Quer gostemos, quer não, o movimento socio-político que Trump representa continuará, ao que tudo indica, a ser uma força poderosa na política americana, independentemente do resultado de Novembro.
Trump faz parte de uma estirpe da política americana que o presidente Andrew Jackson fez chegar ao poder em 1828. Na política interna, os Jacksonianos são cépticos em relação às grandes empresas, detestam o establishment político e social e exigem soluções de “senso comum” para problemas complexos. Apoiam as forças armadas, mas não uma classe de oficiais vista como distante da realidade, valores e costumes da nação (os pretensiosos “stuffed shirts” de West Point no século XIX, ou os ditos “generais woke” atualmente). Assumem que a classe política é corrupta a um nível de profundidade tal, que se torna impossível restaurá-la, resultando apenas uma solução. A revolução.
Na política externa, os jacksonianos não sentem necessidade de espalhar a democracia pelo mundo. Instintivamente realistas, vêem as Nações Unidas e o direito internacional com desprezo. Na ausência de ameaças sérias contra a América, os jacksonianos têm pouco interesse em assuntos externos. Mas quando os EUA são atacados, acreditam que todas as medidas são justificadas para a sua defesa. Os Jacksonianos não lamentam os ataques a alvos civis durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo Hiroshima e Nagasaki. A guerra sem tréguas contra os terroristas justifica-se; a maioria dos Jacksonianos apoia todas as acções de Israel em Gaza e acredita que os EUA devem responder ao terror com a mesma robustez.
O atentado a Trump tornou a América um pouco mais jacksoniana e deu a Trump um controlo ideológico férreo sobre esta América jacksoniana. A tentativa de assassinato reforçou a sensação de que a América Jacksoniana está a ser cercada. Quaisquer ataques a Trump que sejam dirigidos pelas instituições políticas e jornalísticas só irão aumentar a sua posição junto dos seus seguidores e inflamar o ódio jacksoniano às elites. Quanto mais Jacksoniana for a América, mais difícil será para os Democratas ganharem eleições e governarem.
Os democratas esperavam que a sabedoria superior das suas políticas gerasse resultados que convencessem os camponeses a largar as forquilhas e as tochas. A “economia Biden” faria com que os americanos se sentissem mais prósperos em casa, enquanto uma política externa astuta, esclarecida e centrada em alianças tornaria o mundo novamente num lugar mais seguro. Acontece que a “economia Biden” não está a ter o efeito previsto. A inflação e as elevadas taxas de juro necessárias para a suprimir enfureceram uma parte fulcral dos eleitores, tal como as posições controversas da administração sobre imigração, género, crime e alterações climáticas. A sensação de crescente perigo internacional fez com que os ataques de Trump à fraqueza dos democratas ressoassem entre os eleitores preocupados que não vêem um mundo a regressar a uma normalidade estável.
O atentado expôs outro problema com a estratégia democrata. Transformar Trump num composto tóxico tem sido o tema central da retórica da campanha democrata durante todo o ano. Compará-lo a Hitler e apelidá-lo de cobarde, traidor e uma ameaça existencial à democracia (por mais que esta última seja plausível) têm sido os pontos de discussão dos democratas. Esta estratégia resultou num efeito de bumerangue, uma vez que, após o atentado, a retórica democrata anti-Trump parece agora mera demagogia irresponsável que empurra imprudentemente a nação para a crise política e estado de pré-conflito civil.
Depois do atentado falhado, a América tornou-se novamente numa nação mais Jacksoniana, e Donald Trump ergue-se como seu tenebrosamente indiscutível porta-estandarte.