Já é consensual e reconhecida pela opinião pública a importância do sono noturno como uma necessidade biológica, um momento de “carregar as nossas baterias”, um tempo em que acontecem inúmeros processos biológicos essenciais para equilibrar a nossa função cognitiva, cardiovascular, imunológica e metabólica.

Além da duração correta, para ser saudável, requer boa qualidade, “timing” adequado, regularidade e ausência de distúrbios. A privação crónica do sono está associada a um maior risco de mortalidade e contribui tanto para o risco individual como para o impacto social associado a várias epidemias médicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e cancro.

Embora as necessidades individuais variem, a Fundação Americana do Sono recomenda, para promover uma saúde ótima, 7 a 9 horas de sono, por noite, para adultos – e 7 a 8 horas, por noite, para adultos mais velhos.

E as sestas? Haverá vários tipos? Como se sabe, são episódios curtos de sono diurno que foram conservados em diversas espécies ao longo da sua evolução, desde as moscas até aos mamíferos. São também um fenómeno multifacetado e intercultural que ocorre ao longo da vida. É muito variável a frequência com que as pessoas dormem sestas, bem como as melhorias daí experimentadas no estado de alerta e no bem-estar.  Enquanto na infância devem ser consideradas parte da rotina diária, nos adultos devem ser bem analisadas.

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Os adultos decidem fazer uma sesta por, pelo menos, cinco razões, seja devido à falta de sono noturno na quantidade suficiente, a chamada sesta de substituição, seja na preparação de privação de sono prevista, a sesta profilática, ou apenas por diversão, incorporando-a na rotina, a sesta apetitosa. Por outro lado, pode ocorrer por existir sonolência diurna excessiva, devido a uma variedade de patologias do sono, a sesta restauradora – ou, ainda, a sesta emocional, em resposta a um humor negativo, devido a depressão ou tédio, para evitar o trabalho ou uma situação social.

Outra noção importante é a de que, em pessoas saudáveis, que dormem um sono noturno em quantidade suficiente, pode ser benéfico uma sesta fisiológica e apetitosa. Além disso, as profiláticas podem ter um efeito menos variável e mais prolongado do que a cafeína e, se associadas, o efeito é superior do que as duas isoladamente.

E quais os benefícios nos adultos mais velhos sem patologias do sono?  A frequência é muito mais elevada na população com mais de 75 anos, com mais de 53% das pessoas a dormirem sestas pelo menos 2 vezes por semana.  Neste grupo etário é reconhecido que, uma combinação de 30 minutos de sesta e exercício de moderada intensidade durante a tarde, melhora a qualidade do sono, a sonolência diurna excessiva e a função cognitiva. Contudo, se forem longas, superiores a 90 minutos, podem ter efeitos contrários nestes grupos etários.

É importante sublinhar que, no entanto, os idosos com problemas de saúde, podem fazer sestas frequentes e, involuntariamente, “passar pelas brasas” por mais tempo, durante o dia, para combater a sonolência diurna excessiva e a fadiga causada por comorbilidades e os medicamentos, fazendo a chamada sesta restauradora.

Nesse sentido, as frequentes ou prolongadas também podem ser um sintoma de condições crónicas existentes. Frequentes não intencionais ou mais longas contribuem para comportamentos sedentários e para a diminuição do envolvimento social, que são fatores prejudiciais conhecidos para a saúde cognitiva dos idosos. Uma série recente de estudos epidemiológicos em adultos mais velhos, demonstra alguns resultados de saúde surpreendentemente prejudiciais das sestas, incluindo o aumento do risco de doenças cardiovasculares, de demência e mortalidade.

Já em adultos jovens saudáveis, sem privação do sono, as sestas de entre 10 e 20 minutos parecem ter os maiores benefícios, com a melhoria imediata do desempenho no trabalho, sem o impacto da “inércia do sono” – um estado confusional, com dificuldade em pensar e executar, que demora algum tempo a desaparecer e que acontece nas de maior duração, com mais de 30 minutos. As sestas onde se atinge o sono REM (Rapid Eye Movement), que é o mais profundo, podem ter maior impacto em atividades subsequentes envolvendo a aprendizagem e a memória. Para quem tem patologia do sono associada a sonolência diurna excessiva, a duração parece ter de ser maior para obter a redução dos sintomas.

Por tudo isto, se as sestas fazem parte do seu dia-a-dia, certifique-se que são benéficas e não uma manifestação de alguma patologia do sono. Neste caso, não hesite em consultar um profissional de saúde na área do sono.