Antigamente, a obra de arte estava ao alcance do discernimento de qualquer pessoa, porque estava directamente relacionada com o conceito de beleza. Era o tempo em que imperava a estética aristotélica, a estética da beleza. E o que distinguia o génio do homem comum era precisamente o facto de aquele conseguir conceber coisas belas, dignas de admiração e que demonstravam talento.
Hoje, porém, já ninguém se atreve a bater palmas ou elogiar o que quer que seja sem antes ouvir a opinião abalizada da elite dominante. Porque, sem a sua opinião, ninguém sabe se está perante um monte de entulho, uma obra de arte ou se ela sequer existe, porque pode ser invisível.
Ainda recentemente o artista italiano Salvatore Garau vendeu uma escultura invisível com as dimensões de 150cm x 150cm, denominada “Yo soy” (“Eu sou”) por 15 mil euros. Já tinha visto quadros com uma tela em branco e concertos musicais onde a orquestra não tocava qualquer nota, cabendo ao espectador pagante imaginar a melodia que quisesse. Mas uma escultura invisível nunca tinha visto… Aliás, nem eu, nem quem a comprou, caso contrário não era invisível.
Não há muito tempo, em Frankfurt, os homens do lixo resolveram atirar para o incinerador a obra de arte de Michael Beutler colocada numa rua da cidade. É certo que a cidade ficou mais limpa, mas o presidente da Câmara ficou ofendidíssimo com os funcionários camarários por não terem reconhecido nuns desperdícios de construção civil uma obra de arte. No entanto, se os homens do lixo se tivessem cruzado com o Moisés ou o David de Miguel Ângelo de certeza que não os confundiriam com um bocado de entulho.
Hoje vivemos na Era do Vazio pelo que as obras de arte reproduzem precisamente o absurdo do mundo em que vivemos. No entanto, não se iluda, estimado leitor! Ainda que qualquer um de nós consiga fazer uma escultura invisível, uma sinfonia sem tocar uma única nota ou uma pintura sem pintar nada, isso não transforma o Nada que (não) produzimos numa obra de arte. É necessário o certificado de qualidade emitido pela elite dominante.
As principais instituições das sociedades abertas foram tomadas por uma elite, que tem as suas raízes no colectivismo igualitário e para quem a arte sempre esteve ao serviço da ideologia. E como esta elite pretende impor ao cidadão comum uma mundovisão cultural que é contrária ao que a maioria das pessoas espontaneamente pensa, a Arte do Vazio tem precisamente por objectivo levar a cabo uma verdadeira lavagem ao cérebro no melhor estilo estalinista. Com efeito, a Arte do Vazio e do Absurdo é uma das formas mais eficazes não só de inibir a maioria das pessoas, designadamente as pessoas mais instruídas, de dizerem o que pensam, como também de as colocar ao seu serviço, fazendo-lhes crer que o seu estatuto social depende da sua capacidade de reproduzir, como um papagaio, os gostos e as convicções da elite dominante.