Aceitar uma existência vegetativa cumprindo ordens de confinamento de cortesãos e sucumbir maquinalmente ao medo da morte e temor da doença é moralmente desprezível e uma subversão ao sentido da Páscoa.
Num país de antiga e forte tradição católica não deixa de surpreender a falta de sensibilidade à doutrina basilar de que a Vida é um dom de Deus e deve ser vivida por meio do trabalho, do funcionamento em comunidade, através da cooperação e trocas voluntárias, utilizando e orquestrando saberes e recursos que sejam valorizados por terceiros.
Certamente, o sofrimento e imperfeições são reais, assim como não estamos a salvo de enfermidades e aflições várias. Todavia, na Páscoa celebra-se a Ressurreição de Cristo e os crentes encontram nela significado para a sua Fé. Os não crentes talvez possam ser convocados pela semana pascal a renovar a convicção da vitória da Vida sobre a morte e a compensar as suas angústias e desesperança no conforto do testemunho desta dimensão transcendental que as escrituras relatam.
Mais de um ano passado desde o surgimento da Covid-19, muitos – demasiados – continuam como que entregues às trevas e ao pavor do fim do mundo. A incompetente e imoral gestão que os nossos políticos têm feito da coisa pública em nome de um suposto objectivo de cuidar da nossa saúde, passou, entre outras medidas, pela proibição e restrições várias às celebrações eucarísticas e outras liturgias e manifestações de Fé. Incompreensivelmente, também a Conferência Episcopal Portuguesa tudo tem feito para servir e obedecer mais ao Estado do que olhar a Deus e seguir os Evangelhos.
O apagar e silenciar da dimensão espiritual da vida das pessoas e da crença na imortalidade da alma ajudou a uma maximização e distorção do real risco do vírus da Covid-19 e à generalização de uma submissão voluntária às mais grotescas e estúpidas limitações às nossas liberdades.
A Vigília Pascal é uma festa de luz e libertação. Faz falta a ateus, agnósticos e crentes ver para além da escuridão a que nos querem condenar quem está em posição e exercício do poder. Torna-se inadiável libertarmo-nos de confinamentos físicos e espirituais.
A Bíblia diz-nos que a morte foi superada e o sepulcro de Cristo escancarado com a ressurreição. Assim, também todos nós tenhamos por estes dias a força para sair de casa e nos juntarmos em família. Um sobressalto cívico que seja uma obediência à Vida.
Santa Páscoa!