«A melhor forma de controlar um povo e controlá-lo em absoluto é retirar um pouco da sua liberdade de cada vez, erodindo direitos de mil e uma diminutas e quase impercetíveis maneiras. Assim, as pessoas não sentirão a perda desses direitos e liberdades até um ponto em que essas mudanças já não poderão ser revertidas». Esta citação circulou abundantemente nas redes sociais, mas foi erradamente atribuída a Adolf Hitler. Mesmo que nunca a tenha escrito no Mein Kampf nem conste que alguma vez a tenha proferido, quem a lê reconhece o nazismo implícito na mesma. É verosímil.

A supressão da liberdade individual por meio da aplicação de coerção física directa e ostensiva é um meio pouco sofisticado e, a prazo, insustentável de manter pois fomenta resistências e boicotes. Já a manipulação, condicionamento psicológico e controlo comportamental que assente na persuasão ao consentimento por parte da maioria das pessoas, permite a manutenção mais prolongada do status quo.

É num estado de “amor pela servidão” – como lhe chamou Aldous Huxley – que estamos há 20 meses, desde que nos impingiram uma narrativa de medo a um bicharoco chinês. Os governantes e políticos, em pânico por não conseguirem aceitar a sua impotência perante um fenómeno natural que é uma epidemia respiratória que se transmite por todo o mundo, repetidamente colocaram a sociedade em stress psicológico através de políticas e declarações públicas próprias de perigosos demagogos que, amplificadas à escala planetária por uma comunicação social rendida a “jornalismo” de causas e desejosa de drama e tragédia para atingir shares de audiências, coloca as decisões dos nossos dirigentes no limite de se poderem considerar terrorismo de Estado.

Mas o terror deixa o povo manso e dócil e se combinado com a perspetiva ilusória de esperança no relaxamento das normas (“duas semanas para achatar a curva”; “contenção para salvar o Natal”; “restrições só até a vacina chegar”, etc.) é um método quase infalível de dissolução da sociedade e de aceitação generalizada de tudo o que seja determinado por quem está em posição de poder.

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É neste quadro que a oligarquia controladora, aproveitando o estado de alucinação e hipnose colectivas que vivemos, introduz o mecanismo de segregação social proto-nazi da obrigatoriedade do certificado cov19 para inúmeras actividades da vida quotidiana, excluindo na práctica os não-vacinados da vivência em comunidade. Para tal é invocado o pretexto da defesa da saúde pública. Mas o conceito de “saúde pública” não pode ser questionado e tudo é tratado como uma questão meramente técnica só ao alcance do discernimento de uns eleitos. Porém, todos os efeitos colaterais de ordem económica, social e política são totalmente esquecidos e convenientemente negligenciados.

Como escrevia recentemente Lord Sumption, não havendo limites ao que uma maioria assustada pode legitimamente impor aos outros e na ausência de escrúpulos morais na busca do que se pensa ser um bem público, os seres humanos são reduzidos a meros instrumentos de política de Estado. Ultrapassada esta linha de decência e de moral, deixamos de viver numa sociedade aberta.

Os certificados cov19 não são um instrumento benigno e dizerem-nos que não há alternativa ao passaporte sanitário para um regresso ao “velho” normal é falso. O que possa parecer à primeira vista uma mudança trivial nas nossas vidas é, na verdade, uma perversão de uma sociedade livre e democrática. É transformar uma sociedade com indivíduos naturalmente livres, numa sociedade em que são os organismos do Estado a conceder a seu critério permissões de liberdade condicionada. É uma alteração profunda e radical da nossa civilização, em que a liberdade individual fica limitada àquilo a que for dada explícita permissão.

Ademais, é fácil de ver o plano inclinado ou mesmo o precipício a que a aceitação do certificado cov19 nos levará. Hoje são pedidas duas doses de vacina, em breve serão exigidas três e quatro e cinco. No Reino Unido, por exemplo, já todos os adultos passarão a ser inoculados de três em três meses. Em breve o fascismo sanitário chegará ao comportamento dos obesos, depois dos fumadores e seguidamente dos apreciadores de bebidas alcoólicas e a todos os que quem está no pináculo da pirâmide social determine serem úteis remover da sociedade ou passíveis de ser castigados pela sua não-conformidade às regras estabelecidas.

Os certificados nada têm que ver com a saúde pública e muito menos com a saúde de cada um de nós. Trata-se tão somente de um passo muito relevante para a institucionalização da segregação social e a demonização de grupos de pessoas. Quem manda e promove este tipo de cultura vê o mundo de forma maniqueísta, separando pessoas sujas das limpas, irresponsáveis das responsáveis, maus cidadãos dos bons cidadãos.

A Covid19 tem, no entanto, uma grande virtude que é a de expor o autoritarismo e sentimento de vingança repreendida que estavam latentes e escondidos em tanta gente.

Todavia, acusar sem qualquer base científica uma minoria de pessoas de colocar em perigo a restante população e de serem assassinos em potência é aceitar o alibi da tirania permitindo a que quem está no poder controle o comportamento das pessoas, ao mesmo tempo que distribui um bálsamo ilusório de boa consciência à maioria colaboracionista com a infâmia dos certificados sanitários.

É lógica da barbárie manter um bode-expiatório para que os bárbaros que nos governam evitem no futuro ter de se confrontar com a sua consciência e os remorsos de um sentimento de culpa interior que os desassosseguem a prazo.

A patifaria de considerar o que já é uma doença endémica uma “pandemia de não-vacinados”, tal como fazem alguns comentadores televisivos, além de uma desonestidade intelectual primária e uma ignóbil acusação é uma antecâmara para a criação de castas na população.

Mas revela também que os políticos e as classes dirigentes estão aflitos e receosos de que o actual ainda pequeno grupo de gente que mantém espírito crítico sobre a vertigem maníaca dos governos em criarem estados bio-securitários e os ainda escassos grupos de portugueses que mantêm a sua tenacidade na defesa da liberdade venha a tornar cada vez mais evidente a covardia pandémica e expor os atentados e crimes que têm vindo a ser cometidos desde Março de 2020.

Embora as notícias não passem nas televisões portuguesas nem nos jornais nacionais, são já muitas centenas de milhar de pessoas que por essa Europa fora vêm todos os dias para a rua em defesa da sua dignidade enquanto seres humanos, manifestando repúdio pelas restrições imorais às suas liberdades.

A condição humana nem sempre é bonita e a preservação da liberdade individual por vezes exige dizer coisas pouco simpáticas para que possamos assistir a uma regeneração e voltemos gradualmente a uma sã convivência.

Se a verdade deixa algum leitor incomodado, então culpe a mentira que o deixa confortável.