia repetir-se, o que me levou a fazer novas escolhas.

Hoje, passados cerca de seis anos, sinto que sou uma nova pessoa. Alterei muitos dos meus hábitos, deixei de fumar, tenho uma alimentação muito mais cuidada, pratico exercício físico três vezes por semana, deixei de ser sedentário e, profissionalmente, passei a dar prioridade ao que é realmente importante. Cumpro o que me é recomendado pela equipa médica sem esforço e até com bastante entusiasmo e vontade.

Agradeço a toda a equipa do Hospital Garcia de Orta por me ter mostrado este novo caminho para o meu bem-estar e por me ter levado a descobrir o meu novo “eu”.

Joaquim Almeida tem 56 anos e é comercial no setor automóvel. Em 2017 teve um enfarte agudo do miocárdio que o fez alterar os hábitos de vida.

Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.

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