Então parece que a UTAO encontrou 255 milhões de euros a mais no Orçamento de Estado, camuflados no meio daquela algaraviada de números? Julgo que o termo técnico usado pelos contabilistas da UTAO para se referirem a descobertas deste tipo é: cucu!

Pode parecer bizarro, mas não é impossível encontrar dinheiro assim. Já me aconteceu enfiar a mão no bolso de umas calças que não uso há muito tempo e encontrar uma nota de 20 euros. Foi o que aconteceu a Mário Centeno, só que com um bocadinho mais de notas de 20 euros. Quando encontro dinheiro sem estar à espera, pago uma rodada de cervejas aos amigos. Com 255 milhões, o Ministro das Finanças vai poder pagar bastantes rodadas ao Bloco de Esquerda e ao PCP, quando estiverem a negociar a aprovação do Orçamento. Estes 255 milhões vieram mesmo a calhar, é uma rica coincidência. Centeno vai conseguir os votos necessários, sem estragar as contas. É uma espécie de ovo da Páscoa, um docinho que Centeno escondeu para o BE e o PCP acharem quando vierem com as suas exigências de, digamos, açúcar.

Portanto, ao que tudo indica, o Governo tem uma reserva secreta para negociar clandestinamente, sem que isso apareça nas contas oficiais. E ainda dizem que António Costa não aprendeu nada com José Sócrates. É que, ou muito me engano, ou isto é um saco azul orçamental. (Neste caso, azul porque é a cor com que ficam os contribuintes asfixiados). Só falta ter o motorista João Perna a andar de um lado para o outro, a entregar as propostas aos comunistas e bloquistas.

Centeno não é o Ronaldo das Finanças, é o Luís de Matos dos Orçamentos. Prepara-se para fazer aquele truque de magia que consiste em tirar moedas detrás das orelhas de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa.

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Resumindo: o Ministro que tutela a máquina fiscal que passa o dia a tentar descobrir se os portugueses têm mais dinheiro do que o que declaram, tem mais dinheiro do que declara. Era giro que, ao entregar o Orçamento ao Presidente da AR, Centeno fosse parado numa daquelas operações stop organizadas pela Autoridade Tributária e lhe esquadrinhassem a pen à procura de receitas ocultas. Para o ano, vou apresentar o IRS com uma rubrica chamada “igual ao que o Governo usa no OE” e enfio lá a maior parte dos meus rendimentos.

Além dos partidos a quem é apresentado, este Orçamento engana os portugueses em geral. Promete que vai haver muito mais investimento e que, em troca, só precisamos de pagar um poucochinho mais de impostos. Ou seja, o Governo garante que vai haver muito dinheiro para termos um bom SNS no futuro, se adiantarmos uma pequena verba agora. Não é a primeira vez que me fazem uma proposta deste tipo. A diferença é que, até agora, a proposta não me chegava num documento oficial do Estado, chegava num mail assinado por um Príncipe Nigeriano. Em ambas, o dinheiro prometido nunca aparece, fica cativado.

Outra diferença é que o Príncipe Nigeriano pede sempre o mesmo valor para desbloquear a tal fortuna inventada. Já o Governo, vai pedindo cada vez mais. Em 2020, a carga fiscal volta a aumentar. Outra vez. O ano passado, 34% da riqueza criada foi taxada pelo Estado. Este ano, vão ser 35%. O Ministério das Finanças diz que é um aumento de impostos positivo, porque significa que há mais riqueza a ser produzida. Ou seja, o Governo quer convencer-nos que no ano passado cada contribuinte apanhava 34 chibatadas nas costas e este ano vai apanhar 35, mas isso é bom porque, como estamos mais anafados, a gordura absorve o impacto e acaba por não doer tanto. Esquece-se é de dizer que em 2020 o carrasco também está mais forte e a cana é mais grossa. E tem de se esperar muito tempo por um médico para tratar do lombo.